Diretor executivo da Águas do Paraíba diz que laudos não detectaram toxinas
Yasmim Lima 29/07/2024 17:45 - Atualizado em 29/07/2024 19:31
Genilson Pessanha
O diretor executivo da concessionária Águas do Paraíba, Giuliano Tinoco, durante entrevista no Programa Folha no Ar, da Folha FM, 98,3, na manhã desta segunda-feira (29), falou sobre a situação da água em Campos. Na última semana, um relatório da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), divulgado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), identificou a presença de organismos que afetam a qualidade da água distribuída pela concessionária. De acordo com Giuliano, essas toxinas não foram detectadas nos laudos realizados por laboratórios externos de uma empresa nacional, contratada pela concessionária.
Na última quarta-feira (24), pesquisadores do laboratório de Ciências Ambienteias (LCA), da Uenf, colheram amostras do rio Paraíba do Sul para realizar análises. O MPRJ, por meio da Primeira Promotoria de Investigação Penal, acompanhou as coletas e apuraram o caso. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) também enviou equipes para a região para ajudar na investigação. As coletas de amostras das águas também foram feitas na Estação de Tratamento e em algumas residências dos bairros.
A situação da água em Campos, segundo a Águas do Paraíba, ocorre por conta do aparecimento e proliferação de algas no rio Paraíba do Sul, devido ao período de seca e a baixa vazão dos rios, o que afetou na qualidade bruta da água em diversos municípios.
Mas, apesar dos resultados das amostras e do laudo apresentado pela Uenf, o diretor da concessionária afirmou que a água está própria para o consumo.
“Respondendo à pergunta mais importante, a água está própria para consumo. A gente vem afirmando isso desde terça-feira. Apesar das notas serem acrescidas de novas informações, através de novos laudos, a informação de que a água está própria para consumo é a mesma desde sempre e totalmente saudável, totalmente segura”, destacou Giuliano.
Na última semana, moradores de diversos bairros da cidade reclamaram que a água que saía das torneiras tinha cheiro e gosto forte. 
“As reclamações começaram na segunda-feira. Nós tivemos quatro reclamações na noite de segunda-feira, que foi quando começamos a dosar o carvão ativado, ainda sem nenhuma análise que confirmava a presença de algas, geosmina, qualquer coisa. Pela questão da percepção e das reclamações, a gente já começa a dosar. Vamos tratar primeiro o sintoma, mesmo sem definir a causa. Mas, de fato, a terça-feira foi quando aumenta bastante o número de reclamações. Subiu o número de reclamações. A gente atende a 165 mil residências. Se você multiplicar uma média de três pessoas, a gente deve estar falando aí em torno de 400 mil pessoas abastecidas pela água do Paraíba do Sul. As pessoas conseguiram reclamar, abrir suas solicitações, a equipe vai ao local, faz a verificação, coleta água para análise, ou seja, tem todo um processo de qualidade que é feito nesse sentido”, falou o diretor.
Giuliano explicou que o monitoramento do rio Paraíba é de responsabilidade da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Ela quem deve monitorar e acompanhar o rio, já que é fonte de capacitação de água.
“O monitoramento do rio é uma responsabilidade da ANA. O rio Paraíba do Sul é um rio federal, acho que muita gente até apontou uma metralhadora para o Inea, mas o instituto acaba nem sendo o principal responsável por esse monitoramento. A concessionária, como interessada na qualidade da água do rio, acho que ela não pode ficar esperando uma ação dessas entidades, então ela, de fato, faz esse monitoramento. Mas a própria portaria do Ministério da Saúde, se a gente fizer todo um fluxograma, um sequenciamento do que a gente precisa fazer e faz, vamos dizer assim, eu vou te mostrar que a gente fez muito mais, na verdade, porque esse processo funciona da seguinte forma. Tem que ser feito um monitoramento mensal se existe clorofila na água. Se essa concentração de clorofila for superior, tem um dado interessante também, a 10 microgramas. Estamos falando de algo elevado a 10 a menos 6, ou seja, são análises que tem que ser feita em laboratórios, você não consegue coletar água agora e ter esse resultado daqui a 10 minutos. Se essa clorofila estiver acima desse limite, você precisa começar a analisar o fitoplanto. Ao analisar o fitoplanto, se ele estiver acima de uma certa contagem, você precisa controlar semanalmente as cianobactérias”, enfatizou Tinoco.
