Rosana Rodrigues: "Voltar a discutir nossa graduação"
Rodrigo Gonçalves, Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Edmundo Siqueira e Matheus Berriel 16/09/2023 09:27 - Atualizado em 16/09/2023 14:56
Rosana Rodrigues
Rosana Rodrigues / Rodrigo Gonçalves
A comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) irá escolher sua nova reitoria para a gestão 2024-2027 neste sábado (nos polos EaD) e no próximo dia 19 (nos campi), e na disputa está a professora e candidata da situação Rosana Rodrigues, que concorre na chapa 10 “UENFuturo” ao lado do professor Fabio Olivares, seu vice. Convidada do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, na última quinta (14), a atual vice-reitora de Raul Palacio defendeu que cada pessoa tem um jeito de fazer gestão. “Muitas pessoas me colocam como uma continuidade, e eu digo que nada pode ser mais diferente do que a gente colocar, hoje, uma mulher à frente da reitoria. Eu aprendi bastante nesse período”. Com a proposta de fortalecer a Uenf ainda mais na pesquisa, Rosana diz entender que é na graduação onde tudo começa e por isso precisa voltar a discutir mais o segmento e a modernização. Nos últimos meses foi difícil ouvir o nome da Uenf sem que ele estivesse associado ao Arquivo Público de Campos, cuja restauração já tem recursos empenhados na universidade desde o final de outubro de 2021. Diante das cobranças constantes da sociedade à atual gestão, Rosana diz que faria diferente na condução do processo se fosse ela a reitora. “Eu teria, talvez, iniciado as tratativas de um modo um pouco menos personalizado e talvez um pouco mais institucionalizado. Cada gestor imprime a sua marca”, comentou.
Baixa procura e evasão — Muitas vezes, o estudante entra num curso de graduação e descobre que não é aquela carreira que ele gostaria. Então, ele migra para outro curso, às vezes até em outra instituição. Na verdade, ele continua sendo aluno da graduação (...) Há uma questão de superestimação da evasão nesse sentido. Agora, tem um outro aspecto que é também importante, (...) a pandemia. Isso teve um impacto claro na vida de todos. Especialmente na educação. Houve um desestímulo muito grande para busca de algumas carreiras, e isso é o que nós devemos trabalhar. A universidade, hoje, vive um momento de virada de chave muito grande, e é importante a gente estar muito conectado com o que está acontecendo, não só na Uenf, mas em outras universidades brasileiras e mundiais. Esse efeito de uma menor procura pela graduação, é sentido em várias universidades (...) Nós vamos ter que trabalhar a modernização das nossas salas de aula, falar em sala de aula invertida, fazer ensinos baseados em projetos; tornar a sala de aula mais atrativa. E a Uenf tem total possibilidade de fazer isso, justamente por aquilo que nos é mais caro, que é a pesquisa científica, os nossos laboratórios bem montados. A possibilidade de nós atrairmos esses jovens para essas carreiras que nós temos na Uenf é muito grande. Mas, nós precisamos sair dos muros da universidade para fazermos isso. Nesse momento, a Uenf tem diversos trabalhos em escolas públicas e privadas que são parceiras. Nós criamos o selo Escola Parceira da Uenf. Temos escolas parceiras em vários municípios e a ideia é levar informação sobre a universidade de uma forma lúdica, atrativa, inteligente e interessante, para que esses estudantes não queiram só vir para a Uenf, mas cursar uma universidade pública (...) Mas, de fato, nós precisamos voltar a discutir muito a nossa graduação. A Uenf é muito forte em pesquisa, mas tudo começa na graduação. A base está ali. Então, nós precisamos ser hábeis e capazes de atrair os estudantes para a nossa instituição e para as outras universidades também, e, obviamente, garantir a questão da permanência deles. A Uenf tem um programa de assistência estudantil que, se não for o mais robusto, é um dos mais robustos do país. A Uenf exige do seu estudante de graduação tempo integral, (...) passar o dia inteiro na universidade, tendo uma imersão, uma experiência completa. Muitos dos nossos alunos, 45%, são cotistas. É importante que a gente garanta que esse estudante tenha condições de permanecer na universidade. Então, ele tem acesso ao auxílio permanência, que é uma bolsa concedida aos estudantes cotistas. Além disso, nós implantamos o auxílio moradia (...) Essas duas bolsas são compatíveis para serem acumuladas com uma bolsa de iniciação científica, por exemplo (...) Além disso, nós temos o Restaurante Universitário (...) Nesse aspecto, a gente entende que a questão da permanência está bem equacionada. Agora, o que nós discutimos bastante nos últimos dias é que não basta ele ter esse apoio financeiro para permanecer na Uenf (...) A universidade precisa, de fato, trabalhar isso de uma forma bem inteligente e bem assertiva.
