Ao fim dos corredores das peixarias, começo a andar por uma espécie de galpão aberto, repleto de outras bancas de alvenaria, assentadas em corredores que se cruzam, onde vendem-se hortaliças, frutas, legumes e verduras. Mais ao centro, bancas de biscoitos e outros produtos vendidos em compotas. No final, alguns galináceos vivos são comercializados, e um confuso estacionamento se estabelece ao pé de uma das pontes sobre o rio Paraíba.
O tal galpão que abriga as feiras nada mais é que uma estrutura de aço, ferro e alumínio que confere algum conforto térmico e serve para proteger das chuvas os feirantes e fregueses — um grande telhado com treliças expostas para quem está no piso e olha para cima. Os produtos chegam pela lateral, bem cedo, quase de onde chegavam quando o canal Campos-Macaé era navegável e se mostrava uma via importante de escoamento da produção.
Todos esses elementos históricos, circundando uma das mais interessantes e ricas aglomerações urbanas — a feira-livre —, possibilitam uma experiência prazerosa aos domingos, ou em outro dia possível, além de garantir alimentos frescos, em geral de procedência mais saudável e saborosa que as ilhas refrigeradas dos supermercados. Mas o prazer de transitar pelos corredores do mercado campista poderia ser melhor aproveitado em um ambiente mais salubre e de melhor acessibilidade.
Andando apenas 200 metros pela José Alves de Azevedo, em sentido para a avenida 28 de março, chega-se à rodoviária do centro da cidade. Por lá, diferente do entorno do Mercado, diversos ônibus, de várias localidades do extenso município de Campos, além de destinos intermunicipais e de outros Estados, chegam e partem durante todo o dia, inclusive aos finais de semana. A região também conta com muitos passantes, pois é rota para bairros comerciais, com alta concentração de unidades hospitalares, bancárias e escritórios de profissionais liberais.
Transferindo as feiras do Mercado para o Parque da República, e retirando-se a antiquada — e de baixo valor estético — estrutura que serve de telhado, iria desocultar o elemento histórico que completa majestosamente aquele local: o prédio centenário do mercado antigo, chamado de ‘Mercado Coberto’. A construção conta com paredes de tijolos e colunas de concreto que sustentam a cobertura, com perfis de aço e vigas de madeira que, por sua vez, apoiam um telhado de telhas francesas, com aberturas na parte superior para iluminação e ventilação. No exato entroncamento das duas alas longitudinais, com suas correspondentes transversais, uma belíssima Torre do Relógio, de inspiração francesa.
As feiras — de peixe e a grande de hortaliças e verduras — dariam lugar à uma praça aberta, que seria separada apenas pela avenida de um parque urbano de enorme potencial turístico e futuro promotor de qualidade de vida aos campistas, que nasce como continuidade do histórico canal, e que possui um belo anfiteatro. Mantendo-se os comércios “de alma” que já existem no interior do Mercado Coberto, reformulando os pontos de face para essa nova praça surgida e reformando — não haveria necessidade de restaurar — o prédio centenário, a cidade ganharia uma área de convivência, de comércio, de vida noturna e turística de altíssimo valor.
Não perderiam os feirantes; ao contrário. Não dificultaria o acesso dos clientes fiéis às feiras como hoje são; ao contrário. Não seria diminuído a clientela dos comerciantes; ao contrário. E a população ganharia um fantástico espaço.
Levo os alimentos frescos no domingo para casa, e permaneço na esperança de que sociedade, feirantes e poder público possam perceber a riqueza que possuem em uma pequena área no centro da cidade. Além de tudo isso, educação patrimonial e memória, tão necessários aos campistas, estariam trabalhadas de maneira muito efetiva. Cabeças arrancadas, deixemos apenas para os peixes e camarões.