Crítica de cinema: A boneca assassina
Edgar Vianna de Andrade 21/08/2017 19:17 - Atualizado em 22/08/2017 16:49
Já assisti a Annabelle muitas vezes com outros nomes, em cinema, televisão e DVD. Não é inédito colocar em filme um homem que fabrica bonecos. O mais antigo parece ser Geppeto, criador de Pinocchio, o boneco desobediente, mas não aterrorizante. Chucky também é um boneco no corpo do qual se encarnou a alma de um assassino morto. A morte violenta de uma criança, outro elemento de Annabelle 2, remete ao excelente filme “A inocente face do terror”, de Robert Mulligan, um clássico de 1972 e hoje esquecido. Filme que merece uma sessão do Cineclube Goitacá. Mas outras crianças morreram no cinema para que forças do mal se apoderassem de suas almas. Quanto a casas velhas e assombradas, então, nem falar. Pode-se até pensar num subgênero de terror com elas, assim como múmias, zumbis, vampiros e lobisomens.
Crianças órfãs, pobres e inocentes como carne fresca para o demônio é outro elemento encontradiço nos filmes de terror. O diabo é pedófilo por natureza. Mas podemos também colocar mais ingredientes num filme de terror, como, por exemplo, a mãe abalada pela perda da filha e que vive acamada. Ela usa meia máscara no rosto, como o fantasma da ópera, tantas vezes levado às telas e já um clássico em 1925, com direção de Rupert Julian. Sabe-se depois que a mãe perdeu um olho por agressão do demônio.
Quantas e quantas vezes, um quarto fechado apareceu no cinema como local proibido pelos perigos que encerra? Já perdi a conta. Apartamentos e quartos assombrados são lugares privilegiados dentro de uma casa maldita. E a presença do demônio numa casa ou numa pessoa? Examinando a filmografia a respeito, chega a ser cansativa a lista, a começar por “O exorcista”, dirigido por William Friedkin e lançado em 1973.
Não faltam em Annabelle 2 os ruídos caraterísticos dos filmes de terror produzidos nos Estados Unidos. Os silêncios são interrompidos por sons bruscos que assustam mais pelo inesperado que pelo medo. Já, nos filmes orientais de terror, o assustador está presente no silêncio e nos ruídos. E o poço do quintal da casa assombrada? Só faltou Samara emergir dele e pegar alguém. Mas, no final, as crianças e adolescentes se salvam, com exceção de uma, que é levada pelo demônio. Ela não vai para o mundo infernal nem morre como os demais mortais. Ela acaba aparecendo em outra situação, como a anunciar que teremos continuação. Assim como Olwen Catherine Kelly, em noventa minutos, apenas mexe por um segundo o dedão do pé no filme no filme “A autópsia”, a boneca Annabelle, no fim, exibe um quase imperceptível espasmo. Ambos os movimentos podem ser tomados como anúncio de continuação.
O final do filme é confuso. Sugiro até que Annabelle se transforme em governadora e prefeita para se casar com Chucky, também famoso político de Campos que já foi governador e prefeito do município. Ele é rechonchudo e ela meio clara. Seria um casamento perfeito e renderia um filmaço, pois a vida real é mais aterrorizante que a ficção. E existiu mesmo um caso real com a Annabelle boneca e a Annabelle campista.

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