Expansão — Nós entendemos perfeitamente que há um desejo muito grande, todo mundo quer a Uenf no seu município (...) É uma questão que precisa ser muito bem trabalhada internamente, pois nós temos ainda alguns cursos que estão aprovados no conselho universitário e ainda não foram implementados. A gente lembra bem que o projeto original do Darcy previa 600 docentes, para começar, e 900 técnicos. Nós nunca chegamos nem perto. Hoje, temos o maior quantitativo de professores que já tivemos na história da universidade: são 318 professores e 550 técnicos (...)para dar conta de 20 cursos de graduação, sendo quatro deles semipresenciais; 16 programas pós-graduação, dois aprovados este ano pela Caps, trazendo já um crescimento da universidade. A Uen hoje tem em torno de 7 mil estudantes: 1.100 na pós-graduação, e os demais na graduação, entre o ensino presencial e o semipresencial. E nós temos cerca de 200 projetos de extensão, que estão sendo conduzidos nos mais diferentes municípios. É um corpo bastante enxuto para a gente dar conta de tantos projetos e processos dentro da universidade. É óbvio que nós temos um desejo muito grande de expandir a universidade, de concretizarmos o sonho de chegarmos, de fato, com outros campi fora de Campos. Entendo que tem que haver um planejamento concreto para que isso aconteça, e esse planejamento tem que vir junto com a concretização do sonho de termos os 600 docentes, pelo menos, porque eu vejo hoje a Uenf muito maior do que isso (...) Nós temos ainda muitas ações para, de fato, consolidarmos dentro da instituição. E isso tudo sem deixarmos de planejar o futuro, que é, de fato, expandir a universidade. Esses passos têm que ser dados com muita firmeza e têm que ser levados a discussão dentro dos colegiados competentes, no caso, o Consuni, para a aprovação desses novos campi, dessas novas áreas. Além disso, é importante mencionar também que nós tempos o recém-criado campus Carlos Alberto Dias, em Macaé. Desejamos muito que esse campus também vire um centro baseado na questão da energia renovável, do clima. Então, a gente antevê um crescimento para a Uenf, inclusive com novas áreas, mas dentro de um projeto bastante responsável. Nós não podemos fazer promessas que sabemos que não temos condições, nesse momento, de cumpri-las, pelo simples fato de termos um corpo ainda muito enxuto de servidores.
Transporte — A proposta de nós termos um ônibus está alinhada com o que algumas outras universidades já fazem, inclusive universidades mundo afora. É um ônibus que faz uma linha exclusiva, ele não tem paradas em todos os lugares fixos. E eu digo que um ônibus é até muito pouco. A gente deveria até ter um número maior de transporte para isso. Quando a gente fala desse ônibus, essa é uma solução urgente e paliativa. O ideal seria a gente ter linhas de ônibus circulando pela cidade. Mas, eu entendo que esse é um problema que a gente precisa endereçar junto com os órgãos públicos municipais. A gente tem pessoas capacitadas para rever essa malha. Acho que a gente precisa dar suporte e estimular que mais ônibus façam esse transporte.
