As eleições municipais desse ano deverão servir como um importante termômetro de capilaridade política e aceitação social dos partidos identificados ao campo progressista; ou de esquerda. Principalmente no estado do Rio. Digo principalmente aqui não por negar os desafios enormes que a esquerda enfrenta em âmbito nacional, mas pelo Rio ser a origem do atual presidente da República, Bolsonaro, ser governado por um político que fala em “tiro na cabecinha” e propõe militarização cada vez maior, ter na capital um prefeito intimamente ligado e subordinado a uma agremiação religiosa neopentecostal que — como a maioria das igrejas desse campo — apoia hegemonicamente ideias e representantes da direita e conservadores.
Em Campos o recente episódio André Ceciliano X Roberto Dutra X Odisséia Carvalho (entenda aqui) evidencia as dificuldades internas de partidos progressistas promoverem a tal “união da esquerda”. É preciso levar em consideração o excessivo desgaste do Partido dos Trabalhadores (PT) para as forças de esquerda sejam vitoriosas em novas eleições e que estejam unidas. Seria preciso um reconhecimento do PT de seus erros, que foram muitos e graves, uma reformulação interna aliada a modernização do pensamento, menos alijada do “homem comum”, que dialogue mais com a realidade fática e menos com um marxismo ultrapassado e anacrônico e com um pensamento gramsciano batido e visivelmente fracassado nas trincheiras extra-cultura. Que não seja esquerda festiva, em resumo.
Embora não acredite que o PT tenha predisposição de promover essa mudança, de realizar a autocrítica necessária e sair de uma narrativa que só favorece seu líder maior e em verdade mais aleija o partido em lideranças locais e periféricas, é preciso considerar o partido nas discussões que promovam o contraditório em um país cada vez mais polarizado e governado por representantes de uma nova direita que chegou ao poder recentemente em diversos países. A democracia exige oposição. Uma oposição desunida e restrita aos meios acadêmicos e intelectuais favorece um cenário antidemocrático.
Para as eleições municipais o PT pretende lançar candidaturas próprias assim como outros partidos que representam o campo progressista. Pulverizar as opções eleitorais não parece ser uma opção inteligente. O espectro da direita pode sair fortalecido nessas eleições e se tornar mais representativo socialmente. O que, em tese, não representa prejuízo ou dano. Salvo se trouxer consigo mais unicidade de pensamento e censura de oposições.