Professores em ato pela liberdade de cátedra em frente ao Liceu
Camilla Silva 26/03/2019 08:37 - Atualizado em 27/03/2019 15:31
Isaías Fernandes
Professores e entidades representantes da categoria se reuniram, na manhã desta terça-feira (26), em frente ao Liceu de Humanidades de Campos, em um ato de apoio ao professor Marcos Antônio Tavares da Silva e pela defesa da autonomia pedagógica. Desde a última semana, o docente está no centro de uma polêmica nas redes sociais após ter aplicado uma  atividade com uma charge na qual aparecem o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), e o dos Estados Unidos, Donald Trump, na cama, embaixo de lençóis, com a bandeira estadunidense ao fundo. Desde sexta-feira (22), a secretaria de Estado de Educação afirmou que uma sindicância foi aberta para investigar o caso e que o professor ficaria afastado durante o procedimento. O afastamento do professor, no entanto, foi confirmado pelo Sepe, na tarde desta terça, após publicação em Diário Oficial. De acordo com o documento, foi instaurada uma sindicância para “apurar possíveis irregularidades (...) no prazo de 30 dias”. 
O docente denunciou à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), nessa segunda, perfis que compartilharam a atividade apresenta com ameaças ou conteúdos difamatórios. Na manhã desta terça, ele ministrou aulas no Liceu: 
— Eu nunca fui notificado de qualquer afastamento. Eu sou um servidor público, não se afasta ninguém de boca. Eu vim, no meu horário normal, para dar aulas. Infelizmente essa é uma agressão que não começou comigo e não vai terminar em mim — afirmou Marcos Antônio, que atua como professor de português, literatura e produção textual há cerca de 15 anos. Ele chegou à unidade escolar por volta das 7h30, onde um grupo de cerca de 60 pessoas de diversas organizações se encontraram em ato de apoio. Às 8h30, ele foi acompanhado pelos manifestantes até a porta da unidade, onde teve sua entrada autorizada pela direção. Às 10h20, Marcos voltou a conversar com a equipe da Folha e afirmou ter dado aula normalmente. “Retorno na parte da tarde, quando darei mais aulas”.
Questionados novamente pela Folha, a secretaria de Estado de Educação (Seeduc) repetiu a nota enviada na última sexta, na qual afirma que “tomou a decisão de suspender o professor na última quinta-feira. Na sexta-feira, dia 22, foi aberta uma sindicância para apurar o caso. A partir de então, o professor ficará afastado das atividades até a conclusão do processo. Um docente foi alocado para ministrar as aulas, sem necessidade de interrupção das atividades e do conteúdo da disciplina”.
Entre os presentes no ato, esteve a professora aposentada Norma Dias. Ela afirmou que os professores não levam “pensamento único ao aluno”. “Nós levamos o pensamento crítico”, pontuou. Coordenadora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe/Campos), Odisséia Carvalho contou que acompanhou, nessa segunda-feira (25), o docente à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), no bairro Jacarezinho, no Rio de Janeiro. “Passei o aniversário do Marcos, com ele, na delegacia. O professor vem sofrendo ameaças. É preciso garantir a integridade física dele, denunciando as pessoas que estão usando perfis na internet para fazer isso”, ressaltou.
Em relação à confirmação do afastamento de Marcos Antônio, Odisseia informou que o Sepe acionou advogados para a defesa do docente: "Entramos em contato com nossos advogados. São três que estão assessorando o professor Marcos. Foi aberta a sindicância, e o professor foi afastado. A gente está verificando a questão salarial, visto que ele depende do salário para sobreviver e não pode perder, além das ameaças".
Denúncias de agressões nas redes sociais
De acordo com o professor, desde que o trabalho proposto em sala de aula, durante uma atividade ministrada ao 3º ano do Ensino Médio, foi divulgado nas redes sociais, uma série de agressões e ameaças começaram a chegar até ele. “Estive ontem no DRCI onde apresentamos a delegada os perfis que utilizaram da atividade completamente fora de contexto para me difamar e fazer ameaças contra mim. Pelo menos 20 perfis já foram encontrados, mas uma equipe continua realizando o levantamento. As pessoas se sentem impunes atrás de um computador”, relatou o docente. A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) funciona no bairro Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Acompanhando o educador, estiveram os deputados da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Flávio Serafini (Psol), que preside a comissão e já tinha anunciado que encaminharia o docente à DRCI e Waldeck Carneiro (PT), além de representantes do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe/Campos). O objetivo da medida tomada é apurar ameaças e possíveis injúrias, cometidas contra o professor.
A confusão começou, na última semana, quando Marcos Antônio pediu para alunos comentassem uma charge na qual aparecem o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), e o dos Estados Unidos, Donald Trump, na cama, embaixo de cobertores, com a bandeira estadunidense ao fundo. A imagem é acompanhada pela legenda “O Patriota”. Assinada pelas inicias V. T. (Vitor Teixeira), a charge é datada de 2017 e pode ser encontrada no site “Humor Político”. Em Campos, mensagens compartilhando a foto da atividade aplicada aos alunos do Liceu afirmavam que a ação faria parte de uma tentativa de doutrinação por parte de um movimento político de esquerda. Alguns comentários contestam, inclusive, se a imagem poderia ser apresentada a alunos adolescentes, por apresentar conteúdo considerado impróprio. Outros consideram que a atividade deveria gerar, inclusive, um processo ao professor. Também teve quem defendesse o direito do professor, salientando que charges políticas sempre foram usadas em atividades. 

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