Arthur Soffiati - Ilha da Madeira
* Arthur Soffiati 14/09/2024 08:46 - Atualizado em 14/09/2024 08:53
 
Na minha segunda viagem a Portugal, eu não poderia deixar de visitar as ilhas. Minha intenção era conhecer a ilha de Porto Santo, da Madeira e as que formam o arquipélago dos Açores. Parte da Macaronésia, enfim, que significa Ilhas Afortunadas. Na pequena Porto Santo, morou Cristóvão Colombo. Tive de cortá-la provisoriamente do meu roteiro. Para chegar até ela, eu teria de partir de Lisboa e voltar a esta cidade para chegar à Madeira. Seria consumir tempo. Parti para a ilha da Madeira e desci no aeroporto Cristiano Ronaldo, jogador que lá nasceu. Passei pelo hotel Cristiano Ronaldo, meio decadente. No centro de Funchal, capital da ilha, foi erguida uma estátua de Cristiano Ronaldo. Mais adiante, encontra-se a casa da mãe de Cristiano Ronaldo. A ilha vive em função de Cristiano Ronaldo.

Trata-se de uma ilha vulcânica. O ponto culminante situa-se no pico Ruivo, com 1862 metros. Com média de 1372 metros de altitude, a ilha é muito alta para sua área total. Sua costa é bastante acidentada, com altas falésias e praias de seixos. Os portugueses a atingiram em 1419, no contexto da expansão marítima. Encontraram uma paisagem diferente das de Portugal. Subindo as encostas, grandes e pujantes florestas chamaram a atenção. Daí o nome de Madeira. Nenhum ser humano a habitava. Não havia rios. Apenas uns sulcos mais profundos nas encostas com vazão variável de acordo com as chuvas. São as chamadas ribeiras. A maior delas é a ribeira da Janela, com apenas 40 km de extensão. Esses sulcos podem ficar secos ou com o mínimo de água na estação seca, assim como podem transbordar violentamente com as chuvas no alto da montanha. Em 2010, houve um transbordamento altamente destruidor na ribeira Brava.

Recorreu-se muito ao fogo para desbaratar florestas e abrir áreas para a agricultura e a pecuária desde o século XVI. Aliás, um incêndio descomunal tomou conta da ilha no início daquele século, obrigando os colonos a se refugiarem no litoral. Em várias ocasiões, eles tiverem que entrar no mar para se proteger. Criou-se, então, um sistema de irrigação para transportar água das partes altas para as partes baixas. São as levadas: canaletas a céu aberto.

Mais uma vez, eu estava num hotel simples em vez dos abomináveis hostels. Do centro de Funchal até ele, eu tinha de subir longas e íngremes ladeiras, testando meu corpo. Andei pela cidade velha. Por várias vezes, nos restaurantes, pedi o prato principal da cidade: peixe espada preto com banana. E, claro, vinho tinto ou branco ao lado de vinho da Madeira, ao fim das refeições. Fui a pontos altos de teleférico não conseguindo atingi-los a pé. Tentei entrar no jardim botânico, mas desisti pelo alto preço do ingresso. Vi carretas de madeira sem roda, usadas para descer ladeiras. No passado, um recurso dos moradores. Hoje, atração turística.

Fiz duas excursões turísticas sem as motivações de um turista (que considero muito superficiais). A primeira passou por Câmara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Porto Muniz, São Vicente, voltando a Funchal. Nessa primeira, na parte oeste da ilha, passei num ponto alto com vegetação bastante semelhante aos campos de altitude brasileiros. Mas há árvores muito antigas, com troncos grossos e tortuosos.

No dia seguinte, visitei a parte leste, saindo de Funchal rumo a Santa Cruz, Machico, Santana e muitos vilarejos. Foi, então, que mergulhei na floresta, na chamada laurisilva, protegida pela Unesco. Portentosa. Árvores altaneiras com caules compridos e retilíneos. E água. Fica demonstrado que as florestas são caixas d’água importantes para o ambiente e as pessoas. No entanto, um incêndio de dez dias assolou a ilha a partir de Ribeira Brava depois que por lá passei. A Europa também sofre com as mudanças climáticas. O solo e o ar estão mais secos. O ambiente também se torna mais favorável a incêndios.

Estive em pontos altos, onde o clima não permite o desenvolvimento de florestas e de onde pode se avistar a ilha de Porto Santo. Há uma excursão naval de dia inteiro saindo da Madeira para Porto Santo. Dispusesse eu de mais um dia e teria navegado até lá. Enfim, em três dias, explorei a ilha com o fim de aprender. Não como os turistas que encontrei. Em nenhum lugar por onde andei, havia tantos turistas como em Funchal e nas excursões que fiz à ilha da Madeira. Não sou preconceituoso, pois também eu era um turista. A questão é a postura. O protótipo do turista é aquela pessoa que consome tudo: desde comida a paisagens. Aqueles casais idosos que andam de bermuda, tênis, sandália. Aquelas pessoas de meia idade que escutam, mas não ouvem. Que enxergam mais não veem. Que tiram fotografia de tudo.

Eles dominam. Hotéis caríssimos ergueram-se em Funchal sobre plantações e vilarejos para eles se hospedarem. Túneis furaram as montanhas da ilha para abreviar os caminhos. Os moradores de Funchal vivem apartados. O turismo é a primeira fonte de renda da ilha. Os guias turísticos necessariamente falam inglês. Alguns falam francês e espanhol. Falam mal, mas isso não vem ao caso. As explicações entram por um ouvido do turista e saem pelo outro.

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