“Neste documentário, o João Moreira Salles faz uma análise das imagens com muita competência e sensibilidade. Fazer um paralelo entre a viagem de sua mãe (Elisinha Moreira Salles) à China e os acontecimentos de 1968 na França (revolta estudantil) e a extinta Tchecoslováquia (Primavera de Praga) requer conhecimento histórico e avaliação aguçada”. A observação é do cineasta e crítico de cinema Felipe Fernandes, que apresentou na quarta-feira (15), no Cineclube Goitacá, o filme “No Intenso Agora” (2017), do diretor João Moreira Salles.
O ponto de partida do documentário é a viagem de Elisa (Elisinha) Moreira Salles, mãe do cineasta João Moreira Salles, nos anos 60 à China. Da ocasião, o filho resgata imagens repletas de vermelhos vivos e de demais símbolos da Revolução Cultural, fatores representativos do ideal de Mao Tsé-Tung. João, também narrador, disseca as filmagens amadoras, em princípio registros informais e bastante pessoais da temporada de Elisa em meio a uma realidade bem diferente.
Antes disso, porém, há outra análise vital ao andamento do filme, a de uma gravação sem autor. O estudo dela transforma o banal em exemplo da classificação social de acordo com a raça e a ocupação das pessoas. Logo, antes de qualquer coisa, há a orientação do olhar, um convite a prestar atenção nas bordas dos enquadramentos, a entender os fotogramas em sua totalidade. Restringir a visão ao centro, não raro, mascara os detalhes, aquilo que o próprio discurso histórico deixa para trás em função da narrativa dos triunfantes, dos dominadores. “O texto é primoroso. Vendo o filme, fiz uma viagem inversa: do exterior para o interior do ser”, disse o professor Marcelo Sampaio durante os debates. (C.C.F.)