Felipe Manhães: WhatsApp, redes sociais e bom senso
Felipe Manhães - Atualizado em 27/03/2024 08:29
Felipe Manhães, advogado
Felipe Manhães, advogado / .
Até os últimos anos do último século do milênio passado, também conhecido como final dos anos 90, não existiam redes sociais, aplicativos, internet no telefone e muito menos o WhatsApp. Até então, todos vivíamos bem, em paz e harmonia.
Com o surgimento e a rápida expansão dessas novidades, tarefas do nosso cotidiano se tornaram mais fáceis e rápidas de se executar e pudemos nos comunicar como nunca.
No entanto, hoje, com a consolidação global desses aplicativos e milhares de outros, vivemos um pequeno caos em nossos telefones e em nossas vidas. Mas a culpa é da tecnologia, da inovação e da modernidade?
Quando nada disso existia, as pessoas ligavam para o seu celular para conversar, antes disso, para o telefone fixo, e só eram atendidas quando tinha alguém em casa. Antes ainda, as pessoas iam até a casa das outras para conversar, enviavam cartas, deixavam recados com alguém, até chegarmos aos pombos-correios, sinal de fumaça, etc. E todos viviam bem, em paz e harmonia. Ninguém reclamava, brigava, ou “bloqueava” ninguém.
Hoje, experimente ficar um dia sem responder alguém no WhatsApp ou nos chats das redes sociais. As pessoas se enfurecem, querem tirar satisfação com você, saber o motivo pelo qual você não respondeu rápido, onde você estava, etc. A onipresença virtual se tornou uma obrigação e é preciso estar conectado 24 horas por dia.
É claro que isso é uma distorção e um uso equivocado da funcionalidade dessas ferramentas. Em primeiro lugar, o telefone pertence ao dono, e ele faz o uso que bem entender. O destinatário não é obrigado a atender ou responder na hora que o remetente quiser. O celular, ao contrário do que muitos pensam, é um aparelho eletrônico, não uma parte do corpo. Não é porque ele cabe no bolso, que lá tem que ficar o tempo todo.
O WhatsApp, percebendo o que estava acontecendo, permitiu ao usuário, inclusive, retirar a notificação de recebimento, de cor azul. Mas as pessoas não mais respeitam isso. Se a mensagem chegou, não chegou, foi visualizada ou não, elas não querem nem saber. Se foi enviada, tem que ser respondida, e bem rápido. Em outras palavras, os usuários transformaram o WhatsApp em uma doença, uma paranoia, que tira o sossego deles mesmos e nos retira cada vez mais do mundo real para o virtual. Isso causa um dano enorme à saúde mental das pessoas, que é tão ou mais importante que a saúde física, propriamente dita.
Quando estamos digitando com os olhos na tela do celular, não prestamos atenção em nada que acontece ao nosso redor. Acidentes domésticos, acidentes de trânsito, mortes estão sendo causadas porque sentimo-nos na obrigação de nos comunicar o tempo todo.
Em última análise, essas tecnologias surgiram para facilitar a vida das pessoas, e não criar problemas, graves, diga-se de passagem.
Como já diz a música, é preciso saber viver, e, da mesma forma, saber usar as tecnologias com bom senso, educação e parcimônia.
*Felipe Manhães é advogado

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