HIV: Em novo livro, Salvador Corrêa propõe a arte como um remédio para o vírus ideológico
Dez anos após o lançamento da versão e-book do elogiado livro “O Segundo armário: diário de um jovem soropositivo”, com o pseudônimo Gabriel de Souza Abreu, o escritor Salvador Campos Corrêa lançará a obra “Arte: um antirretroviral social”, de 126 páginas, pela editora Encontrografia. O livro é resultado da pesquisa de doutorado defendida no Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e inova ao trazer uma trilha sonora específica que fez parte do processo de escrita do autor e que poderá ser acessada por QRCode. A noite de autógrafos, junto com o lançamento do livro, será realizada no dia 13 de dezembro, às 18h, no Museu Histórico de Campos, localizado na Praça São Salvador, no centro de Campos.
A publicação é fruto de um estudo do autor sobre o poder da arte no enfrentamento do estigma em relação às pessoas que vivem com HIV/AIDS. Salvador propõe uma reflexão sobre a arte para além do lugar que já ocupa na saúde mental e coletiva. Em diálogo com o conceito de vírus ideológico proposto por Herbert Daniel para compreender o impacto social do HIV, Salvador compreende que o vírus está em tudo, e não apenas nas pessoas. Segundo ele, ao habitar o corpo e a consciência de quem está vivendo com HIV, o vírus pode ser reelaborado na forma de arte e assumir o papel de antirretroviral social. Desta forma, a arte constrói um caminho de renascimento diante das mortes sociais geradas pelo HIV.
“Quando o HIV encontra a arte, também encontra uma força transformadora. Na arte, o HIV transita pelo caminho da solidariedade, do resgate da força ancestral e da força coletiva. É a saúde que está a serviço da arte”, observa Salvador.
O próprio autor se utilizou da arte como espaço de refúgio e de ressignificação durante a pandemia da Covid-19. “Vivi um momento crítico da tese durante a pandemia. A arte me trouxe vida, me devolveu a sanidade mental. Quando me senti ausente de mim mesmo, foi a arte que me mostrou o caminho de volta, como aprendi com a artista Micaela que entrevistei durante a pesquisa. Esse aprendizado foi uma experiência tão energizante que não queria terminar de escrever”, revela.
A simbologia do armário também é observada no novo livro, mostrando que continua como um recurso do autor para entrar e sair de temas profundos. Desta vez, quem sai do armário é o próprio Salvador Campos Corrêa – que não usa mais o pseudônimo Gabriel de Souza Abreu – para revelar a sua trajetória antes e depois de ser diagnosticado com o HIV.
“Gosto muito da simbologia do armário como lugar de proteção e de esconderijo. Há uma profunda conexão interna e com o todo. Sinto que estou nascendo artisticamente neste livro, pois parto da minha história pessoal para o coletivo”, observa.
“Arte: um antirretroviral social” traz ainda entrevistas com sete artistas-autores participantes da investigação e que vivem com HIV: o poeta Ramon Nunes Mello, o escritor Leandro Noronha, a poetisa Atena Roveda, os atores Ronaldo Serruya e Evandro Manchini, a artista plástica Micaela Cyrino e o artista Caju – este último pediu para não ser identificado.
O novo livro de Salvador Campos Corrêa oferece ainda ao leitor uma experiência sensorial ao sugerir uma trilha sonora musical que marca a história do HIV, como Face it alone, gravada em 1988, pela banda Queen, e lançada em 2022. A música ocupou um lugar estratégico na produção acadêmica do autor.
“Foi como se a música me permitisse entrar num determinado lugar e escrever sobre essa experiência. Além do HIV, fui embalado por outros temas cantados por Gilberto Gil, Maria Bethania e Elza Soares, entre outros. Está tudo no livro com o link e QRCode”, informa.
O leitor é convidado a refletir sobre o papel da arte para a transformação de estigmas associados a doenças e infecções como o HIV e, com isso, a mergulhar nas muitas dimensões da arte como um antirretroviral social.
SOBRE O AUTOR: Salvador Campos Corrêa é psicólogo, mestre em Saúde Pública e doutor em Saúde Coletiva pela Fiocruz. Também é escritor, sanitarista e ativista. Vive há mais de 10 anos com o HIV. Sua história já se tornou conteúdo de blog, livro e peça teatral. A pesquisa de doutorado foi transformada no segundo livro “Arte: um antirretroviral social”.
Com informações da assessoria