José Eduardo Pessanha: A irascibilidade como destino global
O mundo hodierno tem se revelado pródigo em ações desmazeladas ou atabalhoadas, nem sempre por mero engano, no mais das vezes por interesses em movimentar a indústria da guerra, na destruidora busca incessante pelo poder. Sempre se definiu, no campo das ciências sociais, que “onde quer que coexistam duas ou mais pessoas, haveria a necessidade de definir regras de convivência, limites de ação e deveres comuns”. Essa é uma antiga definição de POLÍTICA, resumida como “a arte de conciliar interesses”. Basta que indivíduos se agreguem para que, ainda que inconscientemente, surja a Política. No esteio acadêmico, é uma moral normativa do governo da sociedade civil, com implemento de consecução de relações de regularidade e concordância dos fatos com os motivos que inspiram as lutas em torno do poder no Estado e entre os Estados.
Já a DIPLOMACIA surge como instrumento necessário de política pública, a política externa de um Estado que deve atender aos anseios da população e visar os interesses nacionais, nas suas múltiplas áreas (relações económicas, sociais, culturais, negociação e celebração de acordos, etc.). Em última instância, envolve a comunicação e a negociação entre representantes de diferentes países para alcançar objetivos mútuos. Por estas acepções relacionadas a Política e a Diplomacia, estes vieses tem sido o “norte” do que, usualmente, se condicionou chamar de “sociedade civilizada”, sendo benchmark nas aplicações relacionais entre Estados, pois evita desgaste desnecessário de energia e recursos, podendo estes, serem direcionados para fins sociais e evolutivos.
Ocorre que nos últimos tempos, o mundo tem se deparado com uma série de medidas despóticas, beligerantes, destrutivas ou mesmo amorais que tem surpreendido todas as camadas diplomáticas, dado ao fato que se avulta uma escalada com previsões catastróficas. Não se trata de conflitos no Oriente Médio, área do globo normalmente conflagrada, onde seres diferentes, socialmente falando, com conceitos antagônicos, necessitam dividir o mesmo espaço planetário, mas sim de uma epidemia de conflitos que se assoma a cada dia.
Causou-nos estupefação ser descoberto que o Governo de Israel “escolhe” seus alvos sem um mínimo de criticidade, amparado, quase que exclusivamente em AI (inteligência artificial). Estamos falando de bombardeios com inúmeras vítimas inocentes. Não há aqui qualquer posicionamento sobre a guerra ou valoração das razões de cada um, fato que, inclusive, já foi objeto de matéria anterior, mas sim da análise dos resultados ante a banalização da escolha dos alvos. E mais: Israel admite que “errou” ao bombardear um carro da ONG World Central Kitchen (WCK) em Gaza, quando estas pessoas, imbuídas de caráter humanista, distribuíam ajuda alimentar. Pergunta-se: o que farão as “autoridades”? Há centenas de anos que mesmo as guerras mais bárbaras tinham intervalos para recolhimentos dos mortos e feridos nos campos sangrentos de batalha. Será que hoje nem isso é mais possível? Este é o caminho da humanidade? Ainda centrado nesta guerra milenar dos judeus e palestinos, Israel destruiu o que “se dizia ser” (há uma guerra de contrainformações) uma seção consular da embaixada iraniana em Damasco, com a morte de membros da Guarda Revolucionária iraniana. Ainda que aparente ser um embuste o fato de militares de alta patente iranianos, que sabidamente fornecem armas contra Israel, estarem na Síria, esta ação é mais um capitulo para catapultar mais um elemento pra a guerra: o Irã.
Não podemos deixar que novas guerras apaguem as mais antigas (nem tanto) em curso: Rússia e Ucrânia continuam a autodestruição, agora com Kiev sendo mais intrusiva, inclusive financiando grupos anti-rússia e usando de drones kamikases para impor destruição em território russo, fato que tem se tornado mais recorrente, o que, por sua vez atrai mais reações destrutivas da potência militar russa.
Como dito no início do texto, tais atrocidades não estão apenas nesta área delimitada do planeta. Aqui por nossas paragens, o nível de intolerância tem subido de forma logarítmica. O ditador Maduro, com suas decisões megalômanas (no mais das vezes com a omissão do Brasil), sempre visando sua perpetuação no poder e a exploração do miserável povo venezuelano, usando de uma cortina de fumaça para cobrir uma política interna fracassada, além de ameaçar a vizinha Guiana com a guerra, “resolveu” criar uma lei sobre área do país vizinho, determinando, por esta, poder sobre “Essequibo”, tudo pela sede do petróleo”, como já é do conhecimento geral.
Por fim, temos o “alucinado de Buenos Aires”, o presidente argentino, Javier Milei, certamente um caso patológico, de comprometida saúde mental, eleito pelos argentinos, que passa o tempo tentando operacionalizar suas bravatas e esfacelar a política externa de um país falido, que sobrevive de empréstimos do FMI e do vizinho Brasil. Não bastasse suas trocas de farpas com o presidente do México, outro insano, agora acusou o presidente colombiano Gustavo Petro de “assassino terrorista”, levando ao quase rompimento das relações diplomáticas entre os países. Como cereja do bolo, no Equador, imerso no lodaçal da falta de controle do Estado, a Embaixada do México foi “invadida” para prender um “asilado”, em um vergonhoso atentado as regras mínimas de direito internacional e inviolabilidade dos domicílios diplomáticos, levando ao cancelamento da relação diplomática entre México e Equador, ambos polos negativos de drogas, corrução e assassinatos.
Brevemente tecemos alguns exemplos do panorama mundial dos Estados em rota de colisão. Falta apenas bom senso ou sobra sede de poder e desrespeito pela vida humana? Creio. Infelizmente, que a segunda assertiva é a certa! Tempos nebulosos!