Prefeitáveis avaliam paz entre Anthony Garotinho e Arnaldo Vianna
Edmundo Siqueira - Atualizado em 17/04/2024 15:51
Garotinho se encontra com Arnaldo Vianna (Fotos: Rodrigo Silveira)
Garotinho se encontra com Arnaldo Vianna (Fotos: Rodrigo Silveira)
“Ele é uma pessoa muito doce no trato pessoal. Muito carinhosa. Então, essas coisas [divergências políticas] são para ser superadas. A gente tem é que olhar para frente”. Foi assim que o radialista e ex-governador Anthony Garotinho definiu o médico e ex-prefeito de Campos, Arnaldo Vianna, durante entrevista no programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, na primeira sexta-feira de abril, dia 5. Garotinho confirmava que, ao sair da rádio, encontraria Vianna para “lhe dar um abraço” e “conversar sobre política e sobre a vida”.
O encontro de fato aconteceu, no apartamento de Arnaldo Vianna, no Jardim Maria Queiroz. Também estavam presentes Caio Vianna, filho de Arnaldo, e sua mãe, Ilsan, além da atual esposa de Arnaldo, Edilene Vianna. Em um dos registros do encontro, Garotinho e Arnaldo aparecem sentados, lado a lado, praticamente na mesma posição, em um sofá forrado por um lençol. Os dois estavam vestindo camisa polo e calça jeans. Ambos ouviam atentamente Ilsan. Em outro, nas redes sociais de Garotinho, os históricos políticos campistas aparecem diante de uma farta mesa de café dando as mãos, simbolizando a reaproximação e uma nova aliança.
Garotinho e Arnaldo já foram amigos e aliados políticos antes. Depois do rompimento, oficializado nas eleições municipais de 2004, onde eles ocuparam palanques opostos e trocaram ofensas, eles mantiveram o distanciamento pessoal e político, que durou mais de 20 anos.
Na eleição de 1996, Garotinho e Arnaldo Vianna andaram juntos, tendo o médico sido vice do radialista. Na época, a chapa era favorita, e venceu fácil no primeiro turno após disputar contra Rockfeller de Lima, José Claudio de Oliveira e Luciano Carneiro. Dois anos depois da vitória, Garotinho renunciou ao cargo para disputar a eleição para governador, da qual saiu vencedor, e Arnaldo assumiu como prefeito da cidade. Na eleição seguinte, no ano de 2000, Arnaldo foi reeleito, com Geraldo Pudim como vice.
O café que selou a reconciliação dos grupos dos Vianna e dos Garotinhos foi comemorado pelos apoiadores. Wladimir, filho de Garotinho e atual prefeito de Campos, chamou o encontro de “o café do século”. Garotinho, pai, disse que ali estaria marcado um “novo tempo”, de “harmonia e paz”. Porém, para a oposição e para boa parte dos pré-candidatos à prefeitura, o café foi amargo. Considerado como uma atitude politiqueira e oportunista, os políticos campistas que não gostaram do encontro lembraram que Edilene Vianna, atual esposa de Arnaldo, foi nomeada como assessora especial do gabinete do prefeito Wladimir Garotinho, logo depois.
O que representa a reconciliação de antigos rivais, representantes máximos de dois dos grupos políticos mais importantes de Campos, às vésperas da eleição? Até onde o encontro pode ser visto como um exemplo a ser seguido de cordialidade e paz, em tempos de ódio e violência? Maturidade ou oportunismo? Com a palavra, os personagens que colocam açúcar, e os que acharam o café frio e amargo servido pelos Vianna e Garotinhos. Os pré-candidatos Carla Machado (PT) e Clodomir Crespo (DC) foram procurados, sem êxito.
Wladimir Garotinho
Wladimir Garotinho / Divulgação
“É a reaproximação dos grupos que mais tem serviços prestados à cidade de Campos, que entendem que o momento é de unificar esforços para o bem da sociedade. O momento de brigas e divisões já passou, uma lástima alguns não entenderem que o momento é de união e crescimento para recuperar o tempo perdido na gestão Diniz. Na verdade é uma lástima ter vários candidatos sendo usados como marionetes de uma única pessoa, deixando suas carreiras e trajetórias. Basta uma rápida análise do cenário que verá que ao menos quatro pré-candidatos têm o mesmo apadrinhamento, daquele que não tem voto e nem coragem de disputar. A única intenção é dividir e atrapalhar a cidade que está em pleno crescimento como mostram todos os dados oficiais”.
