A Uenf passou pela eleição a reitor mais polarizada nos seus 26 anos de história. O reitor eleito, Raúl Palacio, recebeu 51,25% dos votos válidos no segundo turno. Passado o pleito, Palacio propõe, em entrevista à Folha, que a universidade coloque a “bola para frente”. Porém o clima de polarização parece continuar no campus.
Hoje (9) foi realizado um debate entre os ex-reitores Silvério Freitas, Almy Carvalho e Raimundo Braz Filho. A mesa “Os Desafios Institucionais da Uenf em Perspectiva Histórica” também contou com a participação do atual e futuro reitor, Luís Passoni e Raúl Palacio, respectivamente. O evento foi realizado pela direção do CCTA (Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias), CCH (Centro de Ciências do Homem), Movimento Uenf Democrática e do grupo Folha da Manhã.
Após as apresentações e colocações iniciais de cada integrante da mesa, começando, por ordem de antiguidade, pelo ex-reitor Raimundo Braz Filho, foi aberto para perguntas aos presentes. Em um dos questionamentos, a ausência de uma biblioteca na Uenf foi lembrada. “Não devemos querer inventar a roda. A UNB já tem um projeto pronto de biblioteca. Por que não trazê-lo para a Uenf?”, disse o reitor eleito. A questão salarial e de autonomia financeira da universidade, através dos duodécimos, foi tema constante. “A Uenf se orgulha muito de ter em seu quadro docente, professores doutores em regime de dedicação exclusiva. A crítica ao modelo do Darcy é a questão da hierarquização. Ele trocou os nomes, mas manteve a estrutura da universidade em departamentos e institutos. Uma visão mais moderna poderia pensar em uma maior horizontalização da estrutura da universidade, focada nos laboratórios” — Disse o atual reitor Passoni.
Sentida por quem estava presente no evento, a baixa adesão de professores e alunos incomodou. “Somos todos Uenf. A eleição já acabou. A reitoria trabalhará para o bem de todos, não de forma pessoal. Não importa o número de pessoas presentes e sim sua qualidade”, disse o reitor eleito Raúl Palacio. A pertinência do horário de realização do evento foi discutido pela mesa. A divulgação pela Ascom da Uenf também foi alvo de reclamações por parte dos participantes. Segundo Hamilton Garcia, cientista político e organizador do evento, a assessoria de comunicação se queixou sobre falta de exclusividade na divulgação.
— Não faz nenhum sentido reivindicar a primazia sobre o fluxo de informações em plena era da revolução informacional — conclui Garcia ao blog.
Sobre a maior aproximação da Uenf com a sociedade e instituições, o atual reitor Passoni reconhece que é preciso aumentar a integração. “Com as (faculdades) particulares já está (a integração) de bom tamanho. Temos que aumentar nossa integração com o IFF e com a UFF em Campos. Temos que criar a possibilidade de uma graduação conjunta, aproveitando as potencialidades que temos aqui e lá, a exemplo do Cederj. Não estou negando a colaboração com as universidades privadas. A Uenf estreitou a colaboração com a Faculdade de Medicina, por exemplo. Não estamos avessos ao privado. Mas a Uenf tem que se entender como pública”.
Apesar da eleição polarizada, Raúl avalia que o pleito foi uma demonstração de participação política ampla e democrática, lembrando que aproximadamente 90% dos professores e 80% dos técnicos participaram da eleição. Ainda segundo sua avaliação, o acirramento das disputas políticas faz parte da democracia. Questionado sobre o clima de polarização, o ex-reitor Almy Carvalho, disse que considera normal a existência dessas divisões:
– O debate foi bom, foi produtivo no sentido de destacarmos diferentes caminhos que a Uenf pode seguir. Ainda temos divisões, comuns em ambientes plurais.
Já para o coordenador do evento, Hamilton Garcia, existe muita resistência ao debate pluralista. “O certo mesmo é que há muita resistência ao debate pluralista de ideias. O que é típico do momento que estamos passando no país”. Perguntado pelo blog sobre uma possível ação política de grupo de oposição à atual gestão, podendo ter influenciado o evento, Hamilton não confirma: “Aí estamos no terreno da especulação”.