Solar do Colégio — Primeiro, vamos situar o seguinte: o Arquivo Público Municipal está lá no solar por uma iniciativa da própria Uenf (...) Eu entendo também que, por isso, quando a Uenf foi chamada para fazer parte dessa tríplice aliança para, de fato, trabalhar na recuperação de um prédio da importância do solar, ela não poderia ter agido de outra forma a não ser se prontificar a fazer esse trabalho. Entendo isso como uma iniciativa muito ousada da universidade (...) De fato, é um desafio muito grande, para quem está numa instituição pública, executar esses recursos da forma que, infelizmente, o excesso de burocracia exige. O dinheiro veio para a universidade, mas não numa conta que o reitor movimenta. Ele tem que passar por todos os processos licitatórios legais que são necessários para o cumprimento do dever do gestor público. Então, é óbvio que, se fosse da vontade particular de um gestor, rapidamente esses problemas seriam todos resolvidos. O trabalho que é feito lá pela Rafaela (Machado) e a equipe dela é um trabalho brilhante de resgate, de restauração desse material. É incrível! Eu acho que todo mundo deveria ter a oportunidade de ir lá visitar. (...) O que mata o serviço público hoje no país é a burocracia excessiva. Nós temos uma legislação pesada, que nos impede de fazer esse uso rápido dos recursos. Nós tivemos que entender muito bem como fazer para, de fato, ter um projeto licitado. Isso depois de muitas conversas. Foi montado um grupo de trabalho para equacionar essas etapas e, de fato, foi um período longo, mas um período que foi necessário para a gente compreender os ritos legais de você contratar um projeto aprovado pelo Iphan. Não pode ser qualquer projeto, o prédio é tombado pelo patrimônio. Então, nós temos que ter autorização dos técnicos do Iphan para, na sequência, a gente poder licitar a obra. Entendo que a gente está numa fase intermediária ainda, mas entendo também que vamos ter a restauração completa do prédio dentro das normas legais, sem criar nenhum constrangimento nem para a Prefeitura nem para a universidade (...) Entendo que a comunidade está ansiosa por ver esse prédio restaurado, e eu espero que ele seja o primeiro de vários outros. Espero que esse modelo que a gente está construindo de recuperação de um prédio público tombado pelo Iphan seja utilizado em outros que têm a mesma relevância e que precisam ter o mesmo trabalho cuidadoso, tanto do ponto de vista arquitetônico, de tratamento, quanto pelo ponto de vista de rito legal sem tornar isso um problema no futuro aos gestores (...) Cada pessoa tem um jeito de fazer gestão. Muitas pessoas me colocam como uma continuidade, e eu digo que nada pode ser mais diferente do que a gente colocar, hoje, uma mulher à frente da reitoria. Eu aprendi bastante nesse período. Antes da vice-reitoria, ocupei a pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação. Antes, ocupei a coordenação de programa. Em cada etapa dessa, eu fui aprendendo, obviamente, esse trato, não só da coisa pública, mas também as inter-relações pessoais com os poderes. Em alguns momentos, as pessoas me perguntavam e ainda me perguntam o que eu faria diferente. Digo que várias coisas. Eu teria, talvez, iniciado as tratativas de um modo um pouco menos personalizado e talvez um pouco mais institucionalizado. Cada gestor imprime a sua marca, cada gestor deixa o seu legado, e eu entendo que, nesse caso, o compromisso assumido não só com a gestão do solar, não só com a Prefeitura de Campos, mas principalmente com a população, com a comunidade que deseja ver prédio restaurado, ele é muito importante e precisa ser assumido pela próxima gestão da universidade. Nós não podemos deixar de ter uma solução de continuidade dentro desse processo da restauração do solar.