Wladimir Garotinho - atual prefeito e pré-candidato à reeleição pelo PP
Alexandre Buchaul (sem partido)
Alexandre Buchaul (sem partido) / Folha da Manhã
“Afastamentos e aproximações de adversários aparentemente impossíveis de acontecer são comuns quando se trata de políticos e partidos sem nenhuma identidade ideológica. O diálogo e a composição são sempre bem vindos quando se dão com transparência e na busca pelo interesse no bem comum. E, apesar de ambos serem beneficiários do mesmo assistencialismo populista, não vejo questão programática, mas tão somente interesses particulares impublicáveis como motivação para esse acordão. A quase imediata nomeação da madrasta de Caio em um cargo na Prefeitura é exemplo do que combatemos”.
Alexandre Buchaul, pré-candidato pelo Novo
Professor Jefferson no estúdio da Folha FM 98,3
Professor Jefferson no estúdio da Folha FM 98,3 / Isaías Fernandes
“É sempre delicado analisar uma realidade complexa a partir das aparências. Porém, com muita cautela, analiso que o cálculo político de Caio possa ter ocorrido a partir da avaliação de uma provável expressiva queda de intenções de votos com relação a sua última eleição. Porém, o grupo do Caio guarda um importante ‘ativo político’: o prestígio que Arnaldo mantém na memória afetiva de parte da população. Justamente o que deve ter atraído o movimento do grupo do Wladimir, diante de um embate eleitoral que não se mostra definido e deverá ser intenso e, por isso, é preciso atrair ‘forças políticas’”.
Jefferson Manhães - pré-candidato pelo PT
Delegada Madeleine Farias
Delegada Madeleine Farias / Isaias Fernandes
“O que estamos vendo é o abraço dos grupos políticos que governaram Campos por mais de 30 anos, entre 1989 e 2024. E, mesmo com recursos bilionários, a cidade vive problemas crônicos por décadas. Transporte caótico, não atraiu grandes empresas, não gerou empregos, educação com péssimos índices, número de pessoas na extrema pobreza aumentou. Uma cidade rica que não se desenvolveu. Qual foi a herança que eles deixaram? Um legado de desperdício e falta de gestão. É hora de a população refletir. Esse debate é muito necessário”.
Madeleine Dykeman - pré-candidata pelo União Brasil
Thiago Rangel
Thiago Rangel / Divulgação
“Essa aliança após duas décadas une os responsáveis pelos maiores desperdícios da história de Campos. Farra de shows, Cepop de R$ 100 milhões, praça de R$ 40 milhões, um banheiro de R$ 30 mil que, corrigido, hoje ultrapassaria R$ 120 mil. Um acusou o outro por duas décadas e hoje estão juntinhos, fingindo que nada aconteceu. Isso é um tapa na cara da população de bem. Juntos eles administraram bilhões e temos hoje recorde de campistas na miséria, faltando até leite para crianças. Se alguém acha isso bonito, algo está muito errado”.
Thiago Rangel - pré-candidato pelo PMB
“Politicamente não vejo nenhuma dificuldade dessa aproximação. Isso faz parte da política. O que eu considero mais importante é a respeitabilidade das pessoas para com a sociedade, aquilo que será apresentado no novo pleito eleitoral. Obviamente virão os debates, os momentos que poderão conectar e dialogar com a sociedade, onde deverão ser apresentados realmente os projetos. Não tem lugar para se discutir o ódio. Não tem motivo para isso. É motivo de alegria e satisfação ver que caminhamos no diálogo, e até pela minha trajetória política, tenho um compromisso com o diálogo, com a respeitabilidade com a sociedade”.
Hélio Anomal, pré-candidato pelo PT
Jorge Magal
Jorge Magal / Folha da Manhã
“Como pré-candidato há 30 anos, vi a família Garotinho acusar o Dr. Arnaldo de muitas coisas graves. Então ver agora Caio com Wladimir, não é só a política que está em jogo. Se fosse apenas a boa política, eles não iam se unir nunca. Essa união demonstra uma fraqueza muito grande do Wladimir, e mostra uma derrota política e a má gestão do prefeito. A gente se lembra muito bem do debate que aconteceu em 2020, no 2º turno, entre Caio e Wladimir. Eles se comportaram como dois meninos em um pátio de escola. Na verdade as pessoas não tiveram opção, ou votavam no filho de Arnaldo ou no filho de Garotinho”.
Jorge Magal, pré-candidato pelo Solidariedade

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