Catarine Barreto e Maria Laura Gomes
21/02/2019 11:42 - Atualizado em 03/03/2019 15:14
O pastor Israel Maciel Gonçalves Ribeiro, suspeito de assassinar a tiros o jovem Lucas Muniz Abucezze, em Atafona, distrito de São João da Barra, na tarde da última segunda-feira (18), foi indiciado por homicídio qualificado privilegiado. A informação foi dada pela titular da 145ª Delegacia de Polícia (SJB), Madeleine Farias, em coletiva na manhã desta quinta (21), no 6º Departamento de Policiamento de Área (DPA), em Campos. Segundo a delegada, a hipótese inicial de legítima defesa foi afastada pela polícia, porque o pastor não chegou a ser baleado e, durante uma discussão com a vítima, teria usado a arma do pai (um revólver calibre 32) para atirar quatro vezes contra o jovem. De acordo com a polícia, Lucas foi atingido, primeiro, no tórax, tentou fugir e levou mais dois tiros nas costas. Quando caiu, o pastor se aproximou e deu o último tiro, em sua nuca. O pastor se apresentou na DP dois dias depois do crime, na noite dessa quarta (20). A polícia concluiu o inquérito, que foi encaminhado ao Ministério Público.
A delegada explicou o que atenua e agrava a ação do pastor para justificar o homicídio qualificado e privilegiado. “Segundo a dinâmica do fato, o pastor agiu impelido por injusta agressão da vítima, sob domínio de violenta agressão, por causa dos xingamentos e insultos. No entanto, a partir daí, ele parte para a execução, não deixando mais chances de defesa para a vítima. Então, responderá por homicídio qualificado, cuja pena é de 12 a 30 anos, mas com possibilidade de redução da pena de um terço a um sexto pelo juiz, analisando a questão do privilégio”, explicou a delegada.
De acordo com a delegada, em depoimento que durou cerca de três horas, o pastor Israel contou que consertava sua caminhonete, em frente à igreja, quando foi abordado e ameaçado por Lucas. Além dos xingamentos e ofensas, o jovem tentou agredir o suspeito, que pegou a arma e atirou na vítima. Israel também contou que não havia sido a primeira vez que o jovem o ofendia e ameaçava sua família. “Ele contou que Lucas era usuário de drogas e sempre xingava os fiéis da igreja, insultava e ameaçava sua família de morte, em situações em que sempre havia solicitação de polícia para o local. Na noite anterior ao crime, o rapaz, sob domínio de drogas, teria chutado a lixeira, repetido os insultos, tendo sido retirado da igreja pelo próprio pai. O rapaz estaria sempre ameaçando a vida do pastor, inclusive com relato que, certa vez, havia quebrado uma garrafa e ameaçado cortar sua garganta. Por conta das ameaças, ele passou a andar com o revólver calibre 32 do pai dele, para se proteger do Lucas. Os fiéis corroboram essa história”, esclareceu Madeleine.
Na noite dessa quarta-feira, enquanto o pastor prestava depoimento à delegada, fiéis formaram uma roda de oração em frente à delegacia de São João da Barra.
Falso testemunho — Uma mulher de 49 anos chegou a ser presa nessa quarta-feira (20), por prestar falso testemunho à polícia. Ela, que compareceu à DP de SJB antes de o pastor Israel prestar depoimento e mentiu sobre a atuação de Lucas no caso, pagou fiança de R$ 1 mil para ser solta.
— A mulher disse que estava dentro da igreja, com o pastor, quando Lucas entrou na igreja, para insultá-lo, com uma arma em punho. E disse que Lucas partiu para cima do pastor, eles entraram em luta corporal, que Lucas deu um tiro na mão do pastor e que o pastor conseguiu tomar a arma de Lucas e que o jovem, mesmo baleado, teria dito que ia buscar outra arma para matar o pastor, dizendo que ainda iria estuprar a esposa dele. Foi um show de horrores de mentiras e a adverti para o risco de falso testemunho, até porque as provas eram contrárias ao depoimento dela, mas ela insistiu em prestar o depoimento e, depois, quando colhi o depoimento do pastor, já verifiquei a primeira mentira: ela não era fiel e nem estava dentro da igreja. O pastor disse que ela chegou, de moto, quando ele já estava saindo do local e, no final, quando ele confessa que a arma estava com ele, e não com Lucas, determinei a prisão em flagrante dessa mulher por falso testemunho. Ela pediu desculpas, disse que mentiu por pena da família do pastor e saiu sob pagamento de fiança, mas responderá pelo crime 342, com pena de dois a quatro anos de detenção — detalhou a delegada.
Sem flagrante — Madeleine contou que várias diligências foram realizadas para encontrar o pastor Israel. Nessa quarta, a delegada foi procurada pela advogada, informando que ele iria se apresentar. Em depoimento, horas depois, o pastor contou que, após o crime, teria fugido para a casa da mãe falecida, no Parque Prazeres, em Campos, onde também havia escondido a arma do pai, usada no homicídio. Nesta quinta, por volta das 2h, a arma foi apreendida na casa do bairro de Guarus.
— Há relatos de que os fiéis faziam correntes de oração para o rapaz, que morava a quatro ruas da igreja. Acredito eu que, por estar sempre envolvido em brigas, com a polícia sempre na sua casa, o rapaz, que tinha passagem por furto e posse de drogas, apresentava uma grande resistência ao pastor por achar que ele é que acionava a polícia. Mas a investigação está concluída. O pastor não está preso porque não havia mandado de prisão contra ele e porque se apresentou após o período de flagrante. O inquérito vai ser encaminhado ainda hoje para o Ministério Público, para que o MP se manifeste sobre a necessidade de prisão cautelar do investigado — concluiu Madeleine Farias.