
Embora os manifestantes que ocupam estradas e acampam na porta de quartéis militares sejam chamados de “golpistas” com certa razão — pois pedem uma intervenção injustificada para mudar um processo eleitoral democrático —, o desejo real não é a ruptura, é sim a manutenção do messias no poder.
A ideia de perder a eleição, para boa parte dessas pessoas, significa ser governado por um inimigo; alguém indigno, imoral. E em última análise, significa ser contra as "leis de Deus", devendo os "fiéis" resistirem, como uma provação que lhes foi imposta. Qualquer sacrifício é visto como uma "purificação".
Para além do viés religioso que envolve a questão, existe um líder político que resolveu ficar encoberto. Se Bolsonaro escolheu o silêncio por estratégia ou incapacidade, o efeito, na prática, é o mesmo em seus apoiadores mais radicalizados. Na visão deles Bolsonaro não perdeu as eleições, está aguardando o momento certo, a conjuntura perfeita ou espera ter o apoio em número suficiente para agir e salvar o país da "ameaça comunista".

Os bolsonaristas que resistem bravamente nas ruas, parecem esperar que Bolsonaro reapareça com uma solução mágica e definitiva que os livre da ideia de ser governado pelo PT. Ou pelo "comunismo", dentro da distopia estabelecida. E o silêncio de Bolsonaro favorece essa esperança. A ausência do líder carismático permite que o movimento fique com a responsabilidade de lhe dar voz novamente, lhe conferir a legitimidade necessária para manter-se no poder.
A distopia de quem ainda permanece em frente aos quartéis e agarrados em caminhões nas rodovias brasileiras, é um realismo ingênuo. Uma realidade paralela, criada para reforçar crenças, justificar atos violentos e definir quem pensa diferente como alguém enviesado, cego ou “louco”.
Nos EUA, quando algo semelhante aconteceu e o resultado eleitoral foi contestado, o presente derrotado, Donad Trump, liderou os manifestantes até invadirem o Capitólio, sede do Congresso americano. Estava vivo e presente nos atos golpistas, estava pedindo ajuda para impedir que uma fraude — a "grande mentira" — acontecesse.
Ao que tudo indica, o presidente eleito Lula irá tomar posse em 1º de janeiro. Caso permaneça em silêncio até lá, Bolsonaro reforçará a crença que esse dia não irá acontecer, que algo irá impedir a posse. Restará saber se o realismo ingênuo se concretizará em mais violência ou em um “Capitólio” invadido.
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Edmundo Siqueira
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