Agro e Faria Lima querem um presidente que saiba usar garfo e faca
31/08/2021 21:00 - Atualizado em 31/08/2021 21:02
O agronegócio — aquele de alta tecnologia e produtividade, e em geral exportador — parece ter desembarcado de vez do governo Bolsonaro. O que parecia antes ser um setor simbioticamente ligado ao bolsonarismo, divulgou na última segunda-feira um manifesto fazendo uma defesa enfática da democracia e manifestando preocupação com “os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso país”.
Previsto para ser divulgado hoje (31), outro manifesto, dessa vez do grande capital brasileiro, apelidado comumente de “Faria Lima” (avenida considerada o coração do mercado financeiro em São Paulo), foi adiado. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, suspendeu a sua divulgação alegando desgaste com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), que levou dois bancos públicos brasileiros — Banco do Brasil e Caixa Econômica — ameaçarem deixar a entidade caso o manifesto fosse divulgado. Segundo apurou o jornal O Globo, o real motivo seriam pressões de Arthur Lira, presidente da Câmara, e Paulo Guedes, ministro da Economia.
No Agro, sete entidades do setor, incluindo a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), afirmam que o Brasil não pode se apresentar ao mundo como “uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais”. O agronegócio de ponta percebeu que o “custo Bolsonaro” é alto demais para que continuem se omitindo, e decidiram separar-se de vez de setores que aceitam comemorar, junto com o governo, o Dia do Agricultor com a imagem de um cangaceiro de rifle em mãos.
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Os “Faria Limers” querem um presidente minimamente civilizado para que não atrapalhe os negócios. Guedes, antes festejado por quem habitava a avenida, agora é chamado em letras garrafais — em grandes cartazes amarelos com o rosto do economista em preto e branco —, de "faria loser" numa referência a palavra "perdedor" em inglês.
A questão não é ideológica. Mas um presidente que coma com a mão e quebre todos os talheres de louça da mesa não serve. Apostaram em uma mudança impossível de alguém que nunca negou quem era.
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    Edmundo Siqueira

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