Um ano de saudades e clamor por justiça
“Hoje ter essa vida sem ela é uma dor que nunca vai passar, é um vazio que não se pode ser preenchido”. A declaração é de Cintia Fonseca, que há 1 ano vive sem a presença física de sua filha Letycia Peixoto Fonseca, engenheira assassinada em Campos aos 31 anos, grávida de 8 meses, no dia 2 de março de 2023. Nesse período, Cintia busca forças para lutar por Justiça pelo seu luto e se apega aos animais da filha para amenizar uma saudade. Letycia foi morta dentro do carro da empresa em que trabalha e estava próxima de sua mãe, que presenciou o crime e também acabou baleada na perna. A vítima esperava ganhar o seu filho Hugo, que chegou a nascer com vida, mas não resistiu. Atualmente, o então companheiro de Letycia e pai de Hugo, o professor universitário Diogo Viola de Nadai, suspeito de ser o mandante do crime, além de outros três envolvidos no caso, seguem presos e devem ir a júri popular. Familiares de Letycia e Hugo vão realizar um ato contra a violência doméstiva, neste sábado, no Centro de Campos, às 10h.
Cintia lembra que Letycia tinha ela como uma amiga e que faziam tudo juntas. “Ela sempre almoçava conosco, não abria mão disso, passava aqui depois que saia do serviço, final de semana me chamava para comer no apartamento dela, que era aqui perto. Nós fazíamos tudo juntas, compras, mercado e hoje ter essa vida sem ela é uma dor que nunca vai passar, é um vazio que não se pode ser preenchido, porque a rotina nunca mais será a mesma. Sempre faltará minha filha, que sei que não vai voltar nunca mais”, lamentou.
As poucas coisas de Letycia que sua mãe preferiu não se desfazer foram os animais, o vestido de formatura da engenheira, álbuns de fotografias e dois cubos que formam o nome do neto Hugo. O restante dos objetos pessoais, Cintia decidiu compartilhar com as amigas da jovem. “Penso que se você for dividir alguma coisa que você gosta, você vai fazer isso com as pessoas que fazem parte da sua vida. E essas amigas dela sempre foram uma parte dela, porque mesmo na correria do dia-a-dia, elas estavam sempre presentes na vida uma da outra. Guardei o vestido porque é a lembrança da conquista dela, de um dia onde ela estava extremamente feliz, e o nome do meu neto em cubos, que ela comprou para o quartinho dele”, comentou.
A paixão de Letycia pelos bichos, segundo Cintia, vem desde pequena, quando morou por aproximadamente 15 anos em uma fazenda na cidade de Guapimirim. “No apartamento dela, vivia o Frajola e o Tomas, mas aqui em casa tem a Lola, a Mel, o Frederico e a Marie, e ela tinha muito amor por eles, era a paixão da vida dela. Nós construímos um espaço nos fundos de casa para que eles pudessem ficar em segurança. E ela também adorava alimentar os gatos de rua, que vivem aparecendo aqui até hoje. Eu continuo cuidando deles por gostar e principalmente, por ela”, disse ao mencionar também a cadela Pepa.
— Ela amava minha filha, não podia ouvir a voz. Letycia tirava várias fotos com ela, com os gatos. Ela conheceu o amor de mãe, mas eu sabia que ela nunca deixaria os animais em segundo plano, tanto que eu ainda falei com ela para deixar os gatos aqui, depois que meu neto nascesse, mas Letycia dizia que eles iam ficar com ela, que Hugo teria vários irmãozinhos cuidando dele — contou a mãe.
Já o enxoval de Hugo foi doado para a cunhada de Cintia, que está grávida de um menino.
O vazio também é sentido pelas amigas de Letycia. Uma delas é Maria Rita Alves, amiga de Letycia há 21 anos. De forma doce, Maria Rita relembra toda a convivência com a amiga, desde a escola, onde se conheceram, até as visitas nada casa uma da outra. "Tivemos uma infância muito boa e divertida. Nos passeios de escola a gente sempre estava junto. Adorava fazer as atividades de artes com ela, sempre muito criativa. A gente tinha um costume, junto aos pais dela, de jogar cartas e lembro como se fosse hoje esses momentos na mesa brincando. Tínhamos o costume de ir a fazenda e lá lembro que a gente gostava muito de brincar em um tanque grande, era nossa piscina. Todas as oportunidades que tinha ia à Campos, na casa de praia com ela e sua família, foram momentos maravilhosos. Letycia foi e sempre será uma amiga muito especial. Era uma menina tão linda por dentro e por fora, verdadeira, profunda e dona de um sorriso que contagiava a todos. Me agarro às memórias dos bons momentos que compartilhamos e tenho presente em mim. Tive o privilégio de conhecer essa pessoa maravilhosa, única e inspiradora. Todas as lembranças jamais serão apagadas. Eu guardei um vestido dela como recordação", disse.
