Prefeitura e acadêmicos projetam alternativas para o Mercado Municipal de Campos
Entre muitas discussões acerca do patrimônio histórico e arquitetônico de Campos, um prédio específico tem ganhado espaço: o do Mercado Municipal, que completou 102 anos em setembro. Tanto em universidades quanto dentro do poder público, há propostas com objetivo de revitalizá-lo, bem como a sua área de ambiência. O objetivo é melhorar a acessibilidade dos clientes e as condições de trabalho para comerciantes e permissionários.
Quando construído, com a inauguração ocorrendo em 15 de setembro de 1921, o então Mercado Novo ganhou o atual endereço pela necessidade de ficar próximo ao Canal Campos-Macaé e o rio Paraíba do Sul. Afinal, por eles era realizado o escoamento de mercadorias. Mais de um século depois, podem ser notadas muitas mudanças no entorno do Mercado, e instalações como um galpão metálico para ampliação da Feira Municipal e o Shopping Popular Michel Haddad (Camelódromo) prejudicam a beleza daquela edificação, inspirada no Mercado de Nice, na França, após uma viagem do ex-prefeito Luiz Sobral à Europa.
Com arquitetura eclética, o Mercado Municipal é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam) desde 2013. Há anos vem sendo ensaiado um tombamento também pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), cujo planejamento era de concretizá-lo em 2021, quando o prédio completou 100 anos. Na prática, isso não ocorreu, nem mesmo após a instalação de um escritório técnico regional do Inepac em Campos, no final do ano passado.
— A gente não teve nenhum trabalho em relação ao Mercado. Se houver alguma coisa, estaria ocorrendo pelo Rio de Janeiro, mas ainda não chegou nenhuma informação aqui. Podemos dizer que está na mesma situação de antes, não teve nenhum movimento — informa o responsável técnico pelo escritório regional do Norte e Noroeste Fluminense, o arquiteto Geovani Laurindo Filho. A Folha tentou contato com a assessoria do órgão, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Um projeto da secretaria municipal de Agricultura, Pecuária e Pesca inclui a mudança da Feira Municipal para a praça da República, perto da rodoviária Roberto Silveira, onde seria construída uma estrutura específica para os feirantes. Na visão da Prefeitura, essa praça encontra-se subutilizada e, além do potencial para ser a nova sede da feira, também possui outras possibilidades de exploração comercial, como para cafés e restaurantes.
Segundo o secretário da pasta, Almy Junior, uma licitação é planejada. “O processo está em andamento, sendo preparada a licitação. Nessas coisas, a gente não estabelece muito prazo, porque há uma burocracia”, informa Almy. De acordo com ele, os feirantes só iriam para a praça da República após a conclusão da nova estrutura.
No Mercado Municipal, sem a presença da Feira, várias intervenções teriam como objetivo modernizar o prédio, possibilitando, entre outras novidades, a construção de área específica para bares e restaurantes. Também seria englobado no projeto um Banco de Alimentos (organização sem fins lucrativos voltada à recuperação de excedentes alimentares da sociedade para redistribuí-los entre pessoas necessitadas).
— A minha opinião, depois de ouvir vários atores e diferentes propostas para o espaço, é de que a retirada da Feira daquele ponto é fundamental para expor de verdade a fachada do Mercado centenário. Além do mais, temos o desafio gigantesco de realocar feirantes durante a execução de uma obra, inicialmente, da reforma da Feira, e posteriormente, da restauração do Mercado. Por isso, avaliando todas as possibilidades, o que nos parece mais factível e prudente é construir uma nova estrutura de Feira, num espaço que a cidade não utiliza e que está a menos de 250 metros do Mercado centenário — enfatiza o secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca.
Por outro lado, alunos e professores do curso de arquitetura do Instituto Federal Fluminense (IFF) propõem que a Feira seja mantida onde está. A alegação é de que podem ser feitas mudanças estruturais em busca de melhorias no próprio local, inclusive possibilitando uma melhor visualização da torre do relógio do Mercado, hoje parcialmente encoberta. A ideia ganhou corpo durante aulas da disciplina “Projeto e bens patrimoniais”.
— O interesse na realização do projeto tendo o Mercado Municipal de Campos como objeto de estudo e intervenção partiu de um desejo antigo da professora Maria Catharina Prata, que capacitou os alunos antes do desenvolvimento dos projetos em si. Eles tiveram aulas teóricas sobre patrimônio, restauração e requalificação de prédios e mercados históricos, e também sobre a história do próprio Mercado (de Campos) — explica a arquiteta Laís Rocha, atualmente mestranda no IFF, mas que participou desse processo enquanto docente do curso de arquitetura e estagiária.
Alguns estudantes do IFF, inclusive, chegaram a realizar visitas técnicas ao Mercado Municipal, preparando uma listagem de “doenças do edifício”.
— Os alunos desenvolveram os mapas de danos, onde identificaram as principais patologias e como resolvê-las. A partir de toda essa análise teórica, histórica e da identificação dos principais danos, eles puderam dar início ao desenvolvimento dos projetos, como o conceito norteador de todas as decisões projetuais e o desenvolvimento do partido, que é a forma pela qual será aplicado o conceito no projeto. Essa foi a mola mestra para a consolidação das ideias — complementa Laís.
Em setembro, durante um seminário, uma equipe do IFF apresentou parte do material referente ao Mercado Municipal, incluindo dados técnicos e representação gráfica. “Entendemos que a Feira, a Peixaria, o Açougue e o Camelódromo são partes importantes e integrantes do Mercado, já consolidadas. O que foi proposto foi uma melhor redistribuição do seu espaço, sempre buscando uma forma de mantê-los integrados, principalmente pelo acesso de pedestres”, finaliza a arquiteta.
Em relação ao entorno, os alunos do IFF propõem a realocação do Camelódromo para o Parque Alberto Sampaio, área próxima ao Mercado Municipal avaliada como de “extremo potencial para a cidade”.