Arthur Soffiati - Uma viagem encantada
Maximiliano era tudo isso, embora sua condição de naturalista não seja tão reconhecida como Auguste de Saint-Hilaire. Sendo rico, ele organizou uma viagem científica ao litoral do Brasil, com entradas para o interior. Sua excursão partiu do Rio de Janeiro e terminou em Salvador. Durante os anos de 1815, 1816 e 1817, ele viajou com um grande grupo de caçadores, taxidermistas e cientistas como ele, como Sellow e Freyreiss. A coleção constituída pelo príncipe não incluía apenas aves, mas também anfíbios, repteis, mamíferos e plantas.
Seu interesse pela diversidade cultural também era acentuado. Ele deu notícias preciosas sobre nações indígenas encontradas em seu caminho. Em alguns casos, alongou sua rota para ter contado com esses povos, como aconteceu em São Fidélis, província do Rio de Janeiro. Seu humanismo o levou a afirmar que não existe nenhum povo no mundo sem língua e religião, repudiando a noção muito comum no Brasil e em outros lugares de que algumas nações não europeias estavam mais próximas dos animais que dos humanos. Se condenou os maus tratos a indígenas e negros, não deixou de considerá-los inferiores aos brancos. Um europeu não compraria outros europeus, mas Maximiliano comprou um indígena e um negro, levando ambos para seu castelo em Wied. Em abono a seu gesto, lembre-se que muitos outros naturalistas fizeram o mesmo. Martius fez o mesmo. Um indígena e um negro eras motivo de estudos não apenas por suas culturas, mas do ponto de vista anatômico.
Maximiliano pode ser inserido no movimento do romantismo. Suas descrições são inigualáveis. Ele tem um estilo lento, escrevendo longos parágrafos inspirados. Seu encantamento com a natureza encanta o leitor. Não raro, a paisagem deixa-o extasiado. No seu livro “Viagem ao Brasil” é muito comum encontrar passagens fascinantes. Ele ama a natureza, mas não hesita em abater animais para a sua coleção. Também não faz críticas veementes à destruição da natureza. No Brasil, seus habitantes eram muito rudes e pragmáticos com as florestas e animais, sobretudo os proprietários rurais. Para eles, uma floresta significava riqueza com a lenha, a madeira e com a terra sob ela. Civilizar significada derrubar matas e plantar lavouras ou criar animais. A natureza era inesgotável. Era esse o entendimento geral, inclusive do próprio Maximiliano. A diferença entre um produtor rural imediatista e Maximiliano e outros naturalistas, contudo, era que o primeiro só visava o lucro monetário enquanto os segundos divisavam saberes na natureza.
Ao longo de sua viagem de dois anos pelo litoral e interior do Brasil, Maximiliano admirou três núcleos urbanos: Campos, Vitória e Salvador. Não houve tempo suficiente para apreciar o Rio de Janeiro. Ele tinha pressa em partir. Ao chegar em Campos, que ainda tinha o estatuto de Vila, de certa maneira, ele se sentiu em casa. São fascinantes as suas descrições da vila às margens do rio Paraíba do Sul. Ele mesmo deixou registrado no mapa que seguia ter feito um desenho panorâmico do que, para ele, podia ser considerada uma cidade. Vitória também lhe proporcionou encantamento. Mais pela paisagem natural, contudo. O mesmo em Salvador.
Era comum, no século XIX, os naturalistas aprenderem desenho ao lado dos conhecimentos sobre a natureza e as culturas. Maximiliano também desenhava, mas seus traços são ingênuos. Hoje, ele seria considerado um autor “naïf”. Seus traços não são refinados. Seus esboços não devem ter sido originalmente coloridos. Ou ele mesmo os coloriu posteriormente ou coube a outra(s) pessoa(s) adicionar cores aos desenhos. Para ilustrar “Viagem ao Brasil”, “Beiträge zur Naturgeschichte von Brasilien” e “Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens” os desenhos não podiam ser toscos. Então, uma ou mais pessoas se incumbiram de produzir desenhos elaborados a partir dos seus traços. Cogita-se que sua irmã seria a autora dos desenhos finais. Outros desenhistas mais devem ter colaborado. Mas eu diria que os toscos desenhos de Maximiliano são encantadores. Nesse livrinho, procurei sempre valer-me dos desenhos originais do príncipe como ilustração. Destaco, entre todos, a representação de um casal de pescadores e de sua cabana às margens do rio Bragança, talvez o mais antigo registro visual de pescadores no Distrito de Campos dos Goytacazes. Nessa cabana, Maximiliano passou uma noite, agradecido pela hospitalidade.
