Um Garotinho e três delações
Suzy Monteiro 25/11/2017 17:12 - Atualizado em 28/11/2017 15:42
Cunha era aliado de Garotinho
Cunha era aliado de Garotinho / Folha da Manhã
Três delações que abalaram o mundo da política brasileira - dos executivos da Odebrecht, da JBS e do doleiro Lúcio Funaro - guardam entre si muito mais semelhanças de esquemas que fizeram escoar para o ralo bilhões reais que poderiam ter mudado, e salvado, a vida de brasileiros. As três citam, em algum momento, o nome do ex-governador Anthony Garotinho (PR). Presidente regional do Partido da República (PR), Garotinho foi afastado do cargo na última quarta-feira (22), na mesma decisão que o levou à prisão preventiva na operação Caixa d’água, cujas investigações iniciaram após a divulgação da delação da JBS. Nesse sábado (23), a defesa não se manifestou sobre as três delações, mas anteriormente havia negado qualquer irregularidade.
Na rotina de escândalos em que vive o Brasil nos últimos anos, o acordo de colaboração, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), poderia ser mais um, mas apontava como um dos mais “bombásticos”, já que tinha gravações em áudio e vídeo em que apareciam figurões da política, como o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador Aécio Neves (PSDB).
Em maio, foi divulgado o teor da delação de executivos da JBS, onde havia até um áudio de conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Temer, gravado em 7 de março.
À reboque, outras delações de executivos da JBS foram divulgadas, como do empresário Ricardo Saud. E foi justamente nesta que o nome da Prefeitura de Campos e do ex-secretário municipal de Governo, Anthony Garotinho, apareceu.
Leandro Azevedo esteve na assinatura do Morar Feliz
Leandro Azevedo esteve na assinatura do Morar Feliz / Folha da Manhã
O jornalista Ricardo André Vasconcelos mostrou em seu blog “Eu penso que...” que o brasão da Prefeitura de Campos apareceu entre os documentos mostrados em matéria do Jornal Nacional sobre a delação. A nota foi repercutida no blog “Ponto de Vista”, de Christiano Abreu Barbosa. O post mostrava que uma nota fiscal emitida em 01 de setembro de 2014 pela Ocean Link Solutions, relativa a um serviço fictício no valor de R$ 3.004.160,00, foi usada para propina segundo Ricardo Saud. O valor teria sido direcionado para pagamento de propina ao ex-senador e ex-ministro Antonio Carlos Rodrigues, do PR, partido da ex-prefeita Rosinha e do ex-governador Garotinho.
O Ministério Público abriu investigação. A partir daí, o empresário André Luiz da Silva Rodrigues, sócio da Ocean Link e também dono da Working, grande prestadora de serviços durante o governo Rosinha, fechou acordo de delação com a Justiça Eleitoral para entregar como funcionava o esquema.
Denúncia do MP Eleitoral, que passou a investigar o caso, e Inquérito da Polícia Federal têm, além da delação, outros depoimentos, e-mails e comprovantes de transações entre a JBS e a Ocean Link.
Desvio de dinheiro da Prece para campanha
Em 14 de outubro, trecho da delação do doleiro Lúcio Funaro foi divulgada e apontou, mais vez, os holofotes para Garotinho. Ele falou que o esquema de desvio de dinheiro da Prece, o fundo de pensão da Cedae, operado por Eduardo Cunha (PMDB), foi planejado durante a campanha de Rosinha Garotinho (PR) para o Governo do Estado. Ele afirma que parte desse fundo ia para Anthony Garotinho, que na época tinha um projeto de candidatura à presidência.
— Eu perguntei para o deputado Albano Reis, e ele me informou que se quem ganhasse a eleição fosse a Rosinha Garotinho, que era a candidata que tinha mais probabilidade de ganhar, quem teria o comando a Cedae e da Prece seria o Eduardo Cunha. E como ele era um político experiente, eu fui com ele para falar com o Eduardo Cunha — disse o doleiro.
Furano também respondeu em que anos operou na Prece: “De 2003, quando a ex-governadora Rosinha Garotinho assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro, até dezembro de 2006, quando ela saiu do mandato e assumiu o governador Sérgio Cabral”. Mas, segundo Funaro, Garotinho usou os serviços de Cunha quando planejava ser candidato à presidência, em 2006.
Depois, Cunha e Garotinho romperam e tornaram-se inimigos.
Com caixa 2 mostrado em planilhas e depoimentos
Antes da JBS, a delação de ex-diretores da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Leandro Andrade Azevedo, também atingiu o grupo político liderado por Anthony Garotinho. Ao Ministério Público Federal (MPF), eles falaram sobre pagamento, parte através de caixa 2, para a campanha de Rosinha, em 2008 e 2010, e para Garotinho em 2014. No total, seriam quase R$ 20 milhões.
No escritório de Benedicto, foram apreendidas planilhas com os nomes do casal. A Odebrecht foi responsável pela construção do Morar Feliz, maior contrato já firmado pela Prefeitura de Campos: quase R$ 1 bilhão com aditivos. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara de Vereadores, investiga o caso.
As denúncias foram repetidas pelos executivos em Campos, onde estiveram em 26 de junho para depoimento à 1a Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva na investigação sobre os contratos do Morar Feliz.
O contrato tem a assinatura de Benedicto. Leandro esteve em Campos com Rosinha para o lançamento das obras.
Perseguição alegada e negativa de crimes
No caso das prisões motivadas pela delação da JBS, os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho divulgaram nota atribuindo a “mais um capítulo da perseguição que vêm sofrendo desde que o ex-governador denunciou o esquema do governo Cabral e do desembargador Luiz Zveiter.
Não por acaso é Glaucenir de Oliveira quem assina os pedidos de prisão, o mesmo juiz que decretou a primeira prisão de Garotinho no ano passado, após este ter denunciado Zveiter à Procuradoria Geral da República.
Anthony Garotinho afirma ainda que nem ele nem nenhum dos acusados cometeu crime algum”.
Em relação à Odebrecht, ao saírem as denúncias, eles disseram que “nunca receberam qualquer contribuição não contabilizada e que se, a petição chegar a virar inquérito, vão provar que o delator está mentindo, uma vez que não apresentou nenhuma prova do que afirma. A defesa declarou ainda que o casal está à disposição da Justiça”.
A respeito da delação de Funaro, a resposta foi: “Funaro está mentindo e o desafio a mostrar qualquer prova contra mim, seja ela conta no exterior ou no Brasil, patrimônio adquirido de forma ilícita ou manuscritos pessoais do doleiro”, afirmou o casal em nota divulgada no início de novembro.

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