Outra amiga de Letycia preferiu não se identificar por medo, mas quis deixar seu relato de dor e luto pela perda da engenheira. Ela contou o quanto Letycia estava realizada com a gravidez.
— Durante esse período ela sempre demonstrou está muito feliz, curtindo cada fase da gestação, realmente realizando um sonho. Ela foi uma excelente mãe enquanto pode ser e tenho certeza que o Hugo seria uma criança muito feliz e amada. Como amiga dela, posso dizer que a saudade é grande. Que nos doí muito saber que alguém tão cheia de vida, que a gente ama, foi assassinada no ápice da sua maior realização pessoal. A maior lição que a Letycia me deixou é que nossos caminhos não são traçados ao acaso. Aprendi muito com ela ao longo dos anos e pude desenvolver uma amizade e uma admiração muito grande por ela. Acredito que cada pessoa que passa pela nossa vida deixa um pouco de si e leva um pouco da gente. E ela deixou muita saudade e levou muita alegria. Viver é uma dadiva que ela cumpria com grande mérito. Acredito que pela pessoa que ela era ninguém nunca imaginou que algo da magnitude e crueldade como o que aconteceu, aconteceria com ela. Agora nos resta a saudade e o desejo que a justiça cumpra seu papel e que a vida ajude a sarar essa ferida. Eu guardei de recordação roupas e bijuterias — lamentou.
Diante dessa saudade, a amiga Thaís Seraphim ficou com um lenço que era de Letycia, como lembrança da amiga. Thaís se sente “culpada”, pelos imprevistos que fizeram as duas não conseguirem se ver mais vezes.
— Nos conhecemos na escola e ela sempre foi uma pessoa muito estudiosa, responsável e todos gostavam de estar perto dela. Vivemos uma amizade bem próxima. Quando ela voltou para Campos, senti muita falta dela. Depois de adulta, ela chegou a vir ao Rio, mas estava viajando ou trabalhando e não dava para nos vermos. Assim que soubemos da gravidez dela, prometi a ela que ia com Rita no chá do bebê, estava muito animada, mas não deu tempo de nos vermos e é o que eu mais me sinto culpada, de termos várias oportunidades de nos encontrarmos e não conseguimos. Não sei porque nos desencontramos tanto! É uma dor que não dá para mensurar! Em dezembro, ela reforçou que iria fazer o chá do neném em março. Ela não merecia isso — contou Thaís.
O vazio também é sentido pelas amigas de Letycia. Uma delas é Maria Rita Alves, amiga de Letycia há 21 anos. De forma doce, Maria Rita relembra toda a convivência com a amiga, desde a escola, onde se conheceram, até as visitas nada casa uma da outra. "Tivemos uma infância muito boa e divertida. Nos passeios de escola a gente sempre estava junto. Adorava fazer as atividades de artes com ela, sempre muito criativa. A gente tinha um costume, junto aos pais dela, de jogar cartas e lembro como se fosse hoje esses momentos na mesa brincando. Tínhamos o costume de ir a fazenda e lá lembro que a gente gostava muito de brincar em um tanque grande, era nossa piscina. Todas as oportunidades que tinha ia à Campos, na casa de praia com ela e sua família, foram momentos maravilhosos. Letycia foi e sempre será uma amiga muito especial. Era uma menina tão linda por dentro e por fora, verdadeira, profunda e dona de um sorriso que contagiava a todos. Me agarro às memórias dos bons momentos que compartilhamos e tenho presente em mim. Tive o privilégio de conhecer essa pessoa maravilhosa, única e inspiradora. Todas as lembranças jamais serão apagadas. Eu guardei um vestido dela como recordação", disse.
Outra amiga de Letycia preferiu não se identificar por medo, mas quis deixar seu relato de dor e luto pela perda da engenheira. Ela contou o quanto Letycia estava realizada com a gravidez.
