Não demorou muito para que os detalhes da ligação entre o casal Anthony Garotinho (PR) e Rosinha Garotinho (PR), a delação da JBS e o recebimento de propina para fins eleitorais, fossem revelados. Os possíveis envolvimentos com o esquema, agora amplamente denunciado pela operação Caixa d’Água, se tornaram mais próximos de Campos, ainda em 20 de maio deste ano, em um trabalho de levantamento feito pelo jornalista Ricardo André Vasconcelos e pelo blogueiro da Folha1 Christiano Abreu Barbosa, com base em reportagem exibida no Jornal Nacional, da Globo. O caminho também foi seguido pela Folha em reportagens.
Faxina
Desde que o nome de Garotinho surgiu manuscrito em uma nota expedida em Campos usada para o pagamento de propina, o ex-governador já alegava estar sendo perseguido politicamente, discurso que sua defesa volta a repetir durante a prisão do mesmo e da esposa. Agora atrelam a punição aos dois a denúncias que Garotinho fez da cúpula do PMDB na Alerj. Algumas horas antes de ser preso pela Polícia Federal, o ex-governador chegou a fazer uma transmissão ao vivo no Facebook na qual analisou, em tom de celebração, a nova prisão dos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi. Na gravação, ele destacou que a “faxina contra corruptos ainda não havia terminado”. Imagina-se que ele não se incluía e nem a esposa.
Reações (I)
Mas a Justiça, com base em denúncia do Ministério Público Eleitoral, incluiu o casal na lista de políticos punidos por corrupção. Garotinho, preso pela terceira vez, parecia já estar acostumado e até pediu para falar com a imprensa em frente à Polícia Federal, nem mesmo demonstrando intimidação com os gritos de “bandido” que vinham de populares. Diferente de Rosinha que se apresentou na delegacia da PF em Campos, de onde foi levada para o presídio feminino da cidade e saiu de lá horas depois para o Rio com o semblante e vestimentas diferentes do que quando chegou, recebida aos gritos pelas presas: “a governadora chegou”. O vídeo da prefeita entrando na unidade feito pela Folha viralizou e foi usado no Jornal Nacional e outros telejornais da Globo.
Reações (II)
Com uniforme padrão da secretaria de Administração Penitenciária, Rosinha foi observada enquanto caminhava para o carro da transferência por alguns dos seus filhos, que mais cedo levaram para ela remédios e sua mala com roupas e material de higiene. Também os filhos e aliados do casal Garotinho mais cedo estiveram em frente à PF, onde se solidarizaram com a ex-prefeita. Naquele local, aconteceu uma situação que a Folha prefere encarar como um ato falho no calor das emoções, quando Wladimir Garotinho tentou impedir que a equipe de reportagem o fotografasse, levando a mão até o celular.
Reações (III)
A deputada licenciada Clarissa Garotinho, secretária no governo de Marcelo Crivella no Rio, preferiu divulgar um vídeo nas redes sociais demonstrando preocupação com a segurança do pai, que chegou a ficar no quartel dos Bombeiros de Humaitá, mas foi levado para o presídio de Benfica, onde estão presos o ex-governador Sérgio Cabral, o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), e os deputados Edson Albertassi e Paulo Melo, ambos também do PMDB. “Esse pessoal é bandido mesmo. Nosso receio é enviarem ele para essa cova dos leões”, disse a filha do casal, sem citar nada sobre a mãe. A Seap informou que Garotinho não está na mesma ala que os apontados por Clarissa.
Arma
A preocupação de filha é natural e Clarissa fez questão de ressaltar em seu vídeo que não iria comentar a decisão da Justiça contra o pai. Mas talvez, mesmo se quisesse, teria que se respaldar bastante diante das fartas denúncias que levaram as prisões de ontem. Entre elas a relação do pai dela com Antônio Carlos Ribeiro, vulgo Toninho, também preso ontem como braço armado da organização criminosa liderada por Garotinho. O policial civil aposentado é destacado pelo seu poder intimidativo contra empresários extorquidos e que mantinham contrato de prestação de serviços ou de realização de obras públicas com a Prefeitura de Campos.
Não é de hoje
A suposta utilização de arma para intimidar não é novidade em crimes envolvendo Garotinho. O modus operandi revela um padrão de comportamento em vários dos escândalos desde 2010, quando, por exemplo, Garotinho foi condenado pela Justiça Federal por formação de quadrilha armada, junto com nove pessoas, entre elas o ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins. Na mais recente operação Chequinho, que prendeu o ex-governador por duas vezes, também há relatos do emprego de arma de fogo para coagir testemunhas.