Rio Paraíba do Sul no centro das discussões sobre segurança hídrica
Éder Souza - Atualizado em 07/12/2024 11:25
Rio Paraíba do Sul, em Campos
Rio Paraíba do Sul, em Campos / Foto: Rodrigo Silveira
A água do Rio Paraíba do Sul, que percorre 1.150km, passando por Minas Gerais, até desaguar no Oceano Atlântico em São João da Barra, é responsável pelo abastecimento de mais de 400 mil pessoas em Campos. O principal manancial do Estado do Rio também é responsável pela diluição de esgotos, irrigação e geração de energia hidrelétrica.
Entre cheias e secas no decorrer dos anos, o cenário atual do Rio Paraíba do Sul é preocupante. Em um ano de poucas chuvas e baixa vazão, os impactos são muitos, como por exemplo, o aparecimento e a proliferação de algas, que geram a substância geosmina, que deixaram a água distribuída aos campistas com gosto ruim e mau cheiro.

O Rio Paraíba tem sido tema de palestras e diversas discussões que abordam a segurança hídrica, como os dois seminários que foram realizados no início deste mês no IFF Campus Centro. Nos encontros a programação foi voltada para uma reflexão aprofundada sobre o tema da água, seus usos e a necessidade de cuidar desse recurso vital para a humanidade.
Preocupação com o Rio Paraíba
Preocupação com o Rio Paraíba / Foto: Rodrigo Silveira
"Os eventos ajudam a trazer a discussão e debate. Muitas vezes, a partir dessas apresentações, os debates trazem especialistas no tema, trazem diagnósticos e as consequências que estão acontecendo no ambiente, na região. O que que isso contribui para mitigar, minimizar os impactos da segurança hídrica? Práticas. O uso da água, os cultivos, os investimentos e até mesmo risco de investimentos. Então, tudo isso ajuda na discussão. É lógico que não resolve, mas ajuda a pautar investimentos, pautar discussões na Câmara, no Comitê da Bacia, nas câmaras técnicas e nas reuniões das discussões ambientais. Dessa forma é possível desencadear medidas que sejam favoráveis a mitigação dos impactos da segurança hídrica, impedindo muitas vezes prejuízos maiores”, explicou o professor Vicente Oliveira, que é diretor do Polo de Inovação do IFF Campos.

No último dia 22, o Ministério Público, por meio da Promotoria de Investigação Penal, se reuniu com a Prefeitura de Campos para discutir medidas de segurança hídrica do município e atualizar as informações sobre a investigação do caso do aparecimento da geosmina no rio Paraíba do Sul. Convocada pelo promotor de Justiça Fabiano Rangel Moreira, a reunião contou com a participação do vice-prefeito Frederico Paes, além de representantes da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e do Comitê de Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana.
A reunião foi convocada pelo promotor Fabiano Rangel
A reunião foi convocada pelo promotor Fabiano Rangel / Foto: César Ferreira/Divulgação
“Existem questões políticas, questões que devem ser levadas à opinião pública e acredito que, depois dessa reunião, a gente vai conseguir trabalhar com a técnica e com o empenho político necessário ao enfrentamento do problema”, explicou o promotor durante o encontro.
No encontro, foram discutidos problemas hídricos do município levantados pelo Ministério Público e sugeridas ações possíveis para viabilizar melhorias à população. Para o vice-prefeito Frederico Paes, a reunião foi importante para traçar planos para que os mananciais do Paraíba sejam protegidos.
“Dentro do nosso Comitê de Segurança Hídrica, discutimos possíveis ações públicas que a gente pode adotar para a proteção dos nossos mananciais, não só do Rio Paraíba, como também das nossas lagoas, e, com isso, trazer a segurança hídrica que a nossa região precisa”, disse o vice-prefeito à época da reunião.

O gerenciamento dos recursos hídricos do Paraíba do Sul é caracterizado pelos conflitos de usos e pelo peculiar desvio das águas para a bacia hidrográfica do Rio Guandu com a finalidade de geração de energia e abastecimento de cerca de nove milhões de pessoas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. De acordo com a ONG Ecoanzol, que atua desde 2005 com a gestão territorial integrada com foco em ações socioambientais, a região metropolitana retira mais de 30% de capacidade de abastecimento das cidades do interior, como Campos.

“Nós já estamos vivendo um caos, porque as vazões que são adotadas hoje, desde 2014, nos mostram com muita clareza que estamos trabalhando em vazões muito baixas. E a natureza está nos devolvendo isso nos índices que a gente já teve de cianobactérias na água. Agora, em junho, foi o pior índice que nós tivemos desde 2024 já registrado. Esse é um caos hídrico que já está instaurado na Bacia do Paraíba, essencialmente no nosso último terço, que é Itaocara x Foz. Precisamos movimentar a opinião pública para que a gente tenha o que fazer”, explicou a presidente da ONG, Luiza Salles, que também é diretora administrativa do Comitê de Bacia Hidrográfica Baixo Paraíba do Sul.

A especialista reforçou os problemas já aparentes na foz do Rio Paraíba do Sul, na cidade de São João da Barra.
São João da Barra
São João da Barra / Divulgação


“Essa região já tem problemas graves de abastecimento, porque várias vezes a Cedae é obrigada a parar o abastecimento público, porque não tem vazão para continuar. Inclusive, há projetos do Comitê da Bacia com a prefeitura (de SJB) a respeito de poços mais profundos para aumentar a vazão. É uma região que já sofre com a erosão marinha e a intrusão salina. São todos esses valores agregados que vão deixar o município sem água. Quanto mais a gente vai chegando perto do mar, mais difícil a situação vai ficando”, explicou.

Pelo menos três alternativas foram apontadas pela especialista para que a situação não se agravasse ainda mais.
“A primeira alternativa seria a construção de uma barragem em Guapiaçu, em Cachoeiras de Macacu. Essa alternativa, inclusive, é apontada em primeiro lugar no Plano Estadual de Recursos Hídricos, porque nos daria uma sobrevida. Porém, temos problemas com a região que seria inundada. Mas em virtude que do problema está instalado, e também do custo do projeto em detrimento de tirar mais uma vazão de 30 metros cúbicos por segundo, a gente está falando de coisas muito mais sustentáveis, que a gente poderia controlar mais o ambiente. Então, seria uma alternativa que vem sendo endossada pelas universidades e pelas gestões de recursos hídricos. A segunda seria a construção de uma barragem em Juturnaíba, que também poderia nos ajudar bastante. Outra seria tentar aumentar a eficiência hídrica por conta da Cedae para diminuir a perda grande de água do sistema, porque esse volume é absurdo. A gente precisa entender quais mecanismos dentro dessas alternativas, com o melhoramento de eficiência hídricas, construção do solo, construção de barragens em lugares estratégicos. Dentro de um contexto mapeado, isso já faria muito diferença no atual cenário que se encontra”, apontou.

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