A sexta-feira (24) começou com a notícia de que Anthony Garotinho (PR) teria sofrido uma agressão durante a madrugada na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, e terminou com a transferência do ex-governador para o presídio de segurança máxima de Bangu 8, também no Rio de Janeiro, como uma punição por não ter conseguido comprovar a denúncia, de acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap). O dia também foi marcado por uma inspeção do Ministério Público Estadual (MPRJ) em Benfica. A fiscalização encontrou e apreendeu nas celas da ex-prefeita de Campos Rosinha Garotinho (PR), do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e da sua esposa, a advogada Adriana Ancelmo, alimentos como iogurte, queijos, castanhas e frios. Enquanto isso, a Polícia Federal anunciou que vai abrir um procedimento para investigar o motivo pelo qual Garotinho foi levado sem autorização para o quartel do Corpo de Bombeiros de Humaitá antes da transferência definitiva para Benfica. Já no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Jorge Mussi foi escolhido para ser o relator dos casos envolvendo a operação Caixa d’Água, que apura um esquema de propinas na Prefeitura de Campos e levou o casal Garotinho para atrás das grades.
O político da Lapa denunciou que foi agredido no joelho e no pé com um porrete durante a madrugada depois que um homem teria invadido sua cela e apontado uma arma para sua cabeça. De acordo com Garotinho, o homem ainda teria dito que ele (Garotinho) “gosta muito de falar” e “só não vou te matar para não sujar para o pessoal aqui do lado”, apontando para a galeria onde estão os presos da Lava Jato. No entanto, as imagens do circuito interno da cadeia não registram nenhuma movimentação na ala onde está o ex-secretário de Governo, que é isolada das demais e não possui nenhum outro detento.
Já durante à tarde, o juiz Ralph Manhães, da 98ª Zona Eleitoral de Campos, determinou que, diante das imagens da Seap, Anthony Garotinho fosse transferido para uma prisão de segurança máxima. O magistrado ainda chamou a atenção de que o detento pode ser indiciado por falsa comunicação de crime. “Haja vista que, nesta hipótese, estariam sendo criados fatos inverídicos para benefícios em relação ao seu encarceramento, o que deve ser rechaçado com veemência”. Ralph também destacou que a integridade física do ex-governador deve ser preservada e, por isso, o preso deverá ser mantido em cela separada dos demais.
Imagens desmentiram versão de Garotinho
Imagens desmentiram versão de Garotinho
Imagens desmentiram versão de Garotinho
Em Bangu 8, para onde Garotinho foi transferido, ele ficará isolado e com uma câmera em sua cela para monitoramento 24 horas.
As câmeras de segurança só gravam imagens quando há movimento, segundo a Seap. A primeira imagem é registrada às 23h58, com Garotinho sozinho na cela do meio. À 1h30 da madrugada, ele bota as mãos para fora e bate palmas para chamar a atenção dos agentes. Depois de 26 minutos, dois agentes aparecem na galeria, se aproximam da cela e parecem contrariar algo dito pelo ex-governador e logo vão embora.
Às 2h13, um terceiro agente aparece para ouvir Garotinho. Depois da conversa, os três agentes deixam a galeria juntos e voltam sete minutos depois, trazendo com eles Sérgio Côrtes, ex-secretário estadual de Saúde, que faz parte da ala dos presos da Lava Jato, e que também é médico. Côrtes examina o político, que, cinco minutos depois, aparece de pé na porta da cela. Ele diz alguma coisa para Sérgio Côrtes, e entra. Na sequência, o ex-secretário de Saúde volta para sua ala, os agentes fecham a porta e saem.
Logo pela manhã, Garotinho e seu advogado, Carlos Azeredo, alegaram a agressão e foram para a 21ª Delegacia de Bonsucesso para registrar uma queixa. O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Gutemberg Oliveira, reagiu duramente dizendo que Garotinho “está mentindo ou teve uma alucinação”. “A gente vê claramente que ele está dopado então ele pode ter tido um delírio sim” (...) “As câmeras dizem mais que os servidores. Não existe a versão do Garotinho nas câmeras, ele teve um delírio. Ele está em uma galeria sozinho, numa cela sozinho. É impossível que alguém tenha entrado na galeria e feito o que ele falou”.
A defesa de Anthony Garotinho informou que o ex-governador está disposto a fazer um retrato-falado do agressor e que a polícia precisa apurar o que aconteceu.
Juiz manda PF investigar passagem por bombeiro
O juiz Ralph Manhães mandou que fossem apuradas as circunstâncias que fizeram o ex-governador ter sido levado por agentes da Polícia Federal (PF) sem nenhuma ordem judicial para o Corpo de Bombeiros de Humaitá, no Rio, antes de ser transferido em definitivo para Benfica, na última quarta-feira, quando o político foi preso na capital.
Há a suspeita de que haja uma passagem interna entre o quartel e a Casa de Espanã, um clube vizinho, presidido por Marcos Antonio Alvite Vazquez, marido de Clarissa Garotinho. Na decisão, o juiz afirma que viu o fato com “bastante estranheza” e que não houve comunicação formal às autoridades responsáveis pela prisão de Garotinho.
Em nota, a Defesa Civil informou que “não existe passagem interna entre o quartel do Humaitá e a Casa de Espanã”.
Clarissa Garotinho, por meio da assessoria, afirmou que a conexão entre os dois imóveis existiu entre 2010, quando uma chuva destruiu o ginásio e o clube passou a usar as quadras do quartel, e 2013, quando uma obra interrompeu o caminho. Hoje, segundo ela, há uma parede no local onde já houve a passagem.
Bacalhau e camarão apreendidos em celas
Iogurte, camarão, queijo de cabra, bacalhau, castanhas, frios. Os alimentos são comuns em mesas de restaurantes, alguns de alto padrão. No entanto, este foi o cenário encontrado pelo Ministério Público durante inspeção nas celas de Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo e Rosinha Garotinho em Bangu. O material foi apreendido durante a ação de fiscalização das promotoras de Justiça Andrea Amin e Elisa Fraga, respectivamente coordenadora do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Público (Gaesp/MPRJ) e Coordenadora de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ).
Uma das embalagens foram marcadas com o nome de Cabral na tampa. Os promotores encontraram os alimentos ensacados em tonéis. Refrigerantes e iogurtes estavam em baldes de gelo para serem conservados. Cabral alegou que o iogurte é vendido na cantina da prisão.
Alimentos foram encontrado em celas
A Seap informou, por nota, que há uma resolução desta pasta dizendo que todo o visitante de interno de todo o sistema penitenciário pode levar até três bolsas de supermercado contendo alimentos ou produtos de higiene pessoal para os detentos de todo o sistema prisional. As restrições são para alimentos ou produtos de higiene que dificultem a fiscalização dos mesmos.
O MPRJ informou que vai comunicar os fatos ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, a ao juiz Ralph Manhães, de Campos, e que adotará as medidas cabíveis contra as autoridades e servidores da Seap envolvidos.
Os alimentos foram entregues ao Instituto de Criminalistica Carlos Éboli, na Cidade da Polícia. (A.S.) (A.N.)