Em pouco tempo, três prédios antigos de Campos são demolidos
Riscos de desabamentos, incêndios e construções centenárias que ruíram com a falta de cuidado, são fatores que evidenciam a falta de preservação dos prédios históricos na cidade de Campos. Com o passar do tempo, a deterioração dos imóveis antigos ou patrimônios são apontados pela população e órgãos responsáveis que tentam manter de pé a tradição arquitetônica do município. Nas ruas movimentadas do centro, é possível encontrar algumas dessas estruturas ou locais em que abrigavam esses móveis, dando lugar a outros espaços comerciais, em alguns casos, estacionamentos.
Na rua Marechal Deodoro, próximo ao Jardim São Benedito, a antiga Empresa Municipal de Trânsito (Emut), foi demolido, no início do ano após cair parte da fachada do prédio. Um mês depois, o Hotel Flávio, na rua Carlos Lacerda, que teve sua fachada destruída pelo fogo, foi demolido. O incêndio no prédio ocorreu em 2022, espalhando pelos três andares do imóvel e destruindo quase que completamente sua estrutura. O caso mais recente deste ano, foi o prédio da antiga padaria Minerva, localizado na rua Tenente Coronel Cardoso, a antiga rua Formosa.
Para a historiadora e coordenadora do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard, o fator cultural está perdendo espaço para o lucro.
“A visão de lucro sobre esses prédios históricos na cidade tem sido maior do que o seu valor histórico e cultural, infelizmente. O Hotel Flávio foi um exemplo dessa visão. Perdemos um prédio de grande valor histórico, principalmente para a história e do fomento ao chorinho e ganhamos um estacionamento. A preservação de prédios históricos é de extrema importância por várias razões que vão além da simples manutenção de estruturas antigas. Primeiramente, esses prédios mantêm a identidade e memória coletiva de nossa cidade, representando nossa história, herança cultural e os estilos arquitetônicos de épocas passadas. Eles servem como recursos educacionais para informar nossa história regional, como instrumentos para criar o sentimento de pertencimento na população. Gostaria que o COPPAM fosse respeitado e levado a sério. Percebo que algumas ações de demolição ocorrem à revelia do conselho”, disse a historiadora.
O conselheiro da Coppan (Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos), Genilson Soares, ressalta que com a falta de manutenção dos prédios deterioram mais rápido.
“O conjunto arquitetônico do nosso Centro Histórico é um patrimônio cultural material da Cidade. Ele reflete as memórias e tradições que distinguem a nossa coletividade. Temos um rico acervo de construções ecléticas, estilo que floresceu em Campos nas três primeiras décadas do século XX. A construção fechada se deteriora mais rápido, devido às ações das intempéries e a falta de manutenção. Hoje, muitos prédios são abandonados pelos seus donos e ficam se deteriorando até o ponto de trazer riscos para os transeuntes. É aquela máxima que o crime compensa, pois acaba o município tendo que demolir com a justificativa de não expor a população ao risco de um desabamento. O que fazemos por meio do Instituto Histórico e Geográfico de Campos é denunciar esses casos junto ao Coppam e também ao Ministério Público”, destaca Genilson.
O prédio da antiga padaria Minerva apresentava riscos a população. Com a deterioração e o passar do tempo, o imóvel já não tinha o telhado, possuía apenas as paredes em pé, mas com uma das partes escorada, o que preocupava a população, sem contar nos riscos eminentes que traziam.
Para os historiadores, embora as preservações dos prédios sejam importantes, eles ainda enfrentam desafios por ser um investimento alto para mantes e realizar a manutenção.
“A preservação de prédios históricos enfrenta muitos desafios como o custo elevado de manutenção e restauração, principalmente a pressão por desenvolvimento urbano e a falta de recursos. No entanto, estratégias podem ser adotadas para superar esses desafios, como políticas públicas que ofereçam incentivos fiscais para a restauração e preservação de edifícios históricos, colaborações entre o setor público e privado para financiar e gerir projetos de preservação”, ressalta Graziela.
“A ocupação é o principal fator de preservação de qualquer imóvel. A construção fechada se deteriora mais rápido, devido às ações das intempéries e a falta de manutenção. A Lei de Tombamento do Coppam permite que o proprietário atualize o interior e faça reuso do imóvel, mantendo as características originais da fachada”, conta Genilson.
Algumas medidas foram levantadas por quem tenta salvar a história para evitar a demolição.
“Primeiramente, é essencial fortalecer leis de proteção ao patrimônio histórico e criar zonas de proteção onde a demolição e alterações significativas em prédios históricos sejam rigorosamente controladas. Oferecer incentivos fiscais, como isenção de impostos, para proprietários que investirem na preservação e manutenção desses edifícios. Tudo isso que o COPPAM já realiza, mas precisa de equipe para fiscalizar. Além de disponibilizar subsídios governamentais ou privados para a restauração e conservação, são medidas começaram a acontecer, como por exemplo, recursos via iniciativa privada para pintura da fachada de outros prédios históricos – Hotel Gaspar e Igreja da Lapa, através da Secretaria de Turismo. Cabe lembrar que as práticas de monitoramento são essenciais, realizar inspeções regulares para identificar problemas estruturais e necessidades de manutenção antes que se tornem críticos”, relata a historiadora.
Para Genilson, a preservação dos imóveis é de responsabilidade do proprietário do imóvel, mas também dever de todos ajudar.
“Todos os prédios do Centro Histórico estão dentro da Área Especial de Interesse Cultural, portanto estão protegidos, tutelados pelo município e muitos possuem tombamento. Essa proteção é de acordo com a lei municipal nº 8487, de 30 de outubro de 2013, mas a responsabilidade de preservação do imóvel é do proprietário. É dever de todos proteger, preservar e promover essas edificações, principalmente para que as futuras gerações, não fiquem sabendo desses prédios, somente pelas demolições registradas nas reportagens jornalísticas”, finalizou o conselheiro do Coppan.
Até o fechamento desta matéria, a Prefeitura de Campos não havia respondido a demanda.