Luta ridícula de gigantes
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 10/04/2024 17:11
Reprodução
Não ando muito animado com a programação dos cinemas de Campos nem da única plataforma digital a que tenho acesso. Sendo assim, recorro com frequência à minha enorme coleção de DVDs. No entanto, querendo elementos para comentar um filme em cartaz no momento, cometi o grande equívoco de assistir a “Godzilla vs Kong”, uma mistureba dirigida por Adam Wingard. O macaco gigante Kong figurou nas telas pela primeira vez 1933. Foi um sucesso. Ganhou refilmagens e desdobramentos. Godzilla estreou em 1954. O primeiro encontro dos dois ocorreu no filme “Godzilla vs Kong”, produção japonesa de 1963. Eiji Tsubaraya, o Ray Harryhausen do oriente, criou gigantes espetaculares, mas não conseguiu superar o mestre norte-americano. O filme visava bilheterias dos Estados Unidos. Godzilla resulta do cruzamento de um tiranossauro rex com um estegossauro bem antes do recurso à engenharia genética das ficções científicas de Michael Crichton.

Kong, por sua vez, controlava uma ilha. Ele era adormecido pelo sumo do fruto de uma planta só encontrada lá. Quando Kong aparece, as mulheres bailam para ele. Kong gosta de mulher e de lugares altos. Tanto que uma virgem é sempre presenteada a ele. Esses filmes do passado precisavam recorrer à técnica de animação do stop-motion, pois ainda não havia efeitos especiais computadorizados. Gostamos de filmes com dinossauros, mas ignoramos o quão difícil era produzir esses animais extintos no passado. Os primeiros filmes com eles datam da segunda década do século XX. Geralmente, eram curtos pelos custos na produção de pequenos bonecos ampliados que contracenavam com humanos.

A partir da década de 1980, os filmes de “monstros” ou “coisas” passaram a ser produzidos em computação gráfica. O grande exemplo é “Jurassik park”, de 1993, dirigido por Steven Spielberg. Ele suscitou uma franquia de mais cinco filmes. Todos sofríveis. Todos demonstração vazia de tecnologia. Muitos outros filmes no gênero de “Jurassik park” ganharam as telas. A maioria deixa a desejar.
Voltando a “Godzilla vs Kong”, é de se supor que os grandes estúdios atuais têm dinheiro, mas as salas de cinema estão em franca decadência. O filme conta com boa fotografia, embora padronizada, e muitos efeitos especiais. Contudo, o roteiro é confuso, a trilha sonora é pasteurizada, o desempenho dos artistas é péssimo. Nem Michael Bay, Roland Emmerich e Guillermo del Toro em seus piores momentos (e foram muitos) conseguiriam a proeza de Adam Wingard. Ele dirige mecanicamente. Qualquer computador faria melhor. Os efeitos especiais são excessivamente surrados. Animais inventados aparecem gratuitamente. Trata-se de uma mistura de catástrofe e anedota. O filme beira às raias do ridículo. Kong mora num mundo maravilhoso que fica no interior da Terra, enquanto Godzilla repousa no Coliseu de Roma quando não está destruindo uma cidade ou um monumento. Eles saem dos seus redutos para lutar e destruir. Não foram poupadas as pirâmides do Egito e a praia de Copacabana sob as vistas do Cristo Redentor. A globalização mostrada é perversa e deseducativa. Enfim, o filme é perfeitamente dispensável.

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