Nesta sexta, 1º de maio, as principais centrais sindicais do Brasil realizaram a tradicional comemoração do Dia do Trabalho. Dessa vez de forma virtual, seguindo as recomendações de saúde pública pela pandemia do novo coronavírus. A outra diferença fundamental no ato deste ano foi a participação de históricos adversários políticos. Os ex-presidentes Lula, Dilma e Fernando Henrique falaram por vídeo, assim como os presidenciáveis (eternos) Ciro Gomes e Marina Silva.
Uma “frente de esquerda”, também chamada de “frente ampla”, vem sendo tentada no Brasil há bastante tempo. Embora alguns partidos como PT, PCdoB, PSOL, Rede e PDT, que comungam um viés progressista, tenham se unido em pautas no congresso, uma consolidação de forças políticas em uma Frente está distante. Pelo menos até o ato de hoje.
Em Portugal, essa iniciativa não só aconteceu como foi vitoriosa eleitoralmente. A aliança firmada em 2015, onde se uniram o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP) — que integra a Coligação Democrática Unitária (CDU) com o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) — venceu a direita portuguesa nas eleições. Essa aliança foi chamada de “Geringonça”. A Geringonça surpreendeu pela estabilidade. Embora esteja aparentemente caminhando para o fim, conferiu aos portugueses estabilidade política por um período considerável e tronou Portugal um país atrativo para imigrantes, destino escolhido como moradia por muitos brasileiros, inclusive.
O ato político das centrais sindicais brasileiras pode representar o nascimento da Frente Ampla. Aliança rejeitada em 2018 (levando à derrota eleitoral), essa união pode colocar partidos como PSDB e PT no mesmo front. Além de Ciro e Marina. É possível que em uma Frente Ampla agora caberiam políticos e partidos que se colocam contra o bolsonarismo, podendo ser inclusive de centro-esquerda e até eventualmente centro-direita.
Embora as dissidências passadas e os acordos tentados e não firmados possam ainda atrapalhar a efetivação de uma frente de esquerda no país, a crise mundial, provocada pelo Covid-19, e o ambiente político doméstico cada vez mais radicalizado, podem ser os combustíveis para acelerar essa combustão.
Bolsonaro, cada vez mais isolado, por seguir provocando constantemente conflitos institucionais (O STF é a bola da vez), agitações na federação brasileira e não ter formado base no congresso, pode ter dificuldade em manter seus 30% de aprovação – 1/3 do eleitorado é surpreendentemente resistente em manter-se fiel ao presidente.
Caso uma geringonça à brasileira realmente tome corpo, poderá abranger parte dos “isentões” e animar os antibolsonaristas de diversas ideologias.
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Ao leitor: Essa conversa segue na "Parte 2", onde farei uma análise crítica do assunto.