Ex-diretor da JBS confirma esquema para campanha de Garotinho
18/04/2018 11:00 - Atualizado em 18/04/2018 14:47
Propina, contrato fraudulento com a empresa de serviços de informática Ocean Link para repassar R$ 3 milhões para a campanha de Anthony Garotinho ao Governo do Estado em 2014 e liberação de maneira rápida, sem ao menos passar pelos trâmites “normais” do procedimento ilegal. Estes foram alguns dos fatos confirmados pelo ex-executivo da JBS, Ricardo Saud, no último dia 21 de fevereiro, quando prestou depoimento dentro das investigações envolvendo a operação Caixa d’Água. Saud — que à época estava preso na Papuda — confirmou que foi ele quem escreveu em uma nota fiscal fria, o nome “Garotinho”, para identificar a qual pagamento se referia. Ele foi ouvido através de precatória, no 3º Juizado Especial Criminal de Brasília e confirmou “100%” o esquema revelado pelo empresário campista André Luiz da Silva Rodrigues, o Deca, delator da operação, que levou o casal Garotinho e mais seis pessoas à cadeia em novembro do ano passado. Deca é um dos sócios da Ocean Link e proprietário da Working, que tinha contrato com a Prefeitura de Campos na gestão da prefeita Rosinha. Hoje, dia em que completa 58 anos, o ex-governador, a esposa e os demais réus deverão estar no Fórum de Campos para interrogatório, marcado para começar às 13h.
O depoimento de Ricardo Saud, diretor de relações institucionais da JBS, ocorreu com a presença de seus advogados, da defesa do casal Garotinho, representada por Carlos Azeredo e advogados de outros réus. Primeiro, foi lido parte do depoimento prestado por Saud à Polícia Federal (PF), no Rio, e que gerou a denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE).
Ao responder questionamentos formulados, por escrito, pelo Ministério Público, Saud explicou que havia um acordo entre a J&F, conglomerado ao qual pertence a JBS, e o PT para repasse de dinheiro destinado à campanha da então presidente Dilma Roussef, candidata à reeleição. Ainda segundo Saud, o PT “comprou” o PR em troca de apoio. Em princípio seriam R$ 20 milhões, mas, ao final, acabou sendo R$ 40 milhões que seriam utilizados para eleger a presidente Dilma (PT), o vice-presidente Michel Temer (PMDB), além do maior número de deputados federais e senadores e não contemplaria a campanha de Garotinho ao Estado.
De acordo com relato de Saud, o presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues, ficou umas três semanas tentando não dar o dinheiro a Garotinho, mas depois afirmou que o ex-governador estava pressionando para receber R$ 4 milhões, com o que Saud concordou. Rodrigues, então, teria colocado o genro, Fabiano Alonso, em contato com o executivo para operacionalizar o repasse da propina. A solução encontrada foi a simulação de um contrato entre a Ocean Link e a JBS.
Quando a nota fiscal chegou, ao verificar o baixo capital social da Ocean, Ricardo Saud disse que contestou e sugeriu que o pagamento fosse parcelado. Porém, Fabiano Alonso teria afirmado que levou “uma bronca” de Garotinho, que queria o pagamento imediato. Operações deste tipo, segundo o ex-executivo, tinham que passar por quatro diretorias da JBS, além do compliance — um comando interno segundo o qual é preciso estar em conformidade com leis e regulamentos. Neste caso específico, ainda segundo Saud, isso não aconteceu e R$ 3 milhões acordados — cerca de R$ 2,6 milhões efetivamente — foram pagos de uma só vez no dia seguinte, supreendendo até mesmo os diretores da JBS.
— Fabiano voltou e falou que Garotinho estava nervoso e que eu sabia como ele era. Falei que não sabia, mas liberei — disse.
Saud afirmou que o serviço que consta no contrato não foi realizado pela Ocean e nem a JBS tinha interesse neste sentido. O objetivo foi tão somente, segundo ele, o repasse do dinheiro. Ele disse, ainda, que conhece apenas o ex-senador Antônio Carlos Rodrigues e o genro Fabiano e que nunca esteve com Garotinho ou com a prefeita Rosinha. Nem com algum sócio ou representante da Ocean: “A única coisa que pedi é que não fosse oficial. Não queria que fosse oficial que a gente estava dando R$ 3 milhões para campanha do ex-governador Garotinho numa eleição que a gente não tinha nada a ver”, disse o ex-diretor, que entregou planilhas que, segundo ele, comprovariam seus depoimentos.
Aniversário no dia de interrogatório do réu
Os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, o ex-secretário de Controle de Campos, Suledil Bernardino, o ex-subsecretário de Governo, Thiago Godoy, o empresário Ney Flores Braga, o policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro Da Silva, conhecido como Toninho, que seria o braço armado da organização, além do presidente nacional do PR Antonio Carlos Rodrigues e seu genro Fabiano Alonso são réus na Ação Penal decorrente da Caixa d’Água. Eles são esperados hoje para serem interrogados pelo juiz Ralph Manhães.
Eles foram presos preventivamente em 22 de novembro do ano passado, acusados de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais e até uso de armas de fogo para intimidação.
A denúncia apresentada pelo MPE tem como base as delações de Ricardo Saud e de empresários locais, que teriam sido extorquidos. O político da Lapa é apontado como o comandante de um esquema para cobranças de propinas na Prefeitura de Campos durante a gestão de Rosinha. A ligação entre o casal, a delação da JBS e possíveis envolvimentos com o esquema denunciado foi mostrado pelo jornalista Ricardo André Vasconcelos e pelo blogueiro da Folha1 Christiano Abreu Barbosa no dia 20 de maio de 2017.

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    Suzy Monteiro

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