Edgar Vianna de Andrade - Acaso repetido
Allen foi cancelado por algum tempo. Atores e atrizes politicamente corretos não queriam mais trabalhar com ele. Mesmo assim, o diretor continuou dirigindo filmes geralmente financiados por governos de outros países. Andou pela Inglaterra, França, Itália e Espanha, prometendo filmar no Brasil. Ficou só na promessa.
Seu mais recente filme, lançado neste 2024, foi rodado na França em 2023. Trata-se de “Golpe de sorte em Paris”, um típico filme do cineasta, hoje com 88 anos de idade. Allen destacou-se mais com o gênero comédia que com o drama, mas trabalhou bem com os dois. Os casamentos do diretor sempre envolvem traição à moda antiga. Fanny (Lou de Laâge) e Jean (Melvi Poupaud) parecem um casal perfeito. Ele é um homem de sucesso cujo caráter está acima de qualquer suspeita. Mas não é bem assim. Olhemos os bastidores. Fanny encontra Alain (Niels Schneider) um ex-colega de colégio, agora escritor. Ela não resiste ao jogo de sedução dele. O romance de ambos é previsível. Ele precisa acontecer para que o roteiro possa se desenvolver.
E, como em “Match point” (2005), um grande drama de Allen, o acaso entra em cena. Por mais que o filme se pareça com uma tragédia grega, a imprevisibilidade coloca a história no contexto do princípio da incerteza, formulado por Heisenberg na década de 1920. Por ele, nunca se sabe qual será exatamente a reação a uma ação. Em “Match point”, um homem casado se envolve com uma linda mulher. Ela fica grávida, comprometendo o casamento dele, que lhe proporcionou ascensão profissional. Só lhe resta uma saída: matar a amante. Para tanto, ele se vê obrigado a matar uma senhora que nada tem a ver com o drama. Efeito colateral, como ele define. A prova do crime é um anel lançado no rio Tâmisa, mas que bate na proteção marginal, como uma bola de tênis bate na rede, não se podendo definir se cairá no campo adversário ou no campo do lançador. O detetive que cuida do caso elucida o crime num sonho, mas o anel foi encontrado por um mendigo, que passa a ser acusado pelos dois assassinatos. O assassino está salvo.
Woody Allen foi um dos meus cineastas favoritos por muitos anos. Desde seu primeiro filme, em que atuou como roteirista e ator, a história (literatura) ocupa o primeiro plano. Ele filma bem, mas não ultrapassa muito o roteiro, sempre bastante inteligente, mesmo depois de parecer cansado com a idade e com as acusações de pedofilia por sua ex-mulher. Essas acusações dispensam provas e podem acabar com a vida de uma pessoa.
Allen foi cancelado por algum tempo. Atores e atrizes politicamente corretos não queriam mais trabalhar com ele. Mesmo assim, o diretor continuou dirigindo filmes geralmente financiados por governos de outros países. Andou pela Inglaterra, França, Itália e Espanha, prometendo filmar no Brasil. Ficou só na promessa.
Seu mais recente filme, lançado neste 2024, foi rodado na França em 2023. Trata-se de “Golpe de sorte em Paris”, um típico filme do cineasta, hoje com 88 anos de idade. Allen destacou-se mais com o gênero comédia que com o drama, mas trabalhou bem com os dois. Os casamentos do diretor sempre envolvem traição à moda antiga. Fanny (Lou de Laâge) e Jean (Melvi Poupaud) parecem um casal perfeito. Ele é um homem de sucesso cujo caráter está acima de qualquer suspeita. Mas não é bem assim. Olhemos os bastidores. Fanny encontra Alain (Niels Schneider) um ex-colega de colégio, agora escritor. Ela não resiste ao jogo de sedução dele. O romance de ambos é previsível. Ele precisa acontecer para que o roteiro possa se desenvolver.
E, como em “Match point” (2005), um grande drama de Allen, o acaso entra em cena. Por mais que o filme se pareça com uma tragédia grega, a imprevisibilidade coloca a história no contexto do princípio da incerteza, formulado por Heisenberg na década de 1920. Por ele, nunca se sabe qual será exatamente a reação a uma ação. Em “Match point”, um homem casado se envolve com uma linda mulher. Ela fica grávida, comprometendo o casamento dele, que lhe proporcionou ascensão profissional. Só lhe resta uma saída: matar a amante. Para tanto, ele se vê obrigado a matar uma senhora que nada tem a ver com o drama. Efeito colateral, como ele define. A prova do crime é um anel lançado no rio Tâmisa, mas que bate na proteção marginal, como uma bola de tênis bate na rede, não se podendo definir se cairá no campo adversário ou no campo do lançador. O detetive que cuida do caso elucida o crime num sonho, mas o anel foi encontrado por um mendigo, que passa a ser acusado pelos dois assassinatos. O assassino está salvo.
Em “Golpe de sorte em Paris”, há muito golpe e pouca sorte. O marido milionário é um assassino de casaca. Matou seu sócio e o amante da mulher em crimes que parecem perfeitos. Suspeitando de coincidências, sua sogra (sempre elas) entra em cena. Ela está muito perto da verdade. Deverá ser a próxima vítima em mais um assassinato perfeito. Mas, dessa vez, a bola de tênis cai no campo do lançador. O acaso transformará o assassino em vítima. Woody Allen se repete, demonstrando seu cansaço. É difícil uma pessoa criativa aceitar o momento de parar.