Nasce a proclamada "Frente Ampla" da esquerda? Será uma Geringonça? (Parte 2)
Na continuação do artigo anterior, com mesmo título, onde tratei sobre o evento das centrais sindicais, em comemoração ao 1º de Maio, que trouxe Lula, Dilma, Fernando Henrique, Ciro Gomes e Marina Silva para o mesmo palanque virtual, é preciso fazer algumas ponderações.

Caso o ato realmente se proponha a ser o nascimento, de fato, da “Frente Ampla” ou da “Frente se Esquerda” — união dos partidos de oposição ao governo Bolsonaro e que comungam ideário progressista — ele se mostra um início desastroso; talvez levando o movimento à condição de natimorto.

A defesa do funcionalismo público e dos trabalhadores enquanto classe é uma pauta histórica da esquerda, louvável que seja, os grandes problemas que enfrentamos no país tem origem na disputa histórica de classes e as relações de poder, que produziu muita da nossa desigualdade e corrupção. Sendo assim, é completamente aceitável e mesmo aconselhável que o Dia do Trabalho marque esse início e que tivesse participação sindical e classista, em certa medida.

O problema não foi esse. Não foi a CUT.

O que traz dificuldades à uma geringonça brasileira (fazendo alusão à união dos partidos de esquerda portugueses, chamada carinhosamente de Geringonça) é a participação do PT, nos moldes que ela se apresentou.

O ex-presidente Lula é uma inegável liderança, com uma capacidade extraordinária de diálogo e de mobilização. Construiu o Partido dos Trabalhadores o levando a presidência por mais de 13 anos. Porém sua presença no ato do último dia primeiro, ainda se apresentando como esse líder carismático irrebatível, que age como se não carregasse todos os casos de corrupção de seu partido nas costas, inviabiliza a amplitude que uma “Frente Ampla” deve ter.

Parecia que todos os outros eram seus convidados. Como todo bom populista, não tem a menor intenção em permitir luz própria em seus “aliados”.

A união da oposição se mostra cada vez mais urgente e importante. Embora Bolsonaro tenha a legitimidade das eleições democráticas, vem governando para um nicho populacional cada vez menor. A atuação do presidente no combate ao coronavírus está sendo criticada no mundo inteiro. Como toda democracia exige, uma oposição forte é essencial. Mas, colocar o ex-presidente Lula como o líder máximo da oposição dificulta que esse processo seja representativo. Os inúmeros casos de corrupção o colocam em uma situação insustentável. Mesmo que não haja provas contundentes contra ele, é praticamente impossível dissociar sua imagem desses casos. Além do desastre econômico e social do segundo governo Dilma.

O PT pode e deve participar da vida política do país. É legítimo que o faça e saudável à democracia. Porém querer impor uma atuação da esquerda brasileira à batuta lulista como o único caminho é temerário. A esquerda não pode cair novamente no caudilhismo, no populismo e no egocentrismo de Lula. Assim como a direita responsável deve se afastar completamente de um líder irresponsável e com posturas antidemocráticas como Bolsonaro.

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    Edmundo Siqueira

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