Maximiliano foi um príncipe alemão no tempo em que a Alemanha ainda estava dividida em Estados independentes. Sendo filho de uma família numerosa, ele estava muito distante na linha de sucessão ao trono. Dedicou-se, então, aos seus interesses científicos. Tornou-se um nobre naturalista, com pendor para o estudo de aves. Mas um naturalista, no século XIX, não era apenas geólogo, botânico, entomólogo, herpetólogo, ornitólogo ou mastólgo. Era tudo isso ao mesmo tempo. Veja-se o caso de Martius e Darwin.
Maximiliano era tudo isso, embora sua condição de naturalista não seja tão reconhecida como Auguste de Saint-Hilaire. Sendo rico, ele organizou uma viagem científica ao litoral do Brasil, com entradas para o interior. Sua excursão partiu do Rio de Janeiro e terminou em Salvador. Durante os anos de 1815, 1816 e 1817, ele viajou com um grande grupo de caçadores, taxidermistas e cientistas como ele, como Sellow e Freyreiss. A coleção constituída pelo príncipe não incluía apenas aves, mas também anfíbios, repteis, mamíferos e plantas.
Seu interesse pela diversidade cultural também era acentuado. Ele deu notícias preciosas sobre nações indígenas encontradas em seu caminho. Em alguns casos, alongou sua rota para ter contado com esses povos, como aconteceu em São Fidélis, província do Rio de Janeiro. Seu humanismo o levou a afirmar que não existe nenhum povo no mundo sem língua e religião, repudiando a noção muito comum no Brasil e em outros lugares de que algumas nações não europeias estavam mais próximas dos animais que dos humanos. Se condenou os maus tratos a indígenas e negros, não deixou de considerá-los inferiores aos brancos. Um europeu não compraria outros europeus, mas Maximiliano comprou um indígena e um negro, levando ambos para seu castelo em Wied. Em abono a seu gesto, lembre-se que muitos outros naturalistas fizeram o mesmo. Martius fez o mesmo. Um indígena e um negro eras motivo de estudos não apenas por suas culturas, mas do ponto de vista anatômico.
Maximiliano pode ser inserido no movimento do romantismo. Suas descrições são inigualáveis. Ele tem um estilo lento, escrevendo longos parágrafos inspirados. Seu encantamento com a natureza encanta o leitor. Não raro, a paisagem deixa-o extasiado. No seu livro “Viagem ao Brasil” é muito comum encontrar passagens fascinantes. Ele ama a natureza, mas não hesita em abater animais para a sua coleção. Também não faz críticas veementes à destruição da natureza. No Brasil, seus habitantes eram muito rudes e pragmáticos com as florestas e animais, sobretudo os proprietários rurais. Para eles, uma floresta significava riqueza com a lenha, a madeira e com a terra sob ela. Civilizar significada derrubar matas e plantar lavouras ou criar animais. A natureza era inesgotável. Era esse o entendimento geral, inclusive do próprio Maximiliano. A diferença entre um produtor rural imediatista e Maximiliano e outros naturalistas, contudo, era que o primeiro só visava o lucro monetário enquanto os segundos divisavam saberes na natureza.
Ao longo de sua viagem de dois anos pelo litoral e interior do Brasil, Maximiliano admirou três núcleos urbanos: Campos, Vitória e Salvador. Não houve tempo suficiente para apreciar o Rio de Janeiro. Ele tinha pressa em partir. Ao chegar em Campos, que ainda tinha o estatuto de Vila, de certa maneira, ele se sentiu em casa. São fascinantes as suas descrições da vila às margens do rio Paraíba do Sul. Ele mesmo deixou registrado no mapa que seguia ter feito um desenho panorâmico do que, para ele, podia ser considerada uma cidade. Vitória também lhe proporcionou encantamento. Mais pela paisagem natural, contudo. O mesmo em Salvador.
Era comum, no século XIX, os naturalistas aprenderem desenho ao lado dos conhecimentos sobre a natureza e as culturas. Maximiliano também desenhava, mas seus traços são ingênuos. Hoje, ele seria considerado um autor “naïf”. Seus traços não são refinados. Seus esboços não devem ter sido originalmente coloridos. Ou ele mesmo os coloriu posteriormente ou coube a outra(s) pessoa(s) adicionar cores aos desenhos. Para ilustrar “Viagem ao Brasil”, “Beiträge zur Naturgeschichte von Brasilien” e “Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens” os desenhos não podiam ser toscos. Então, uma ou mais pessoas se incumbiram de produzir desenhos elaborados a partir dos seus traços. Cogita-se que sua irmã seria a autora dos desenhos finais. Outros desenhistas mais devem ter colaborado. Mas eu diria que os toscos desenhos de Maximiliano são encantadores. Nesse livrinho, procurei sempre valer-me dos desenhos originais do príncipe como ilustração. Destaco, entre todos, a representação de um casal de pescadores e de sua cabana às margens do rio Bragança, talvez o mais antigo registro visual de pescadores no Distrito de Campos dos Goytacazes. Nessa cabana, Maximiliano passou uma noite, agradecido pela hospitalidade.