Edmundo Siqueira
05/07/2022 12:56 - Atualizado em 05/07/2022 12:58
O risco de ruína do Solar dos Airizes, que ficou famoso como “casarão da escrava Isaura”, é tão antigo quanto a lenda. Nos últimos anos ele ficou evidente por qualquer um que passe pela BR-356, indo ou voltando de Atafona. Em 2003, o arquiteto Humberto Neto das Chagas foi o responsável pela obra que possibilitou que o Solar continue de pé, apesar do risco eminente.
Em 2003, com recursos do Fundo Nacional de Cultura, o IPHAN realizou no imóvel os seguintes serviços: desinfestação, escoramento emergencial da estrutura e recuperação do telhado. “Caso esta (obra) não tivesse sido realizada, afirmo, com toda certeza, que o prédio não estaria mais de pé”, disse Humberto, responsável técnico pela intervenção, a este espaço. Em postagem recente em sua rede social, o arquiteto afirma que passados quase 20 anos, “nem um prego foi batido”.
Três anos depois, em junho de 2016 foi realizada vistoria técnica no Solar dos Airizes e foi constatado pelo órgão federal que “o processo de degradação do imóvel é cada vez mais agravado pela falta de conservação”.
"Não acredito que o Solar dos Airizes possa resistir a mais três ou quatro destes eventos (chuvas e ventos fortes), infelizmente." (Humberto das Chagas)
Hoje, com decisão recente da 3º Vara Federal de Campos, com sentença transitada em julgado, o ente responsável pelo restauro do Solar é a prefeitura de Campos. A alegação de falta de recursos não pode ser utilizada como “desculpa”, pela própria determinação do judiciário.
Humberto comentou a decisão judicial e diz ser “imoral” a “eterna alegação de falta de recursos”:
— Entendo que agora, o imóvel está sob a responsabilidade do único ente regional que tem recursos para tal: a prefeitura de Campos. A eterna alegação da falta destes recursos, no meu entendimento é, no mínimo, imoral, vide a enormidade de ações desastrosas no que tange às obras em geral. Para não me alongar com o desprezo de edificações que são de propriedade municipal, sem qualquer preservação, digo que é uma vergonha. Se a prefeitura, no passado, não quis contribuir com pouco para a sua preservação, agora deve fazê-lo com o todo.
Sobre o tempo que ainda resta ao Solar, o arquiteto diz que "ele está prestes a uma perda mais significativa". A olhos vistos, é possível perceber que o prédio já perdeu parte de suas esquadrias e paredes, o que Humberto explica a causa, concorrente ao abandono: Ventos e chuvas fortes contribuem significativamente para este fato. A previsão dada por ele é ainda mais alarmante: "não acredito que o prédio possa resistir a mais três ou quatro destes eventos, infelizmente.
Atualmente, existe termo de cooperação da Sabra, uma empresa captadora de recursos de Minas Gerais, para restauro de patrimônios campistas. O Solar do Colégio, onde hoje funciona o Arquivo Municipal, e o Solar dos Airizes figuram como objetos centrais. Perguntado se houve alguma consulta ou convite de participação no projeto, Humberto confirma, mas ressalta que “as pessoas envolvidas neste processo gostariam que eu fizesse um trabalho voluntário”.
O restauro do Solar dos Airizes não pode mais ser chamado de emergencial, pois segundo a definição do dicionário, é algo “que não pode ser adiado”, e ele vem sendo postergado há mais de 20 anos. Cumprir a decisão judicial não é questão de escolha, é uma obrigação. Portanto, o abandono daquele patrimônio é omissão, que cabe responsabilização. Para que o Airizes não se torne apenas uma lenda, basta que obrigações sejam cumpridas, mesmo que tardias.