Professor e alunos de Campos são notícia na mídia nacional
Daniela Abreu 24/03/2019 09:48 - Atualizado em 25/03/2019 15:42
Esta semana, casos distintos envolvendo a comunidade escolar, em Campos, repercutiram no município e nacionalmente. Entre a última quarta (20) e quinta-feira (21) dois adolescentes, de 14 e 16 anos e um jovem de 18 foram autuados por situações distintas, que demonstravam ameaças a escolas. Nas investigações, policiais da 134ª Delegacia Legal do Centro e da 147ª DP descobriram postagens em redes sociais e conversas em aplicativos, exaltando os autores dos massacres em Suzano (SP) e em Columbine, nos Estados Unidos, em 1991, onde dois jovens mataram 13 pessoas e em seguida cometeram suicídio. Um dos adolescentes postou uma foto onde apontava um revólver calibre 38 para colegas e professores, dentro de sala de aula. A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) se posicionou, revelando que foi tomada medida protocolar com relação aos casos, Já o secretario de Educação de Campos, Brand Arenari, alertou para a necessidade de vigilância e acompanhamento. Também na quarta a Seeduc anunciou o afastamento do professor de português do 3º ano do Ensino Médio, depois que um grupo de direita de Campos, denunciou em rede social uma atividade proposta pelo docente, que usou, em atividade de produção de texto, uma charge de 2017 que mostra os presidentes de Brasil e Estados Unidos, Jair Bolsonaro e Donald Trump, em cima de uma cama, sob lençóis, com a bandeira estadunidense ao fundo, com a legenda “O Patriota”.
Dos casos envolvendo alunos um foi em escola da rede municipal e dois da rede estadual. Na Escola Municipal Professora Olga Linhares Correa, o adolescente de 16 anos foi apreendido dentro da escola e levado à 146ª DP, depois de postagens exaltando os responsáveis pelo massacre de Suzano. Na casa dele, que assumiu a autoria das declarações, foram encontradas armas brancas, como soco inglês e uma estrela ninja, além de uma calça que estampa marca de um jogo violento. Ele foi autuado por fato análogo a ameaça.
Na Escola Estadual Phillippe Uébe, no Parque São Matheus, o adolescente de 14 anos foi conduzido à 146ª DP, e autuado por fato análogo a porte ilegal de arma de fogo, depois de publicar foto com um 38 apontado para colegas de sala e professora. Na casa dele, a polícia encontrou o revólver utilizado na publicação.
Já no Ciep Nina Aroeira, na Penha, um jovem de 18 anos, aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA), foi preso, autuado no artigo 5ª da Lei Antiterrorismo. Ele fez comentários exaltando os atiradores de Suzano, além de conversa, em rede social, convidando outra pessoa para reproduzir, em Campos, o massacre de Combine. Na casa dele foram apreendidos tchacos de karatê, armas brancas, algumas produzidas por ele, a partir de um desenho japonês, além do livro Assassin’s Creed, triturador de maconha, calça camuflada, celulares e máscara.
No caso do professor, o afastamento anunciado na quarta pela Seeduc e não cumprido no dia seguinte, gerou polêmica. Marcos Antônio Tavares da Silva recebeu, na última sexta, um telefonema da direção da escola, comunicando o afastamento, que teria sido a pedido do governador Wilson Witzel. Na Coordenadoria Regional de Educação, ele foi orientado a aguardar uma decisão sobre a situação, que não teria previsão para acontecer. Segundo o Sepe, a regional teria informado que não houve afastamento oficial, mas o professor foi convidado a não dar aula para “acalmar os ânimos”.
O caso foi parar na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, onde o presidente, deputado Flávio Serafini (Psol), disse que vai cobrar explicações ao Governo do Estado e encaminhar o caso para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, com objetivo de apurar as ameaças ao professor pelas redes sociais.
Mídia nacional fala de Campos
Os casos de Campos repercutiram nacionalmente em diversos sites de menor alcance, mas também por O Globo, Extra, Meia Hora e O Dia. Os veículos tiveram acesso ao professor em ocasião da ida dele ao Rio de Janeiro, para encontro com o deputado Flávio Serafini, mas não comentaram o conteúdo da reunião. Dos casos de violência na escola, somente o do jovem de 18 anos ganhou destaque nos jornais Meia Hora e O Dia. As publicações enfatizaram as informações sobre o perfil do jovem, dados pela Polícia Civil e alguns detalhes das investigações.
No caso do professor, O Globo e o Extra deram destaque às justificativas do professor, na proposta da atividade.
— Sempre usei charges para trabalhar em sala de aula. Neste caso, de forma contextualizada na ironia, no humor, que é típico desse tipo de texto. Expliquei como detectar esses aspectos e disse que não deixa de ser um texto argumentativo. Temas como a relação de Bolsonaro com Trump, a Venezuela, estão em voga, então pedi que alunos fizessem uma análise da charge. Não há doutrinação nenhuma, eu dei liberdade para que se posicionassem livremente sobre o conteúdo — afirmou ele que, também revelou ter recebido ameaças em suas redes sociais.
As duas publicações não trouxeram posicionamento da Seeduc e relembraram o caso de um professor de uma escola em São Luís de Montes Belos, em Goiás, foi afastado, em março deste ano, após criticar o diretor por ler a carta enviada pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez , contendo slogan de campanha de Bolsonaro. O documento que prescreveu o afastamento afirmava que o docente teria cometido “infração grave”.
Já o Jornal O Dia não ouviu o professor, mas publicou nota da Seeduc esclarecendo que “tomou a decisão de suspender o professor na última quinta-feira. Nesta sexta-feira, dia 22, foi aberta uma sindicância para apurar o caso. A partir de então, o professor ficará afastado das atividades até a conclusão do processo. Um docente será alocado para ministrar as aulas, sem necessidade de interrupção das atividades e do conteúdo da disciplina.”
O caso do aluno de 18 anos autuado conforme a Lei 13.260, Antiterrorismo, repercutido pelo Meia Hora e por O Dia, apontou que as investigações foram iniciadas logo após o massacre de Suzano, quando o jovem usou as redes sociais para comemorar o crime. A publicação diz ainda que o celular do próprio jovem foi examinado e que, assim foram encontradas as conversas que mencionavam o ataque na Universidade Columbine.
Os veículos se reportaram à Polícia Civil, que revelou que o jovem disse que não sofria bullying, que tudo foi uma brincadeira, que ele não seria capaz de cometer tal ato. A Polícia também falou sobre as percepções das autoridades quanto ao jovem. “Ele não alterou o tom de voz em nenhum momento no seu depoimento, respondendo a todos os questionamentos, não reputando como grave suas postagens, e rotulando-as como ‘piadas’”, disse a polícia, que acrescentou ao veículo que “notou que o jovem se mostrou bastante inteligente, não apresentando nervosismo, nem agitação durante as declarações.”
No final da tarde de ontem, O Globo publicou a notícia do professor em rede social. Na primeira hora, foram mais de mil compartilhamentos. 
 
 

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