O problema é que no Brasil há uma sub-representação. Em uma sociedade com 51% de mulheres e 56% de negros, a imagem refletida no “espelho” congresso é distorcida. Além dessa disparidade, alguns parlamentares eleitos no último pleito vieram de uma onda de extrema direita que não havia antes na política brasileira. E apesar de poucos, fazem bastante barulho principalmente onde o debate público se concentra, hoje: nas redes sociais.
Os discursos desse grupo de parlamentares são feitos para conseguir engajamento, curtidas, compartilhamentos e serem espalhados para diversos grupos de WhatsApp. Um deputado que se dedica a anos à uma política pública, nas áreas de educação e cultura por exemplo, não consegue ter o mesmo alcance que outro que posta uma foto com um fuzil nas mãos ou protagonizando alguma briga.
É como a política funciona no novo mundo digital. As redes sociais se tornaram a ágora — a praça pública — moderna, e não há muito o que fazer a esse respeito. Discute-se marcos regulatórios para a internet, tenta-se banir quem passa do ponto, mas é nas redes que os debates acontecem e é lá que as pessoas buscam informação.
O problema é que as instituições públicas não podem atuar em busca de curtidas. O Estado é o organismo que a sociedade criou para regular as relações humanas, para criar condições mais justas de convivência e para tratar a desigualdade. O parlamento é a voz do povo e tem o poder de criar as leis, por isso precisa ser plural e o mais representativo possível.
Existem também organismos independentes ao Estado, que servem para que a sociedade saiba o que acontece nos ambientes do poder e exerça sua cidadania da forma mais plena possível. Esse não servem apenas fiscalizar, mas também para que os permitir que os debates aconteçam com contraditório, ouvindo as partes envolvidas e tentando mostrar quais são os interesses reais em disputa. A imprensa cumpre esse papel, assim como o Ministério Público e os conselhos comunitários.
As redes sociais são caixas de reverberação — quando um som incide sobre uma superfícies refletivas, causando um grande número de reflexões. Muitas vezes não produzem informações verdadeiras, diferente da imprensa profissional que precisa da verdade para sobreviver.
No embate de Lula e Lira o que prevalece é a política, principalmente de bastidor. E acaba por definir as iniciativas que passam e que não passam nas casas legislativas. É ainda de onde vem o poder real. Mas é preciso alertar: o espelho distorcido da sociedade no parlamento pode dar azar; e por mais de 7 anos.