Desde seu início, em março de 2019 (veja aqui), a Folha FM 98,3 deu voz a cultura de Campos. Foram ao programa artistas, em suas mais diversas expressões, intelectuais, escritores e também representantes do poder público local, responsáveis pela cultura. Campos não possui uma secretaria municipal da Cultura. As políticas públicas da área são executadas pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), subordinada à Secretaria de Educação, Cultura e Esporte. Como entrevistada, o programa Folha no Ar de hoje (15), recebeu Auxiliadora Freitas, professora e ex-vereadora, atualmente presidente da FCJOL (veja aqui).
No dia de Santo Amaro — que será marcado para sempre como sendo a primeira vez que o padroeiro da Baixada Campista, em mais de 300 anos, não terá a sua tradicional Cavalhada, por conta da pandemia da Covid-19 —, Auxiliadora fala sobre os planos futuros e os problemas arrastados pela cultura de governos passados, inclusive advindos de governantes do mesmo grupo que ela é ligada e que governa Campos, mais uma vez, com a eleição do herdeiro direto, Wladimir Garotinho.
Entrevista solicitada e não atendida - Este espaço pediu numa entrevista com Auxiliadora desde a comunicação de sua posse. Diretamente e por intermédio de pessoas próximas a ela. Uma dessas pessoas foi Kátia Macabu, que assume uma das diretoria da FCJOL, sendo uma das primeiras nomeações da Fundação. A diretora recebeu as perguntas e as encaminhou à presidente e responsável pela cultura campista. Até o momento desta publicação, não foi recebido qualquer resposta ou sinalização de envio, apesar da afirmativa da própria Auxiliadora, no Folha no Ar de hoje, que teriam sido enviadas a este blog.
Assim como a rádio do Grupo Folha — e todos os seus veículos — a cultura tem sido acompanhada com muito zelo, jornalístico e pessoal, por este espaço e se orgulha muito disso. Assim como se orgulha dos reconhecimentos, muitos deles publicamente, recebidos por diretores de equipamentos culturais e outros tantos representantes da cultura. Por “acompanhar de perto”, este espaço recebe e apura informações constantes da cultura, inclusive revelando fatos sobre patrimônios materiais de grande importância, como o Solar dos Airizes (veja aqui).
O jornalista e fundador da Folha da Manhã, Aluysio Cardoso Barbosa (1936/2012), tinha como princípio: “jornalismo é trabalho coletivo, ou nada” (veja aqui). Seu filho, Aluysio Abreu Barbosa, traz consigo este conceito de maneira muito marcante, o levando a fazer algumas das perguntas que foram enviadas à Auxiliadora anteriormente. Transcrevo a você leitor, as respostas a elas no Folha no Ar de hoje, dia de Santo Amaro.
No final do mês passado (12/2020), o Museu Olavo Cardoso (MOC) teria sido vítima de um furto que levara grande parte de seu acervo, inclusive mobiliário. Segundo relatos, os bens históricos e culturais, de grande importância para o município, que o Museu abrigava, foram subtraídos por uma abertura feita no muro. O que de fato aconteceu no MOC? Como está o andamento das investigações? Ter acesso ao inventário feito antes do furto é fundamental para o entendimento do que havia e do que poderia ser feito para protegê-lo. Já foi dado acesso a esse inventário?
— Esse inventário foi dado acesso esta semana. Se não me engano na quarta. Mas, é um inventário que você não tem certeza se o que está ali era o que realmente tinha no museu, em sua totalidade. Mas a partir dele, é que estamos trabalhando. A partir da segunda visita que nós fizemos lá, com nossa equipe, e com a guarda, segurança, etecetera, nós estamos fazendo essa comparação, do que tinha inventariado e do que não foi encontrado ali. Isso está sendo colocado em um relatório e estamos fazendo um dossiê, vamos dar entrada na procuradoria e também equipar a delegacia com informações. Nós abrimos um segundo boletim de ocorrência, porque o que disseram que havia sido feito online, quando fomos à delegacia, ele já não existia mais. E a partir do levantamento e desse novo B.O. a gente vai poder chegar a uma solução e agora é buscar fazer a segurança do que resta lá, inclusive com a retirada para um local mais seguro.
Segundo página oficial da Prefeitura de Campos (veja aqui), o Palácio da Cultura, equipamento cultural muito conhecido e que é objeto de memória afetiva em Campos, está com “infiltrações, trechos de iluminação expostos, modificações irregulares e setores sem condições de uso”. Segundo mesma reportagem da Comunicação da Prefeitura, a senhora afirma que o prédio passou por uma “maquiagem”. Qual o planejamento para o uso do prédio e também da Biblioteca Nilo Peçanha? Existem condições de implantar o que foi pensado no Plano de Governo, apresentado nas últimas eleições? Existe previsão de cessão ou parceria para uso cultural ao setor privado?
