Arthur Soffiati - Culturas africanas (IV)
Arthur Soffiati - Atualizado em 15/11/2023 09:34
Civilizações da África ocidental
Sob essa denominação, Toynbee designou uma série de culturas sobrepostas no tempo e coexistentes no espaço, talvez relacionadas entre si, ainda não suficientemente conhecidas para uma análise individualizada de cada uma. Ele escreveu: “As civilizações africanas não foram as únicas envolvidas em contatos próximos com a civilização ocidental desde as últimas décadas do século XVII. É possível pensar que seja mais exato descrevê-las como ‘satélites’ do que como filiadas do Ocidente. Hoje em dia é difícil descobrir alguma sociedade não-ocidental, seja do tipo civilizado, seja do pré-civilizado, que não tenha sido envolvida na órbita da civilização ocidental em algum grau, voluntária ou involuntariamente. Esta relação entre elas e o Ocidente pode, entretanto, desenvolver-se apenas como uma fase, a julgar pelo que aconteceu após o desenvolvimento da civilização siríaca ou helênica. Com base nesse precedente histórico, parece possível que as civilizações do Ocidente e seus satélites possam combinar-se numa nova civilização ecumênica que ofereça contribuições de todas elas”. O historiador divagou sobre as civilizações africanas e fugiu do tema.
Toynbee reconhece uma civilização africana além da egípcia, da meroítica e da copta na sua última revisão de “Um estudo da história”, publicada em 1972 (no Brasil, Brasília: Universidade de Brasília/São Paulo: Martins Fontes, 1986). Explica-se essa lacuna na primeira versão da obra, porque as pesquisas ainda não haviam descoberto fortes evidências de outras civilizações em solo africano além da egípcia, meroítica e copta. Ainda mais, as investigações mostraram que a civilização do oeste da África não é única. Existem outras. O não reconhecimento de culturas econômica e socialmente complexas na África Ocidental se deve muito ao processo de escravização e ao racismo. Mas Toynbee estaria disposto a reconhecer outras civilizações na África, pois ele refutava a raça como fator responsável por culturas mais refinadas. Repudiava o racismo.
Cabe observar que suas palavras não mais se sustentam. As civilizações africanas pré-islâmicas e pré-europeias teriam no máximo filiação com a egípcia e com a meroítica. Elas se constituíram antes da expansão islâmica e ocidental, ou mesmo durante, mas de forma independente. O contato ocorreu mais tarde. Aí, sim, verificou-se um processo de islamização que acabou engolido por um processo global de ocidentalização.

Civilização de Benin
Parece que a matriz das civilizações africanas ocidentais foi a cultura de Nok, cuja existência se estendeu de 900 a. C. a 200 d. C. Entre tais civilizações, encontra-se a de Benin, que se alastrou por terras hoje correspondentes à Nigéria. Ela se desenvolveu antes da chegada dos muçulmanos e dos europeus. Sua arte manifestou-se na argila, no cobre e no bronze.
A cultura de Benin, difundida por uma grande área através de aldeias, acabou se unindo num grande império conhecido como Benin ou Edo, tendo existido entre 1440 e 1897. É preciso distinguir cultura de império e reino. Uma cultura pode se manifestar fora de uma unidade política, como um império e um reino. Esse é um equívoco muito comum nos livros de história. Observe-se também que uma cultura pode ter fronteiras consistentes ou porosas. A egípcia tinha fronteiras culturais robustas. Na África Ocidental, parece ter havido um intenso intercâmbio cultural. Benin também foi um grande estado africano pré-colonial. A cidade de Ubini foi fundada em 1180 d. C., sinal de que a cultura Benin já existia antes de europeus e islâmicos. Prova também que os povos africanos são capazes de criar culturas materiais complexas, já que, no plano imaterial, todos os povos, do mais simples ao mais sofisticado, produzem culturas complexas. Na parte meridional, o império era banhado pelo oceano Atlântico onde desemboca o rio Niger. O comércio marítimo era intenso.

Civilização de Gana
O reino de Gana existiu entre os séculos IV e XII na África. Seu território se estendia em território hoje correspondente aos países Mali e Mauritânia. Ele se situou nas proximidades do deserto do Saara, entre os rios Níger e Senegal. Foi fundado por comunidades de agricultores. O reino de Gana abriu novas rotas de comércio entre o interior da África e o mercado internacional do mar Mediterrâneo. Era riquíssimo em ouro.
A descoberta de novas rotas do ouro subtraiu o monopólio que o reino detinha sobre esse metal. A expansão do islamismo selou o fim do reino. As guerras internas também enfraqueceram a entidade política, mostrando que as civilizações apresentam traços muito semelhantes em qualquer continente. Registra-se uma seca muito severa, que teria contribuído para afetar profundamente a agricultura do reino e torná-lo vulnerável a invasões estrangeiras. Mas não se pode falar que esse fenômeno climático tenha decorrido de relações inadequadas entre sociedade e natureza.

Civilização de Mali
Também sofrendo influências culturais de civilizações vizinhas, a de Mali reuniu-se num império anterior à invasão islâmica e europeia. Ela perdurou de 1235 a 1670 na região de Manden, correspondente aos atuais Mali, Serra Leoa, Senegal, Gâmbia, Guiné e sul do Saara Ocidental. Foi uma das unidades políticas mais poderosas de toda a história humana. Sua riqueza provinha do ouro e de pedras preciosas. O império começou com o pequeno reino Mandinga, no curso superior do rio Niger, expandindo-se a partir daí.
Civilização de Zimbábue
Na parte meridional do continente africano, floresceu a grande civilização de Zimbábue. A arquitetura de pedra é a sua grande marca. Como, no passado, não havia fronteiras rígidas, o império de Zimbábue (1220-1450 d. C.) deve ter alcançado as costas do Índico, onde atualmente existe o Estado nacional de Moçambique.
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