Ilustração de Ronaldo Araújo.
de uma rua pra outra
do centro,
transita
a sensação de estar
numa única
rota,
alinhavada
pela trama
geográfica
de uma superfície
entremeada pela
interioraneidade
das relações
basta olhar a
es
trei
te
za
da confluência das ruas
- que sempre
retornam à fonte,
sendo necessário
imenso esforço
pra se perder por elas -
mas há algo mais
que salienta
as notáveis banalidades
das ruas do centro:
um olhar atento
pelos prédios que
dão fundamento
às passagens
torna possível
a criação
desimpedida
das mais corriqueiras
- e, por isso, belas -
ficções
pois as ruas
despertam,
com a alma que
as faz únicas,
a substância
indócil
do ser
por isso,
passar pela Rua Carlos de Lacerda
dobrar na Oliveira Botelho
e desembocar na Treze de Maio
com os olhos
atentos
ao que se vê
cria vínculos
intrincados
com
o que as ruas
dizem
- despalavradas -
no próprio chão
por outro lado,
deixar-se despretenciosamente
pelas ruas
permite que os atentos olhos
das passagens
absorvam
de cada alma
algum
fluxo
basta passar pela
rua Governador Teotônio Ferreira de Araújo
- outrora rua da Quitanda -,
repleta dos trajetos,
das histórias,
dos lampejos
vividos ao longo dos anos
para sentir que a rua
tem muito para contar
ainda mais
com os livros e cafés e debates
da livraria
- verde flâmula -
mais antiga do país,
que se torna ainda mais
nostálgica e
memoriosa
com as histórias
do professor
Fernando da Silveira
e seus entusiásticos
seguidores
esse elo
entre homem
caminho
e memória
é a mais pura identidade
- diz a filosofia
oculta
no asfalto
*Ronaldo Junior tem 28 anos, é carioca, bacharel em Direito, licenciado em Letras e escritor. Atualmente, é presidente da Academia Campista de Letras.
www.ronaldojuniorescritor.com
*Este texto foi originalmente publicado no livro “Muros impalpáveis – Recorte poético da cidade de Campos” (edição do autor, 2021), que pode ser lido integralmente no código QR abaixo.
*Texto publicado na edição de hoje (24/07) da Folha da Manhã, na Coluna Folha Letras, no caderno Folha Dois.