Um de seus principais legados para a cidade foi o Palácio da Cultura. Rockfeller recebeu muitas críticas à época, principalmente por erguer um palácio de concreto próximo ao hospital da Santa Casa, e em uma praça arborizada longe do centro. Mas resolveu executar um projeto visionário e inovador, deixando para Campos um templo dedicado à arte e à cultura.
O Palácio da Cultura surgiu da necessidade de ampliação da biblioteca Nilo Peçanha, localizada no Centro da cidade até então, que já não suportava o acervo que possuía, tampouco a quantidade de leitores que a frequentavam.
Para solucionar o problema, Rockfeller chamou o arquiteto Francisco de Assis Leal para desenhar o prédio e o famoso paisagista Roberto Burle Marx para projetar o jardim. O projeto seguiria as tendências vanguardistas europeias e do movimento modernista brasileiro, e possuiria uma área com mais de 9.000 m².
Rock não conseguiu inaugurar seu Palácio. A obra foi entregue em 1973, no mandato do então prefeito Zezé Barbosa. Na gestão de Raul Linhares, o espaço tomou fôlego, com o médico e escritor Wilson Paes à frente da iniciativa.
Além do Palácio da Cultura, o governo Raul Linhares transformou o departamento de cultura da Prefeitura na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (Fcjol). A Fundação funcionou no então recém-inaugurado Palácio que, por ironia do destino, foi batizada com o nome do principal opositor de sua construção. Oswaldo era o responsável pelo jornal Monitor Campista à época que Rockfeller projetou o Palácio para aquele local e fazia críticas pesadas à iniciativa.
O Palácio está nu
Quando o Palácio da Cultura foi construído e idealizado, a Pelinca não era o centro comercial que conhecemos hoje. O amplo espaço dedicado à arte e cultura acabou por ficar no coração de um dos bairros mais frequentados da cidade, e que tem um dos metros quadrados mais caros.
Porém, mesmo com todos esses atrativos, o Palácio está fechado e vazio. Sem atividades desde 2013, parado durante o governo Rosinha Garotinho, foi dado como reaberto no apagar das luzes da gestão Rafael Diniz, para cumprir um acordo homologado pela 4ª Vara Cível de Campos. Os recursos, cerca de R$ 1 milhão, vieram de medida compensatória pela demolição indevida do Casarão Clube do Chacrinha, que existia na rua 13 de Maio.
O fato é que o Palácio da Cultura permanece fechado. Havia uma promessa que no início deste ano iria finalmente ser reaberto, mas não aconteceu plenamente. Alguns eventos ligados à área cultural aconteceram, mas o Palácio ainda está longe de ser utilizado com o potencial que teve e ainda possui — e por toda memória afetiva existente junto aos campistas.
Apesar de ter sido alvo de críticas desde 2019, foi aceita pelo setor cultural a proposta de dividir o local com um Centro Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Cetec), como forma de dividir os custos de manutenção. Pela proposta, a cultura ficaria com salas para reuniões, coworking, bibliotecas, acervo de jornais, arena e sediaria a Academia Pedralva Pedralva Letras e Artes. Mas não aconteceu.
Por sua centralidade e visibilidade, sua importância e simbolismo, o Palácio de Rockefeller, que foi criado para ser um instrumento cultural, precisa reviver. A iniciativa privada pode ser chamada, via editais e processos licitatórios, para explorar o local, com a obrigação de preservar e manter acessível, aderindo aos preceitos culturais impostos nos mesmos instrumentos legais de concessão.
“A roupa nova do rei”, fábula do dinamarquês Hans Christian Andersen, publicada em 1837, conta a história de um rei que se apresentou nu, pensando vestir roupas magníficas, pois fora enganado. O Palácio da Cultura está nu e vazio, e o setor cultural não pode acreditar que ele esteja vestindo roupas de grife da Pelinca.