"Qual pobre que pode comprar carro popular por R$ 90 mil? Um carro de R$ 90 mil não é popular. É para classe média", afirmou Luiz Inácio durante uma reunião no (pasmem) Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável. O presidente falava para um órgão criado para pensar social e sustentavelmente as ideias do governo. Mas o que há de sustentável e social em causar mais poluição e caos urbano?
Desonerar e incentivar as montadoras a voltarem a produzir o “carro popular” — modelo 1.0 básico criado nos anos 90 para incentivar as vendas no Brasil — é uma premissa que não se sustenta hoje. Nos níveis de desigualdades que o país atravessa, fazer um veículo custar de 50 a 60 mil reais não fará com que o pobre (como disse Lula) compre carros. Para as pessoas mais vulneráveis e para boa parte da classe média, transporte público bom, pontual, organizado e com preços acessíveis cumpre um papel muito mais efetivo.
Inchar as cidades com veículos, populares ou não, gera problemas de várias ordens. O custo em mobilidade urbana, saúde pública e ambiental, coletivo, portanto, não compensa a volta do carro popular, que certamente será feito com isenções fiscais a montadoras que em sua ampla maioria envia suas divisas para outros países. O papel do governo, de qualquer governo, é justamente encontrar ajustes entre benefícios particulares e coletivos.
A proposta inicial do governo dentro do programa é incentivar a produção de carros movidos a etanol e adaptações nas fábricas para os elétricos, ou híbridos. O impacto ambiental seria sim menor, mas o cálculo final não compensaria. De novo, premissa correta em um argumento inválido.
Por óbvio é muito mais cômodo se deslocar com um carro particular, principalmente em cidades que centralizam comércios e serviços. Além disso, mais carros nas ruas podem gerar mais empregos e movimentar uma cadeia importante. Mas ao lançar uma ideia como essa, o governo precisa ponderar todos os ganhos contra todos os prejuízos, e fazê-lo de forma a que seja favorável coletivamente.
Para que seja válida uma ideia, ou argumento, as premissas devem ser verdadeiras e políticas públicas devem sempre considerar os ganhos coletivos. Do contrário, estaremos de volta aos anos 90.