— Durante esse período ela sempre demonstrou está muito feliz, curtindo cada fase da gestação, realmente realizando um sonho. Ela foi uma excelente mãe enquanto pode ser e tenho certeza que o Hugo seria uma criança muito feliz e amada. Como amiga dela, posso dizer que a saudade é grande. Que nos doí muito saber que alguém tão cheia de vida, que a gente ama, foi assassinada no ápice da sua maior realização pessoal. A maior lição que a Letycia me deixou é que nossos caminhos não são traçados ao acaso. Aprendi muito com ela ao longo dos anos e pude desenvolver uma amizade e uma admiração muito grande por ela. Acredito que cada pessoa que passa pela nossa vida deixa um pouco de si e leva um pouco da gente. E ela deixou muita saudade e levou muita alegria. Viver é uma dadiva que ela cumpria com grande mérito. Acredito que pela pessoa que ela era ninguém nunca imaginou que algo da magnitude e crueldade como o que aconteceu, aconteceria com ela. Agora nos resta a saudade e o desejo que a justiça cumpra seu papel e que a vida ajude a sarar essa ferida. Eu guardei de recordação roupas e bijuterias — lamentou.
Diante dessa saudade, a amiga Thaís Seraphim ficou com um lenço que era de Letycia, como lembrança da amiga. Thaís se sente “culpada”, pelos imprevistos que fizeram as duas não conseguirem se ver mais vezes.
— Nos conhecemos na escola e ela sempre foi uma pessoa muito estudiosa, responsável e todos gostavam de estar perto dela. Vivemos uma amizade bem próxima. Quando ela voltou para Campos, senti muita falta dela. Depois de adulta, ela chegou a vir ao Rio, mas estava viajando ou trabalhando e não dava para nos vermos. Assim que soubemos da gravidez dela, prometi a ela que ia com Rita no chá do bebê, estava muito animada, mas não deu tempo de nos vermos e é o que eu mais me sinto culpada, de termos várias oportunidades de nos encontrarmos e não conseguimos. Não sei porque nos desencontramos tanto! É uma dor que não dá para mensurar! Em dezembro, ela reforçou que iria fazer o chá do neném em março. Ela não merecia isso — contou Thaís.
Júri Popular: Diogo e mais três acusados aguardam decisão presos
Os acusados de participação no assassinato de Letycia devem ir a júri popular. De acordo com o advogado da família de Letycia, Márcio Marques, na última segunda-feira, o juiz titular Adones Henrique Ambrósio Vieira, da 1º Vara Criminal de Campos, assinou a sentença. No entanto, foi impetrado recurso.
Um dos réus é o professor Diogo Viola de Nadai, acusado pela Justiça de ser o mandante do assassinato.
Os acusados de participação no assassinato de Letycia devem ir a júri popular. De acordo com o advogado da família de Letycia, Márcio Marques, na última segunda-feira, o juiz titular Adones Henrique Ambrósio Vieira, da 1º Vara Criminal de Campos, assinou a sentença. No entanto, foi impetrado recurso.
Um dos réus é o professor Diogo Viola de Nadai, acusado pela Justiça de ser o mandante do assassinato.
Além de Diogo, também irão a júri popular Gabriel Machado Leite, que teria sido o intermediador; Fabiano Conceição Silva, que teria sido o executor ;e Dayson dos Santos Nascimento, que teria sido o condutor da moto usada no crime.
— Atualmente, nós já estamos praticamente com a primeira fase do plenário do tribunal do júri, dos processos de competência do tribunal do júri finalizado — disse o advogado Márcio Marques.
Em nota, o TJRJ informou que os réus foram pronunciados para serem julgados pelo Tribunal do Júri, mas já foi impetrado recurso pela defesa. Ainda segundo a nota, os autos serão encaminhados ao Tribunal de Justiça, que decidirá se mantêm ou não a referida sentença de pronúncia.
A Folha tentou contato com a defesa dos acusados, sem êxito.
“Vou lutar para que ela não seja esquecida”
“Vou lutar para que ela não seja esquecida”
A mãe de Letycia destaca que, desde o crime, o luto virou luta e clama por justiça. “Todo o dia, nas minhas redes sociais, eu vou postar o caso, reportagens, e ele não vai ser esquecido um dia, porque minha filha não é esquecida um dia, então enquanto eu viver, ele pode ter certeza que ele será lembrado todos os dias como assassino, porque para a justiça ele é réu, mas para mim é assassino. O sonho da minha filha embora e vou lutar até o meu último dia para que ela não seja esquecida e que esse crime não vire só estatística”, disse Cintia.
Letycia estava no carro da empresa em que trabalha conversando com sua mãe, que estava do lado de fora do veículo, na rua Simeão Scheremeth, próximo à Arthur Bernardes, quando as duas foram surpreendidas por dois homens em uma moto, que pararam ao lado do automóvel. O carona disparou diversos tiros na direção da gestante. A mãe de Letycia, por instinto, chegou a correr em direção aos criminosos, momento em que foi atingida na perna.
As duas foram socorridas para o Hospital Ferreira Machado, onde Letycia morreu logo após dar entrada.