Centro de Campos vive: CDL Jovem "ocupa" nome de Coletivo Cultural
10/12/2021 13:44 - Atualizado em 10/12/2021 14:12
Um largo, um terreiro ou um rossio — hoje chamamos de “praça” — sempre foi um espaço de interação. Mesmo quando ainda era chamada assim — de rossio, um terreno roçado — a praça cumpria o papel de convivência entre os diferentes; onde a diversidade convivia em relativa harmonia. Nos espaços públicos de uma cidade, a população pode manifestar sua territorialidade e ocupá-los física e socialmente. Neles, os fiéis podem demonstrar sua fé, os poderosos, seu poder, e os pobres, sua pobreza. Expostas, estão, as potencialidades e as mazelas de um centro urbano.
A convivência entre esses “diferentes” foi atritada na manhã desta sexta. Um grupo, formado por professores, pesquisadores e artistas, criou um projeto cultural, em 2018, que atua ainda hoje nos espaços públicos na região central. O “Circuito Centro Vivo” vem realizando uma série de atividades relacionadas à história, fotografia, arquitetura e artes. E eles foram surpreendidos quando a CDL e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico lançaram, na tarde de ontem, o projeto “Movimento Centro Vivo”, ocupando o calçadão de Campos com show de artista local (o cantor Apollo), com objetivo de atrair público para a área central, levando “os consumidores a voltar a frequentar o Centro”.
O coletivo tem interesse em incentivar a ocupação do centro urbano com arte e cultura. A CDL e a prefeitura buscam atrair os consumidores para a área central. Os dois movimentos querem manter o “centro vivo”. Isso é ótimo. Mas poderiam coexistir?
  • Show popular, no centro de Campos, idealizado pelo Movimento Centro Vivo. (Foto: Carlos Grevi)

    Show popular, no centro de Campos, idealizado pelo Movimento Centro Vivo. (Foto: Carlos Grevi)

  • Evento

    Evento "Virada Cultural", no Parque Alberto Sampaio, realizado pelo Circuito Centro Vivo.

