Maestro Ethmar Filho - 'Deixou a URSS sob circustâncias misteriosas'
Maestro Ethmar Filho 06/06/2024 16:33 - Atualizado em 06/06/2024 16:44
 
Sergei Aleksandrovich Koussevitzky, nasceu em 1874, na cidade russa de VishniyVolochek, (difícil de pronunciar) numa família de músicos judeus pobres. Ele, um dos meus históricos maestros favoritos, se destacou na música e, quando adolescente, ganhou uma bolsapara estudar contrabaixo na Escola da Filarmônica de Moscou. Seu rápido progresso noinstrumento o levou à nomeação para o Teatro de Ópera Bolshoi em 1894. Com o início do séculoXX, começou a fazer rápido progresso, profissional e pessoal: em 1901 foi nomeado contrabaixoprincipal do Bolshoi; em 1902 casou-se com sua primeira esposa, a dançarina Nadezhda Galat; eno ano seguinte viajou para Berlim para dar um recital solo de contrabaixo. O curioso é que, em1905, se divorciou da primeira esposa e imediatamente casou-se com a segunda: Natalya Ushkov,herdeira de uma fortuna obtida no comércio de chá. Sua riqueza recém-adquirida permitiu-lhedeixar a Orquestra Bolshoi e mostrar-se como exemplo de brilho dramático. Em carta à imprensa,reclamou que na Orquestra Bolshoi estava sobrecarregado "como um boi, como um escravo,como um hilota". Financiado pela fortuna da família de sua esposa, ele era livre para fazer o quequisesse e começou a organizar uma orquestra para sua prática de regência. Em 1908, sentiu-sesuficientemente ensaiado para contratar a Filarmónica de Berlim, vejam só, para um concerto deestreia. Na verdade, é justo dizer que alguns maestros chegaram ao ponto de promover ativamenteos seus próprios dotes – provavelmente ninguém mais do que Serge Koussevitzky, cuja notávelcarreira culminou num mandato de um quarto de século como líder da Orquestra Sinfónica deBoston. Na verdade, a aura de reverência e mistério que rodeava este maestro nascido na Rússiafoi cultivada por ele próprio – de modo que até hoje continua a ser uma figura discutível edebatida.. É preciso entender que o século XX também será lembrado como uma época em que acultura musical dos Estados Unidos foi influenciada pela chegada de milhares de exilados eemigrantes europeus - muitos dos quais deixaram as suas terras natais por causa de regimespolíticos repressivos. Esses músicos fizeram muito para mudar os EUA e, em muitos casos, osEUA também os mudou. Mais uma vez, Koussevitzky figura com destaque entre esses artistas,pertencendo, até certo ponto, a ambas as categorias: ele foi um exilado da Rússia em 1920 e umemigrante para os EUA em 1924. Koussevitzky viveu numa era politicamente carregada, e as suasexperiências parecem ter exercido sobre ele uma influência "politizadora".

O impacto de Sergei Aleksandrovich na vida musical dos Estados Unidos foi poderoso eainda é sentido de várias maneiras. Mas para avaliar plenamente as contribuições de Koussevitzky– para determinar como os seus pontos fortes e fracos, as suas ambições e realizações, e as suasexperiências pessoais como exilado e emigrante influenciaram a música deste lado do Atlântico– devemos tentar penetrar na mitologia construída em torno do homem, não do maestro.Ironicamente, em vez de servir para derrubar Sergei do seu pedestal, tal abordagem sublinha oalcance extraordinário das suas realizações. Quando ele deixa de ser um deus do Olimpo e setorna um mero mortal, o trabalho de sua vida como patrono musical, editor e maestro torna-seainda mais notável. Para avaliar suas influências, deveríamos primeiro dar uma olhada crítica emsua vida. Infelizmente, Koussevitzky foi, em muitos aspectos, um obstáculo a qualquer esforçodesse tipo. Por um lado, ele e aqueles que o rodeavam tentaram controlar estritamente a suaimagem pública; por outro, confundiu o público com relatos incompletos ou mesmo conflitantes.Ele ingressou na Escola da Filarmônica de Moscou aos 14 ou 17 anos?Ele foi ou não aluno dolendário Arthur Nikistch? O que o levou a se divorciar da primeira esposa e a se casar novamentequase imediatamente? Quando ele se converteu do judaísmo ao cristianismo e por quê? E – maisintrigante ainda – até que ponto ele dominava tecnicamente a arte de reger? Embora não falteminformações sobre Sergei, especialmente no que diz respeito aos seus anos na Orquestra Sinfônicade Boston, nem todas afirmações são inteiramente confiáveis. O selo de aprovação do crítico doNew York Times Olin Downes – ele “elogiou” a Orquestra Sinfônica de Boston chamando-a de"uma banda que o Sr. Koussevitzky trouxe para uma flexibilidade, sensibilidade e virtuosismoúnicos" – pode ter sido influenciado pela amizade pessoal com o maestro. Da mesma forma, asimpatia do famoso compositor Aaron Copland por Koussevitzky pode ser baseada na gratidãopela execução de suas obras pelo maestro também. Ele deixou a URSS em 1921 "sobcircunstâncias misteriosas", estabelecendo-se em Paris. Mudou-se para os EUA em 1941 e morreuem Princeton, Nova Jersey, em 1966.

Maestro Ethmar Filho – Mestre e Doutorando em Cognição e Linguagem pela UENF, regente decorais e de orquestras sinfônicas há 25 anos.

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