No relatório parcial divulgado pelo Ministério Público, na última sexta-feira (26), indicava a presença de substâncias denominadas “fitoplanctônicos que tem potencial de produzir substâncias que afetam a qualidade da água”. O órgão foi noticiado e acionou a Uenf, que realizou as análises das coletas. Para Giuliano, esse laudo divulgado causou um alarme na população.
“Eu acho que houve um grande desencontro de informação, porque o público vem a descobrir na sexta-feira à noite uma informação de quinta à noite para sexta de manhã, que acabou sendo uma informação um pouco alarmista pela possibilidade. Isso causou um certo alarmismo, então a gente correu para avisar toda a imprensa, inclusive divulgamos os laudos para a imprensa na quinta à noite. Na sexta de manhã, ligamos para todos os canais e falei que era muito importante divulgar que não existe a toxina. Porque o tempo todo a gente está afirmando que a água tem qualidade e não tem risco à saúde. Não existe a toxina e a gente está monitorando isso diariamente, apesar de a portaria não exigir, mas a gente está fazendo porque a gente tem essa questão da responsabilidade. Nós temos esse monitoramento, ele é diário, nunca houve toxina nem na água bruta, quem dirá na tratada”, ressalta o diretor.
Giuliano destaca que a concessionária tem feito o monitoramento e essa toxina não é encontrada nos laudos realizados na água.
“Os laudos estão sendo entregues para o Inea, entreguei para a Uenf. A Prefeitura tem nos notificado quase que diariamente e a gente tem respondido e tem encaminhado esses laudos. Tem o resultado dessa toxina e em todos os exames ela dá não detectado. Ou seja, não existe nem a presença dela. Hoje, os resultados que eu tenho são de não detectado. Do dia 19, do dia 23, do dia 25, nós temos feito e todas elas são não detectadas. Em momento algum, tem uma quantidade pequena que fala assim, realmente há presença de toxina, porém está abaixo. Não é o caso, ela é não detectada. Isso é feito por meio de um laboratório externo, por uma empresa nacional, de grande porte, credenciada na ANA, assinada por técnicos, químicos, biólogos”, disse Giuliano Tinoco.
Ele ainda explica que a situação do Paraíba não é o melhor do mundo, não é um cenário bom por receber águas de afluentes de outras cidades, mas está longe de um dos piores cenários.
“A situação do rio Paraíba, obviamente, não é a melhor do mundo. Ele vem recebendo carga orgânica desde São Paulo, tem afluente de Minas que traz, então não é um cenário ótimo, mas está longe de ser um dos piores cenários do país. Tem unidade de tratamento no país que consegue tratar o índice de toxicidade altíssimo e entrega uma água tratada sem a toxina. Ou seja, a gente só precisaria ir adequando o nosso tratamento em função das características que poderiam ser piores da água bruta”, disse.
O diretor executivo fala que ainda assim é necessário dosar o tratamento, independentemente da questão do rio.
“Acho que a condição onde tudo começou é a questão do rio. Mas, independentemente do Rio, a gente precisa dosar o tratamento em função do que tem vindo. Então, a gente precisa monitorar. De fato, houve um crescimento ao longo da semana. Esse calor, ele piora a condição, bem ou mal. A gente fala muito em alga, existe uma correção técnica, ela funciona como se fosse planta, então é a questão da fotossíntese. Quanto mais sol, a água transparente, a água tem um ambiente próprio para se proliferar. Então, a gente precisa dosar cada vez mais, implementar um processo de mais lavagem de filtro, mais descarga de decantador. O nosso processo ele precisa rodar mais vezes. Hoje, as pessoas mais sensíveis que a gente tem dentro da empresa, já não percebem nada de cheiro saindo da Estação de Tratamento de água. Isso desde terça-feira à noite que ninguém sente mais nenhuma água com cheiro saindo da ETA”, conta Tinoco
Com toda a situação, ainda é difícil dizer quanto tempo vai levar para voltar ao normal. Giuliano destaca que isso vai depender da reservação de cada um.