“O Centro é “além disso”. Nosso coletivo (Circuito Centro Vivo) é para ocupar o centro com arte e cultura, principalmente fora do horário comercial, mostrando que o centro não é apenas comércio. Fizemos a Virada Cultural no Parque Alberto Sampaio, carnaval fora de época, ocupação do beco (Travessa Carlos Gomes), ocupamos a praça Tiradentes, enfim, é só as pessoas jogarem no Google que acham facilmente”. Disse Ianani Dias, mestranda na UFF Campos e idealizadora do movimento cultural.  "Somos da área da arquitetura e da geografia, e debatemos e discutimos o planejamento urbano e o desenvolvimento regional. Não vemos contradição entre comércio e ações como a nossa, pelo contrário. Inclusive tínhamos apoio da Carjopa"
A CDL se manifestou por nota, informada a este espaço em primeira mão. A inciativa surgiu da CDL Jovem, liderada por Ralph Pereira. Na nota, diz que "por desconhecimento, demos ao nosso evento um título que acabou por se confundir com o nome de um coletivo que faz um trabalho muito importante, com o mesmo intuito e pensamento nosso: revitaliza o centro". E mudará o nome:  
— Na próxima semana e a fim de evitar qualquer mal entendido a este respeito, adotaremos um novo título para o nosso evento, que passará a se chamar "HAPPY HOUR CENTRO A MIL", utilizando em parte do título marca da CDL Campos e que é reconhecida por todos na cidade — disse Ralph, por meio de nota.  "Nossa entidade sempre foi e será aberta ao dialogo e convida a todos que desejam o bem da nossa cidade para que possamos caminhar juntos, sempre que o assunto for empreendedorismo e desenvolvimento econômico".
O centro — finalmente — cumpre seu papel
Em Campos, não se pode falar em praça pública (como toda praça é de fato) sem que sejamos apresentados à imagem mental da Praça do Santíssimo Salvador — apesar de haverem outras tantas praças e logradouros de importância vital para a formação da cidade. Seja na “Campos colonial”, ou na urbanidade atual, uma praça deve cumprir esse papel emancipador, sendo um espaço polivalente e palco de muitas manifestações dos costumes e hábitos.
Cultura, comércio, arte, vendedores de rua, grandes empresários e entregadores de aplicativo em sua bicicleta, ocupam o mesmo lugar na praça. O centro é vivo justamente por ser democrático. Seja “movimento” ou “circuito”, manter o vivo a centralidade é essencial.
Por obvio, plágio e cópias não autorizadas devem ser coibidos. Qualquer empreendimento na cidade, saja comercial ou cultural, deve fazer uma pesquisa prévia de nome, justamente para não afetar direitos já adquiridos. A CDL deveria ser a primeira a saber, e orientar nesse sentido.
Segundo a Ianani, o “Circuito Centro Vivo” já foi objeto de tese acadêmica e noticiado na imprensa local (Folha1). Na "praça pública virtual" (Instagram) possuem mais de 2 mil seguidores. De fato, “movimento” e “circuito” são sinônimos semânticos. O nome é o mesmo. Ela se diz “muito chateada” e relata a dificuldade de produzir cultura e arte “nessa cidade”. E quem pode contradizê-la quanto a isso? Alias, no setor cultural de Campos, plágio não é lá algo muito incomum. 
A idealizadora do reforça que "não há contradição entre comércio e cultura; pelo contrário. Acreditamos na refuncionalização do centro, que ele deve ser refuncionalizado para além de um comércio ligado a setores já conhecidos. Ele (o centro) pode ser ampliado e ter outras funções e aumentar o trabalho e a renda".
A CDL Jovem talvez tenha se precipitado. Mas a iniciativa é boa. Comprometeu-se a mudar o nome e pede desculpas pelo ocorrido. Reforça que "jamais teve qualquer intenção de confundir seu evento com a brilhante atuação do Circuito Centro Vivo, apenas a mesma boa intenção de fazer algo pelo bem de nossa cidade, neste caso especialmente pelo centro de nossa cidade".
O centro de Campos ser disputado é sempre uma notícia boa. Ele necessita disso. Uma praça, ou o centro, é um espaço de cultura, poder, religião e comércio. Exposto de forma visível em edificações, e compreendida pelas vivências sociais. Mas, acima tudo deve ser um espaço de cidadania. De todos, portanto.
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Nota da CDL Jovem na íntegra:
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"Happy Hour Centro a Mil
Na última quinta-feira, tiramos do papel e realizamos um dos projetos da gestão 2020-2021 da nossa CDL Jovem. Nosso Happy Hour no calçadão do centro.
Evento para o qual tivemos apoio @pmcg através da secretaria de des eco e tur, cervejaria Tropica, além das lanchonetes da região.
Por desconhecimento, demos ao nosso evento um título que acabou por se confundir com o nome de um coletivo que faz um trabalho muito importante, com o mesmo intuito e pensamento nosso: REVITALIZAR O CENTRO.
A CDL Jovem jamais teve qualquer intenção de confundir seu evento com a brilhante atuação do @circuitocentrovivo, apenas a mesma boa intenção de fazer algo pelo bem de nossa cidade, neste caso especialmente pelo centro de nossa cidade.
Inclusive, já na próxima semana e a fim de evitar qualquer mal entendido a este respeito, adotaremos um novo título para o nosso evento, que passará a se chamar "HAPPY HOUR CENTRO A MIL", utilizando em parte do título marca da CDL Campos e que é reconhecida por todos na cidade.
Nossa entidade sempre foi e será aberta ao dialogo e convida a todos que desejam o bem da nossa cidade para que possamos caminhar juntos, sempre que o assunto for empreendedorismo e desenvolvimento econômico".
 
 
 
 
 
 

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    Edmundo Siqueira

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