Bloqueio em vias para obras e mudança na sinalização geram caos no trânsito em Campos
Trafegar pelas ruas de Campos tem sido uma tarefa complicada, e, nos últimos dias, o que já era difícil aparentemente tem se tornado pior. O bloqueio de vias estruturais para obras de recapeamento asfáltico, como na avenida XV de Novembro, e a mudança de sinalização em algumas ruas têm deixado os motoristas confusos e cheios de reclamações.
Nessa sexta-feira (24), a interdição de um trecho XV de Novembro para aplicação de massa asfáltica afetou o trânsito até da BR 101, que também passa por obras. Neste sábado (25), a XV de Novembro permaneceu interditada no trecho entre as ruas Senador Viana e Espírito Santo.
Para o arquiteto e urbanista Renato Siqueira, o caos no trânsito nessa sexta foi o mais grave, até o momento. "Ontem (sexta, 24) foi um dia para não ser esquecido, a cidade parou no seu mais grave, até o momento, caos no trânsito urbano e interurbano. Vias estruturais, como as avenidas Alberto Torres e XV de Novembro, além da rua Barão da Lagoa Dourada, interditadas causaram impacto até na BR 101 Sul (Rio de Janeiro), incluso o duvidoso e questionável trecho da duplicação do Contorno - com retenção viária -, e em outras vias importantes, como as ruas Baronesa da Lagoa Dourada, Barão de Miracema e Gil de Góis. Em um ambiente político conturbado, que permite ao Governo do Estado impor essa bagunça sem qualquer prestação de contas, informação ou justificativa plausíveis, causam grande espanto. Isso ainda atinge a todos os órgãos de controle que atuam no município, especialmente a Câmara de Vereadores e o Ministério Público. Pergunto, o que será que os representantes desses órgãos estão vendo? Por onde circulam que não são atingidos no mais legítimo direito do cidadão, o de ir e vir?", questionou.
Siqueira cobrou a implantação dos Conselhos Municipais de Mobilidade Urbana (Comurb) e de Densolvimento de Campos (Comdescam). "Há ainda os agravantes da ausência dos Conselhos de Mobilidade Urbana e do de Desenvolvimento de Campos. Ambos existem por lei. O primeiro, através da lei 8.754/17, e o segundo, pela lei 0015/2020, que é o Plano Diretor", ressaltou, acrescentando que no dia 9 de novembro foi realizado o 1º Seminário de Desenvolvimento Sustentável, Mobilidade Urbana e Cidades Responsivas: perspectivas e desafios regionais. "Foram convidados os 92 prefeitos do estado, foram convidados os vereadores do município, mas nenhum deles se fez presente, o que é um forte indicativo que justifica a bagunça diária no trânsito que provoca tanta revolta ao cidadão, mas não incomoda quem tem o dever institucional de agir", concluiu.
Na visão de Renato Siqueira, a situação é agravada "pelo equívoco de investimentos no sistema viário para automóveis, quando deveria priorizar investimentos nas calçadas e no transporte de massa, especialmente o ferroviário".
O advogado Felipe Drumond também comentou sobre os problemas do trânsito em Campos. Ele contou que, nessa sexta, levou sete horas em viagem entre o Rio e Campos, em trajeto que geralmente dura cerca de quatro horas. Um dos motivos para a demora foram as obras de duplicação do perímetro urbano da BR 101, ebem como o impacto causado no trânsito da rodovia federal em virtude de bloqueio de vias na área central. "As obras são bem-vindas, mas é preciso responsabilidade na sua execução. Os transtornos que têm sido causados não são razoáveis e podem gerar danos graves a toda a coletividade. Eu estava voltando do Rio ontem (sexta). Desde o Rio de Janeiro, estava tudo impraticável. Foram sete horas de viagem entre Rio e Campos. Sendo justo, claro que o problema dessas sete horas não foi o trânsito em Campos, mas também na capital e entorno. Quando cheguei nas imediações de Ibitioca, tudo estava parado. A previsão dos apps de GPS era de horas parado no engarrafamento. Os carros estavam desviando por estradas de chão próximas à BR 101 que cortam canaviais, acessam a estrada do Alambique, depois a estrada do Itaóca e desembocam na estrada dos ceramistas, que, por sua vez, também estava fechada. Um caos", relatou.
Felipe defendeu que as obras poderiam ser executadas em um melhor horário, para que haja menos transtornos à população. "Já foram feitas diversas críticas sobre as obras feitas durante dias úteis e horários comercial. As autoridades justificam que não podem fazer a noite porque atrapalharia o sono das pessoas e o descanso no entorno das obras. Penso que a justificativa não procede. O interesse público predominante deve ser sempre o de menor transtorno coletivo possível. Uma ponderação razoável desses impactos negativos mostra que obras durante a noite, finais de semana e feriados de fato infelizmente incomodam quem está descansando no entorno. Mas é uma situação transitória e que afeta um número muito mais reduzido de pessoas. Na medida que as obras evoluem os locais vão mudando e, portanto, o grupo de pessoas afetado em horário de descanso vai sempre alternando, mudando. No entanto, quando a obra é feita durante os dias úteis e em horário comercial, não é só o entorno que fica prejudicado. O que temos visto é um efeito cascata que afeta boa parte da cidade, que fica com trânsito caótico e as pessoas, muitas vezes, não conseguem chegar aos seus compromissos. Portanto, o impacto negativo coletivo acaba sendo muito maior", comentou.
Sobre as obras na BR 101, a Arteris Fluminense chegou a informar nessa sexta-feira que o que teria causando o engarrafamento foi o excesso de veículos no município e também a implantação de defensa metálica (guarda raio) na rodovia, dentro da obra de ampliação no trevo na entrada do município, restringindo parcialmente o trânsito na pista Norte.
Mudança na sinalização também pega motoristas de surpresa
Além do bloqueio nas vias para obras do programa Asfalto Novo, a mudança na sinalização em algumas ruas também deixou alguns motoristas surpreendidos. Na Barão da Lagoa Dourada, por exemplo, as vagas para estacionamento foram alteradas. Nessa sexta, diante da falta de informação, alguns motoristas chegaram a parar dos dois lados da pista. Na rua Barão de Miracema também há mudança na sinalização.
O especialista em Finanças e professor do Uniflu, Igor Franco, comentou sobre a situação presenciada por ele na Barão da Lagoa Dourada. "Se houver um prêmio de pior intervenção pública no ano, os responsáveis pelo trânsito de Campos provavelmente serão competidores imbatíveis. Até a pintura de faixas é uma tragédia. Tem carros estacionados dos dois lados da Barão da Lagoa Dourada e os menos culpados são os motoristas. Porque ninguém sabe qual é a faixa de transito e qual é a faixa de estacionamento", disse.
Nas redes sociais, a mudança na Barão da Lagoa Dourada também foi motivo de críticas. "Eles vêm de noite, mudam a sinalização da rua e não informam nada aos moraores. Já estava ruim para arrumar vaga, imagina agora que tiraram as vagas. Queria saber o que passa na cabeça de quem planejou isso. E como vai fazer para eu receber mercadorias e para os meus clientes pararem no meu comércio?", dizia postagem feita pelo Mini Mercado do Telmo, na madrugada deste sábado (25).
A equipe da Folha entrou em contato com a Prefeitura de Campos e aguarda posicionamento.