“O gosto algumas pessoas têm aquela sensaçãozinha de térvola, por exemplo, a água que sai do filtro dentro da unidade já sai sem nenhum gosto. E isso depende da reservação de cada pessoa, se você mora num prédio que você tem uma cisterna com 20 mil litros o que aconteceu você tinha lá uma água até antes dessa situação toda acontecer dentro de um padrão e quando muda um pouquinho, todo mundo tem essa percepção num primeiro momento. E, aí, entra uma água diferente, então acho que leva um tempo. E aí é difícil te dar essa resposta de quanto tempo vai levar, porque vai depender muito da reservação de cada um”, fala o diretor.
Giuliano Tinoco ainda destaca que, no momento, o foco é acabar com o alarmismo sobre a qualidade da água, acrescentando que, desde o momento que ocorreu o problema, a população continuou sendo abastecida.
“Nosso foco é acabar com esse alarmismo sobre a qualidade da água e passar a segurança. Porque se a gente tiver esse alarmismo na cabeça de 500 mil pessoas, a gente passa, de fato, a ter um problema de crise. Em momento algum, a população foi desabastecida. Em momento algum, ela não pôde consumir essa água por algum risco. A água sempre esteve e está 100% segura e saudável. Próximo passo agora, da empresa Água do Paraíba hoje, é seguir com o seu tratamento de água e informar a população dessa situação”, conclui Tinoco.
Ele ressalta que a cidade conta com 34 unidades de tratamento e a capitação das águas são feitas em quatro rios diferentes, sendo assim um total de 200 mil residências atendidas pela concessionária.
“O município é muito grande, o rio acaba estando aí distante da maioria das localidades. Então a gente chega aí um total a quase 200 mil residências aí que a gente tem atendido. Sobre a fonte alternativa, eu acho que, assim, Campos tem o privilégio de ter um rio Paraíba, que é um dos maiores rios do Brasil, passando pelas principais cidades do país, ou seja, não teria muito porque campos abdicar de ter esse privilégio do rio Paraíba. Agora, por exemplo, vamos fazer uma unidade na Lagoa, mas Lagoa, às vezes, sofre mais com essa questão das algas do que o rio. No rio, a água é corrente, a água passa”, ressalta o diretor.
Atualmente, a concessionária possui mais de 40 estações de tratamento, todas elas são operacionais, elas contam com poços que podem abastecer as unidades. A concessionária hoje conta com tecnologia necessário para tratar a água e em condições piores.
“Nós temos algumas unidades, tendo mais de 40 etas. Hoje, por um sistema de interligação de sistema, alguma dessas unidades, nós fechamos elas, só que elas são todas operacionais. Numa situação de emergência, a gente consegue ligar uma série de unidades, a maioria por poços, para poder abastecer. Então, a gente tem já uma série de medidas paliativas. Mas, obviamente, isso atenderia numa condição de conscientização, de uso reduzido. A unidade que a gente tem aqui no rio Paraíba, se não for a quarta, é a maior unidade do Rio de Janeiro. Ou seja, é uma unidade de tratamento muito grande. E o suficiente para atender a toda a população. Precisamos reforçar que a ETA tem toda a tecnologia necessária para tratar a água em condições muito piores, inclusive, do que a água está chegando hoje. Se a gente voltar quando a concessionária assumiu o município de Campos, 100% do esgoto do município era jogado no rio Paraíba. Ou seja, já existia um percentual de coleta, se não me engano, 30 ou 40% das pessoas já tinham seu esgoto coletado na porta, mas não existia imunidade de tratamento. No momento que você joga o esgoto de mais de 400 mil pessoas no rio Paraíba, e hoje a gente tem 96% da população atendida e todo esse esgoto vai para as nossas unidades de tratamento”, contou Tinoco.
