Villa Maria recebe Semana Nacional de Arquivos e quer abrir as portas à comunidade no pós pandemia
A Casa de Cultura Villa Maria, órgão suplementar da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e importante equipamento cultural de Campos, encerrou neste domingo (14) a 4º Semana Nacional de Arquivos, evento organizado pelo Arquivo Nacional e pela Fundação Casa de Rui Barbosa, em comemoração ao Dia Internacional de Arquivos, celebrado no dia 9 de junho. Os Arquivos Públicos são instituições de preservação da memória e que produzem conhecimento científico e cultural. A programação contou com debates virtuais acerca do tema e apresentação dos acervos que a Villa possui.
A Casa, construída em 1918, como um presente para Maria Queiroz de Oliveira, foi deixado por esta em testamento, na ausência de herdeiros, à primeira universidade que viesse a instalar-se na cidade, o que aconteceu em 1993 quando foi doada à Uenf, para ser a administração da Universidade. Além do evento do último fim de semana, a Villa está produzindo uma radionovela, com textos dos escritores campistas Gastão Machado e Waldir Pinto de Carvalho, que estão no acervo da instituição. A radionovela é transmitida pelo site da Casa (villamaria.uenf.br), divulgada nas redes sociais e disponibilizada em aplicativos de streaming e tocadores de podcast. 
 
— A casa de Cultura Villa Maria é a sede oficial da Reitoria, onde seria (antes da quarentena) o recebimento de visitantes e comunidade, entrevistas à imprensa, dentre outros, seriam feitas todas lá. O espaço é ótimo, tranquilo, iluminado de forma natural, arejado.... excelente. Toda quarta-feira de manhã eu fico lá. A ideia seria, além das atividades culturais, fazer da Villa o lugar aconchegante para receber os visitantes e fazer encontros com a comunidade ou grupos específicos. Nesse momento de pandemia estava discutindo com a Priscila (assessora de Cultura da Uenf) a possibilidade de alguns artistas fazer pequenas apresentações ao ar livre com o som para fora da casa e passar esperanças a partir da música. No final o artista poderia passar a conta do banco e as pessoas das redondezas poderiam colaborar (...) Pretendemos licitar a lanchonete que está no jardim para poder fazer do jardim um lugar de leitura, de conversas, de risadas e porque não, de amor. Sem falar da fonoteca — comenta o reitor da Uenf, Raul Palacio.
 
A Semana Nacional de Arquivos 
 
Com programação variada, a 4º Semana Nacional de Arquivos foi realizada através de meio virtual, via redes sociais. A professora da Uenf, Simonne Teixeira, que está à frente da Oficina de Estudos do Patrimônio Cultural, coordenou os alunos bolsistas na organização das atividades, baseadas nos acervos da Villa. No sistema de lives, foram ouvidos pesquisadores, professores e pessoas ligadas à cultura.
— Inserir a Casa de Cultura Villa Maria nessa semana foi no intuito de se fazer conhecer nossas produções sob os acervos que estão lá dentro, por um público mais livre e amplo, e as redes sociais acabam permitindo ter esse alcance. O uso das mídias nesse contexto de pandemia tem sido essencial para não pararmos de movimentar nossas produções e continuar repassando conhecimento e informação, e nessa edição da Semana, o tema escolhido pelas instituições organizadoras, "Empoderando a Sociedade do Conhecimento", pretendia exatamente essa comunicação entre instituições arquivísticas e comunidade — relatou Taiany Felipe, pesquisadora de Iniciação Científica (CNPQ/UENF).
Taiany Felipe
Taiany Felipe
Ainda segundo Taiany, a Casa de Cultura possui acervos textuais, fonográficos e iconográficos de grande importância para a cidade. A pesquisadora cita que a fonoteca da Villa possui um dos maiores acervos fonográficos do país: “(os acervos) Nos dão a compreensão do movimento cultural campista no seu pico de produção e construção, remetendo aos séculos XIX e XX. A Fonoteca, que é um dos maiores acervos fonográficos do Brasil, contendo uma quantidade absurda de discos de diversos materiais, é um acervo dos primórdios da Casa, construído com as referências de Darcy Ribeiro”.
 
Os acervos e pesquisas disponíveis na Villa Maria são abertos aos pesquisadores e ao público em geral, dependendo de prévio agendamento. Eventos como a Semana Nacional de Arquivos propõem a disseminação de todo material e conhecimento acumulado em instrumentos acadêmico-culturais como a Casa. A abertura e divulgação permitem a maior participação popular, extrapolando as “bolhas” intelectuais a que comumente são direcionados.
Os bolsistas Igor Teixeira, Victoria Tupini e Taiany Felipe organizaram o evento, onde foram trabalhados dois acervos da Casa.
 
O “Dona Glorinha”, que é uma composição de partituras musicais, usadas pela professora no antigo Conservatório de Campos, e também recortes de jornais sobre o conservatório e seu trabalho de ensino e profissionalização musical na cidade, desenvolvido em perspectiva histórica por Igor Teixeira, formando em História pela UFF-Campos.
E o acervo “Godofredo Tinoco”, trabalhado por Taiany, que trata do intelectual que atuava em diversas frentes da cultura, do conhecimento e também da política em Campos, com a análise do papel da intelectualidade campista no quadro político do início do século XX no Brasil, especificamente na perspectiva do Estado Novo.
À Victoria Tupini, também formanda de História na UFF, coube a pesquisa pioneira sobre a Rádio Cultura, a partir do fundo Amador Pinheiro da Silva, que compõe a Fonoteca.
A (re) abertura da Villa
A CCVM (Casa de Cultura Villa Maria) cumpriu nos anos 1990 um importante espaço cultural, destino para leitura, música, cinema e teatro de muitos estudantes, principalmente liceistas, pela proximidade. Porém, a Casa era aberta e frequentada pelos mais diversos públicos que a tinham como uma referência de cultura em Campos. 
A imponência da construção contrasta com o que parece ter sido sempre o destino da Villa Maria: proporcionar pluralidade, acesso, democracia e vivência cultural, concretizada pela sensibilidade de Dona Finazinha, como era popularmente conhecida a antiga proprietária, ao doar a Casa à primeira universidade que se instalasse em Campos. 
Dos anos 1990 até a atualidade, a CCVM passou por diversas fases, mas sempre mantendo a característica de ser palco de educação, arte e cultura, através de eventos que marcaram sua história.
— Foi muito importante o feedback do público por meio dos comentários nas lives e na interação com os posts. A gente via muita gente que segue a Villa Maria, mas não sabia nem daquelas pesquisas lá dentro, nem desses fatos históricos de Campos e seu lugar como metrópole cultural no século passado. Foi muito bonito para a gente que organizou, eu, Victoria Tupini e Igor Teixeira , ver como os demais pesquisadores da Casa também ficaram felizes em expor suas contribuições lá dentro e em defender a Villa e os demais espaços de memória da cidade como relevantes, não somente para o conhecimento científico que produzimos, mas principalmente como parte integrante da memória de Campos e de seus personagens —destacou Taiany.

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    Edmundo Siqueira

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