—O Palácio da Cultura foi minha primeira visita (depois da posse na FCJOL) e foi com muita expectativa e com muita alegria de que estaria recebendo um equipamento que a gente pudesse de imediato, ou a curto e médio prazo, revitalizar aquele espaço que tinha sido devolvido à cultura pelo prefeito (Rafael Diniz), que ele foi inaugurar, inclusive tem uma placa lá. Eu e minha equipe esperávamos um local devidamente reformado para que a gente pudesse então efetivar aquilo que estava no plano de governo e pudesse devolver o Palácio da Cultura a cultura do nosso município. Mas, cheguei lá e fiquei anestesiada, paralisada com o que vi. Existem duas situações. Uma é a tal reforma que disseram ter tido e que estava pronta para devolver para a cultura, que foi parte de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em função demolição daquela chácara, ‘do chacrinha’ (O Palácio da Cultura foi reformado graças a um acordo judicial, sem custos para a Prefeitura, com valor total pago pela empresa responsável pela demolição do antigo Casarão Clube do Chacrinha, que ficava localizado à esquina das ruas 13 de Maio e Saldanha Marinho - confira aqui). E o restante do Palácio. Vamos fazer outra visita lá e aí vou chamar todo colegiado da cultura, o conselho, a sociedade que quiser ir, estaremos indo lá com a secretaria de obras, para mostrar exatamente que a tal reforma que daria condições de a gente entrar para o Palácio da Cultura, fazer algo acontecer, não é real. Infelizmente não é real. Vamos falar do estava no TAC, a reforma, que eu considero uma maquiagem. (...) A parte inicial que estaria projetado para um projeto de inovação e tecnologia, com piso frio, descaracterizando completamente o patrimônio histórico, não houve respeito com patrimônio histórico-cultural. Não tem condições. A obra (Secretaria de Obras) vai ter que entrar ali de novo para que a gente possa fazer a revitalização do espaço. A única coisa que posso dizer é que o compromisso do prefeito (Wladimir) que o Palácio da Cultura será da cultura, sem qualquer outra possibilidade. O que estava no TAC foi uma maquiagem e o que estava fora do TAC? O auditório está destruído. O mobiliário está acabado. Não tem nada. Vai ter que ser refeito. No sótão, onde tinha a biblioteca, não podemos entrar, estava em limpeza. Já estamos providenciando essa limpeza. Nos parece que há um animal morto lá dentro. Está insalubre.
Sobre o prazo de entrega do Palácio, Auxiliadora informa, após pergunta do jornalista Aluysio Abreu Barbosa:
Final de 2021 até meados de 2022.
Outro ponto preocupante para o setor cultural de Campos é o patrimônio material. Prédios históricos encontram-se em péssimas condições e apresentam risco eminente de ruína. Uma dessas construções é o Solar dos Airizes, localizado na BR-356, prédio de alto valor cultural para a região Norte Fluminense e já apresenta diversas evidências de desmonte da estrutura. Em apuração jornalística recente, este mesmo espaço (confira aqui) confirmou haver processo judicial transitado em julgado que determina a cessão do prédio ao município, inclusive com previsão de busca de recursos em órgãos federais, como Iphan e multa por descumprimento. Qual o planejamento de uso dos Solares e outros prédios históricos em Campos, visto que o uso é consenso que é a única forma de efetivamente preservá-los? No caso específico do Airizes, a FCJOL tem conhecimento do processo que o envolve?
—Estamos tomando conhecimento desse processo, o nosso jurídico já esta levantando essa questão e essa demanda, para que a gente possa ter mais informação. Estamos a menos de 15 dias a frente da FCJOL. Então todas essas informações e dados estão sendo levantados. Não tivemos acesso nesses primeiros dias, estamos buscando, pesquisando, para que possamos ter essa informação. (...) Não vai ser uma coisa fácil, o patrimônio material do município está em uma situação bem preocupante. Vai requerer vontade de trabalho, de planejamento, vontade política, apoio do legislativo e do executivo e da sociedade de uma maneira geral para que esse trabalho possa se efetivar a curto médio e longo prazo. Nem tudo vai poder ser terminado no governo Wladimir em quatro anos. (...) Nós vamos buscar resolver com a prefeitura e com parceiras público-privadas. E em Brasília. Estamos buscando alternativas em Brasília, já sensibilizamos a deputada Clarissa, para que ela possa construir emendas de bancada para buscarmos esses recursos. Campos é um patrimônio histórico-cultural conhecido pelo mundo inteiro. A história do Brasil começou por aqui e não podemos deixar isso morrer.
===========
Em respeito ao leitor, reproduzo o restante das perguntas que foram enviadas a presidente da FCJOL, até o momento sem reposta:
- Campos possui equipamentos culturais de grande qualidade e que entregam serviços e produtos relevantes. Dois destes equipamentos atuam diretamente no resgate e valorização da história do município, Arquivo Público e Museu Histórico. Qual o planejamento para esses equipamentos? Qual previsão de reabertura, visto que tiveram suas equipes esvaziadas e encontram-se em situação de vulnerabilidade?
- Nesses casos específicos, existe a demanda premente de pessoal capacitado, por abrigar um acervo que precisa de manutenção, armazenamento correto e restauro constantes. Embora haja necessidade de realização de concurso público, para que haja continuidade e estabilidade, especificamente para museólogo e arquivista, a curto prazo se mostra pouco provável. Existe previsão de retorno das equipes, que já receberam treinamento custeado pela municipalidade e possuem experiência nas especificidades que as instituições Arquivo e Museu exigem?
- A cultura imaterial de Campos é vasta. Manifestações e instituições como Cavalhada, Jongo, Lyra de Apollo e festividades distritais relatam resistência em permitir apoio direto da Prefeitura, alegando quebra de promessas, inclusive em governos do grupo garotista. Existe previsão de inclusão no calendário oficial de festejos locais, as manifestações que ainda não integradas? Qual o planejamento para manter viva a cultura imaterial de Campos, sem interferir nas tradições?
- A cultura é um setor que conta com recursos disponíveis em fundos estaduais, federais e até internacionais. Mas para acessá-los é preciso projeto. Existe a previsão de criação de uma equipe dentro da estrutura da FCJOL para elaboração de projetos e captação desses recursos, que traria o “dinheiro novo” tão falado pelo governo?
- A Câmara de Vereadores pode funcionar como um centro de cultura, visto suas instalações, em prédio histórico, suas próprias funções institucionais e pela existência da EMUGLE. Existem previsões de parcerias com a Câmara para desenvolver projetos culturais?