São Paulo mudando a cara do bolsonarismo e dando fisionomia ao centro
Edmundo Siqueira 27/08/2024 21:13 - Atualizado em 27/08/2024 21:13
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No meio político, é comum dizer que a eleição seguinte começa assim que a anterior termina. Nessa lógica, a campanha de 2026 terá início assim que o pleito deste ano finalizar a contagem dos votos e definir quem estará à frente das prefeituras e câmaras.

As capitais, pela densidade eleitoral e importância econômica, servem como termômetros para que as forças políticas delineiem suas estratégias para 2026. E São Paulo, a maior e mais rica capital brasileira, parece oferecer respostas para duas questões centrais do binarismo político atual: é possível um bolsonarismo sem Bolsonaro? Existe um centro político no Brasil?

O candidato Pablo Marçal (PRTB) se apresenta como um representante da direita: um empresário-coach que exalta o empreendedorismo e a meritocracia, adota um conceito alargado de liberdade, propõe ideias mirabolantes para a cidade e ataca adversários políticos de forma agressiva, muitas vezes criando factoides. Naturalmente, mantém uma postura anti-sistema.

Marçal possui proximidade com Bolsonaro e já o apoiou financeiramente. No entanto, ele enfrenta como concorrente pela prefeitura de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), o candidato oficialmente apoiado por Bolsonaro. Os ataques de Marçal a Nunes geraram tensões no bolsonarismo, com um recente bate-boca nas redes sociais. Carlos Bolsonaro foi chamado de “retardado” por Marçal.

Mas isso não é tudo. Marçal controla uma gigantesca máquina digital, não apenas por meio de suas próprias redes, com milhões de seguidores, mas também estimulando pequenos perfis a viralizar vídeos curtos de seus posicionamentos. Essa estratégia inclui concursos: quem conseguir mais visualizações ganha, além de curtidas e status, prêmios em dinheiro oferecidos pelo próprio Marçal.

Esse combo de “nova direita”, anti-sistema, coach e influenciador tem o potencial de abafar o bolsonarismo tradicional. Marçal consegue dominar melhor as redes, comunicar-se com mais eficácia, falar de religião com mais convicção e, além disso, exibir coragem ao proferir absurdos midiáticos. Ele se configura, portanto, como uma grande ameaça ao bolsonarismo.

Ainda é muito cedo para prever o resultado eleitoral em São Paulo, mas caso alguém como Marçal avance para o segundo turno, o eleitorado fiel a Bolsonaro pode vê-lo como uma opção mais viável e com maior capacidade de atacar os “inimigos”.

E o Centro?

Enquanto Pablo Marçal surge como uma ameaça ao bolsonarismo tradicional, Tábata Amaral (PSB) se apresenta como uma figura que pode dar nova fisionomia ao centro político no Brasil. Jovem, carismática e com um histórico de defesa da educação e dos direitos sociais, Tábata tem se posicionado como uma alternativa equilibrada diante do extremismo que caracteriza tanto a direita quanto a esquerda.

Nos últimos meses, Tábata intensificou seus ataques a Pablo Marçal, criticando suas propostas que, segundo ela, carecem de seriedade e responsabilidade. Em debates públicos e entrevistas, Tábata tem ressaltado a necessidade de um projeto de cidade que seja inclusivo, sustentável e realista, contrapondo a visão messiânica e muitas vezes irrealista de Marçal.

Em vídeo viral recente, Tábata traz elementos que tentam comprovar a ligação de Marçal com a facção criminosa PCC. Com estética de séries policiais, o vídeo mostra um enredo bem elaborado, com fotos e nomes dos supostos comparsas.
Vídeo de Tábata Amaral ligando Pablo Marçal ao PCC
Vídeo de Tábata Amaral ligando Pablo Marçal ao PCC / Reprodução


A postura de Tábata é emblemática porque ela representa uma tentativa de resgatar o centro político, que tem sido ofuscado pelo radicalismo dos últimos anos. Sua crítica a Marçal não é apenas uma rejeição às suas ideias, mas um antagonismo de estilo.

Se conseguir se firmar como uma voz do centro, oferecendo uma alternativa viável tanto para aqueles que rejeitam o extremismo quanto para os que buscam um governo mais racional e equilibrado, ela pode pavimentar o caminho para a construção de um novo bloco político em 2026.

Assim como Marçal representa uma nova face da direita, Tábata pode se tornar o rosto de um centro renovado, com capacidade de dialogar com diferentes setores da sociedade e construir consensos. A batalha entre essas duas figuras em São Paulo pode ser um prenúncio das disputas políticas que veremos em âmbito nacional nos próximos anos.

O futuro político de São Paulo, portanto, pode ser decisivo não apenas para a cidade, mas para o cenário político nacional. Tábata Amaral, com seu perfil moderado e propositivo, pode dar ao centro a visibilidade e a relevância que ele perdeu nos últimos anos, enquanto Pablo Marçal, com sua retórica agressiva e postura anti-sistema, testa os limites do bolsonarismo sem Bolsonaro.

São Paulo pode mostrar ao país que a mente apavora o que ainda não é mesmo velho, e aprender depressa a chamar de realidade novos cenários políticos.










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