Villa Maria — Tivemos uma experiência na obra de recuperação da Casa de Cultura Vila Maria. Foi um processo que durou oito meses. A casa está belíssima. De fato, ela é o cartão de visitas da Uenf hoje. E, mesmo antes do processo de término da obra, nós continuamos fazendo uma série de eventos. Neste momento, nós estamos, inclusive, realizando cursos de produção cultural, porque, agora, sim, com a casa totalmente recuperada, nós podemos, de fato, ofertar à população, não só de Campos, mas do território Norte, Noroeste e de outros locais, atrair essas pessoas para cursos de treinamento e capacitação na área de produção audiovisual, rádio, cinema. Isso é um filão incrível para todo esse território. Temos um compromisso muito forte de mantermos uma diretoria cultural, de termos a Casa de Cultura Vila Maria, assim como Cine Darcy, o Darcyzinho e outros equipamentos culturais da universidade abertos para a comunidade, tanto do ponto de vista de pesquisa, que é o que temos de acervo na Casa de Cultura hoje, mas também do ponto de vista de treinamento e capacitação, e de um uso do espaço, que seja acessível para a população de toda essa nossa região.
Inovação e pesquisa — Para nós, a inovação é um ponto que precisa ser muito trabalhado dentro da nova gestão. Nós precisamos ter uma ação bem efetiva de reestruturação da nossa Agência de Inovação. A TEC Incubadora faz um trabalho fantástico junto com a Uenf, ela é nossa parceira. Nós temos, hoje, na universidade, 23 startups, que são empresas de base tecnológica que nascem a partir das pesquisas conduzidas pelos nossos estudantes de pós-graduação, e parte delas já se graduou dentro da TEC Incubadora, já estão aí alçando voos. A ideia é a gente trabalhar junto à incubadora e também o parque tecnológico. Neste momento, nós temos uma obra em andamento, também através de uma ação junto à Faperj, para instalar o parque tecnológico agropecuário da universidade, o Partec Agro, onde estarão essas empresas de base tecnológica relacionadas com os bioinsumos e com outras empresas relacionadas com a área biotecnológica voltadas para a agricultura. A gente espera que isso seja um embrião de um hub de inovação que possa, de fato, suprir essa capacidade de transformar a nossa pesquisa em produtos tecnológicos e, de fato, em inovação, que é o produto que chega para a sociedade (...) Eu acho que ainda falta um pouco de visibilidade para essas medidas de interação da Uenf com a sociedade (...) E nós precisamos, sim, sempre melhorar a nossa comunicação com a sociedade. Acho que essa vai ser uma preocupação nossa.
Relação com os Poderes — Nós temos um grande orgulho de estarmos aqui nesse território, então, nós precisamos construir relações sólidas, republicanas e muito abertas e transparentes com o poder público municipal. Nós devemos a esse desenvolvimento regional que tanto a universidade propaga que foi criada para promover. Isso não pode ser feito sem uma parceria sem os governos municipais. Não é só em Campos, mas São Fidélis, São João da Barra, São Francisco, todo o Norte e Noroeste Fluminense. Nós precisamos ter, sim, uma boa relação com esses parceiros, com esses gestores. Além disso, como ente estadual, precisamos também estabelecer um ótimo relacionamento, um ótimo diálogo, não só com o Legislativo, mas com o Executivo. E eu acho que a gente vem caminhando relativamente bem nessa área. Tanto é que os nossos esforços para termos reconhecidos os nossos direitos em relação aos auxílios que foram pagos, todas as contas hoje da Uenf estão em dia (...), ainda que nós não tenhamos os tão sonhados duodécimos. Essa é uma pauta de luta, que tem que estar presente. Seja lá quem for assumir a universidade daqui para frente, nós precisamos resgatar a questão dos duodécimos. A lei está sancionada, mas não existe regulamentação. Então, hoje, nós não temos ainda a tão sonhada autonomia financeira coisa. A gente vai ter que fazer um trabalho para a liberação dos duodécimos. Então, são sempre pautas de importância, que são prioridades para a reitoria e precisam ser encaminhadas de uma forma bastante consistente e robusta (...) A gente precisa construir diálogos e pautas que impactem positivamente na universidade e que vão além do Executivo e do Legislativo estaduais. A gente precisa se conectar também com os órgãos federais.

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