“O Estado, hoje, instituiu a escravidão.” O posicionamento da servidora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), a técnica-administrativa Maristela de Lima Dias, demonstra a realidade na qual vivem os trabalhadores da instituição de ensino superior, cujos docentes decretaram greve nessa quinta-feira (3), por tempo indeterminado. Os funcionários permanecem sem o 13º salário e com atraso nos salários de maio, junho e julho. Ante à falta de pagamento e de repasse de verbas à Uenf pelo governo estadual, funcionários organizaram o recebimento de doações de cestas básicas, que são distribuídas semanalmente no pátio da universidade aos servidores ativos, aposentados e pensionistas, com necessidades mais urgentes de assistência, que podem pegar os alimentos de 15 em 15 dias.
Nesta sexta-feira (4), entre 6h30 e 9h, cerca de 80 pessoas compareceram ao prédio da reitoria, na sede da Uenf, onde as cestas são distribuídas até as 15h. A campanha de doação de alimentos foi criada pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe) e acontece todas as sextas-feiras. A greve dos docentes não irá alterar a entrega dos produtos. A técnica Maristela contou que, ao chegar à Uenf, nas primeiras horas desta manhã, contabilizou aproximadamente 40 aposentados na fila para o recebimento de alimentação.
— Essas pessoas estão passando por dificuldades muito grandes. Têm mais de 70 anos. Quando elas se aposentam, estão com a saúde debilitada, já têm gasto maior com remédios e salários menores. São as mais sacrificadas e não têm direito à greve. Toda sexta-feira, estamos fazendo distribuição. Os alimentos estão sendo doados pela sociedade, pelos servidores públicos que estão com salários em dia. Temos doações de bombeiros, da polícia, da Defensoria Pública e do Ministério Público, das justiças Federal e Estadual e de professores — explicou Maristela.
Os técnicos-administrativos continuam com a paralisação em três dias da semana. Na próxima terça-feira (8), haverá uma assembleia para definir se estes servidores irão aderir à greve. O Muspe, originalmente voltado para a luta pelos direitos de profissionais da área educacional, se voltou para o apoio aos servidores.
- Recebemos pessoas passando mal, chorando, com depressão, com psicológico muito abalado e sem ter o que comer em casa. A cada 15 dias, a pessoa pode voltar para pegar a cesta. Isso vai acontecer até que os pagamentos sejam regularizados e enquanto a população continuar doando. Tem muita gente precisando. A cada semana, distribuímos 500, 600 cestas básicas”, contou.
O corpo docente da universidade aprovou greve por tempo indeterminado, com adesão de toda a categoria. Com a decisão, foram suspensas as aulas do segundo semestre, que já haviam sido iniciadas. Por ora, os técnicos-administrativos continuam com a paralisação durante três dias da semana. Na próxima terça-feira (8), haverá uma assembleia para definir se estes servidores irão aderir à greve.
Menos chances com regime de exclusividade
Também membro do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais no Estado do Rio de Janeiro (Sintuperj), Maristela de Lima Dias comentou que os funcionários da Uenf, tanto do corpo docente quanto os técnicos-administrativos, diante da grave crise, não têm possibilidade de buscar outros empregos devido ao regime de trabalho: os professores atuam em regime de exclusividade e técnicos trabalham quarenta horas por semana.
— Estamos todos os servidores em situação ruim por causa da falta do pagamento. O governo declarou que quitou os salários de maio, mas foi para pouquíssimos servidores. O resto não recebe nada e não tem data para receber. Então, está instituída pelo Estado a escravidão — complementou.
Em nota, o Governo do Estado do Rio de Janeiro informou que “reconhece a importância da Uenf e tem concentrado esforços na busca de soluções para a superação do atual quadro de dificuldades enfrentadas pela instituição. A adesão ao regime de recuperação fiscal, solicitada na última segunda-feira pelo governo do Rio, permitirá o reequilíbrio financeiro do estado, possibilitando a regularização do pagamento dos salários dos servidores ativos, inativos e pensionistas e do custeio das atividades fundamentais para prestação de serviços à população”.