A vaidade do PT pode criar um segundo turno democrático em 2022?
Na noite desta quinta-feira, o ex-presidente Lula concedeu uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, e começou dizendo não existir “pergunta proibida” ali. Reinaldo foi um crítico ferrenho dos governos do PT e mudou o tom quando reconheceu que não havia provas na condenação que levou o líder petista à prisão e o retirou da disputa em 2018. Nisso, está coberto de razão, assim como está nas críticas embasadas que faz a operação Lava Jato — hoje reconhecidamente parcial. Lula, demonstrando certo nervosismo inabitual, e menos charme e carisma que de costume, se colocou na posição que parece querer jogar até 2022: única opção para derrotar Bolsonaro.
A história do PT tanto confirma essa tese, quanto a nega. É o partido de viés progressista mais importante do país, tem serviços prestados para apresentar e inegavelmente defende os pilares da democracia. Mas enfrenta um antipetismo forte, evidenciado no resultado das últimas eleições, carregado desde os escândalos de corrupção e do desastre econômico dos governos Dilma. As pesquisas demonstram que, hoje, Lula venceria Bolsonaro no segundo turno — mas também demonstram ampla rejeição.
Lula segue dando entrevistas de pé, para demonstrar que está pronto para o jogo, ainda mais carismático com a idade (pouco demonstrada na entrevista de hoje), com uma oratória medida e retórica usual —repetindo “adevogados” (sic) para ganhar simpatia, fazendo analogias com relacionamentos pessoais e insistindo na ideia visual e emotiva que o pobre voltará a comprar picanha para o churrasco, com ele no poder —, e segue apostando na hegemonia petista na esquerda. Na última quarta, políticos de diferentes correntes ideológicas assinaram um “manifesto pela consciência democrática”. Lula ficou de fora, alegando que não teria sido convidado. Porém, na entrevista de hoje deixa um recado: “se for preciso chegar ao centro, nós vamos”.
Capacidade de convencimento e de negociação são características visíveis no ex-presidente Lula. Mas ele teima em colocar candidatos e partidos de esquerda (e de centro) em uma posição de subalternidade. Disse na mesma entrevista, dando um sorriso orgulhoso, que o real motivo do impeachment de Dilma teria sido o “risco do PT governar o país durante vinte e quatro anos”. Reconhece alguns “equívocos”, mas se apega na (evidente) injustiça que sofreu para impor sua narrativa e deixar o PT como líder inatingível de todo campo progressista. 
Como bom jornalista que é, Reinaldo Azevedo certamente não fez todas as perguntas “proibidas” que gostaria de fazer, guardando-as para um momento mais oportuno e com mais tempo. Caso o PT decida enfim pela caminhada hegemônica, pode criar um cenário ideal para as próximas eleições presidenciais: duas opções democráticas no segundo turno.
Pode não ser a ideal para o PT, que aposta na polarização, mas certamente, com a união dos que assinam um manifesto pela democracia, com signatários como Ciro Gomes, Mandetta, Luciano Huck e João Doria, construa uma terceira via democrática e viável, afastando definitivamente o risco de reeleição de um presidente que dá motivos reais de ser chamado de genocida e de amante da ditadura. Que a vaidade petista traga bons frutos e esperanças renovadas.
Confira a entrevista completa aqui

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Sobre o autor

Edmundo Siqueira

edmundosiqueira@hotmail.com

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