“São muito poucos lugares que a gente ainda teria para crescer e abastecer. Lugares com grande densidade demográfica não deve ter nenhum que não está abastecido. Quando a gente olha para esgoto, acho que é onde estão nossos maiores esforços nos últimos anos. Hoje a gente tem 96% de atendimento de esgoto, a meta contratual e a meta do novo marco. É uma meta de 90%. Acho que Campos hoje tem uma situação bem confortável no que se refere ao novo marco de legislação”, destacou Giuliano.
Hoje, com a parceria da Prefeitura de Campos, com as obras do Bairro Legal, diversas localidades que antes não tinham esgoto, e passaram a ter uma nova rede.
“A Prefeitura hoje tem levado alguns investimentos, acho até a Prefeitura e o Estado, ambos têm feito investimentos em bairros legais. Tem bairros legais que a gente já atendia com esgoto e tinham outros bairros que não continham ainda a nossa rede de esgoto. A gente aproveitou esse momento de investimento e entrou com parceria nesses investimentos. Estamos levando esgoto e uma ET nova, inclusive, no Parque Saraiva. Goitacazes, por exemplo, é o local em que se concentra mais investimentos. Então, hoje é para onde a nossa atenção está virada”, detalhou o diretor.
Sobre os reajustes, Giuliano conta que eles vêm atrelados à inflação.
“Eu acho que vai haver anos que o reajuste aumentou mais do que a inflação e outros que aumentou menos do que a inflação. Por exemplo, esse ano o reajuste foi de 2,98, a inflação do período foi de 4,51. Talvez por isso o reajuste que foi implementado aí já a partir de início de junho. Ou seja, foi um ano que foi abaixo, quando vem abaixo acaba que isso não vem a público, então não cria essa percepção de que nem sempre é pior do que a inflação. Eu acho que o grande problema que a gente viveu com o reajuste recente foi na época da pandemia”, disse Tinoco.
Ele acrescenta que nem toda a região é abastecida pelo rio Paraíba. A população da Baixada Campista, por exemplo, não conta com esse abastecimento.
“A Baixada Campista, Donana, Farol, assim como o norte do município, toda essa região não é abastecida pelo rio Paraíba. A Baixada é abastecida pela Eta Donana, que produz 60 litros por segundo. Baixa Grande e Farol, vem da Eta Boa Vista”, lembra o diretor.
Giuliano ressalta que essa não é a primeira vez que o problema acontece, mas a primeira que ocorre em julho.
“Não é a primeira vez que a gente tem essa situação de algas no rio e precisa adequar o tratamento para essa condição. Se eu não me engano, a última vez que aconteceu isso com alguma intensidade foi em 2019. Todas as outras vezes na história esse problema aconteceu mais para setembro, que, de fato, é o final do período de seca e o aumento de temperatura, na chegada ali da primavera e do verão. Essa é a primeira vez que a gente tem um reporte disso acontecer em julho. Nesse período, geralmente, está tão frio que você não teria essa questão do sol e proliferação de algas. Então, por isso, que a gente fala dessas grandes mudanças climáticas recentes”, destaca Giuliano.
Ele finaliza falando que, se os problemas persistirem, a população pode entrar em contado com a concessionária.
“A população que ainda continua tendo problema de cheiro, gosto, reforço que é importante que entre em contato com a gente, com os nossos canais, tem o 0800, tem o canal de WhatsApp, esse feedback é importante, essa troca constante com a população foi o que nos trouxe a tomar as ações e o que continua norteando nossas ações para melhorar cada vez mais o atendimento. É importante reforçar que a gente continua diariamente fazendo laudos na água bruta, na água tratada, a gente vai continuar trazendo essas informações, disponibilizando as entidades que fiscalizam como Ministério Público, como INEA. Além disso, destacar que é totalmente seguro consumir a água, você pode consumir tranquilo, a gente não recomenda a compra de água mineral, parece que houve reclamação de abuso de preço, o pessoal tem elevado, então assim, não é necessário ninguém se colocar nessa situação e reforçar que a gente está aqui aberto, transparente e garantindo que essa água é segura e saudável para todos”, finaliza.

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