Os dias continuam não estando fáceis para o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que volta e meia vê seu nome citado em denúncias que ganham repercussão nacional. Da derrota que sofreu ainda no primeiro turno da eleição ao Governo do Estado, em 2014, até hoje a maré não anda nada boa para ele, sendo refletida também em revés para o seu grupo político, inclusive na disputa à Prefeitura de Campos em 2016. O desgaste sofrido por Garotinho se revelou também na Prefeitura durante os oito anos de gestão da sua esposa, a ex-prefeita Rosinha (PR). Talvez aí esteja a pior conta deixada por ele: o suposto rombo nos cofres por uso da máquina pública para interesses pessoais políticos.
De todos os lados
Chequinho, Lava Jato, JBS e CPIs na Câmara são só alguns dos assuntos que já pairam sobre o inferno astral que vive o marido da ex-prefeita, que só pode pisar em Campos, se liberado pela Justiça. E o pior: as consequências das denúncias envolvendo o seu nome ainda são desconhecidas em todos estes casos. Citado na “Delação do fim do mundo”, por exemplo, Garotinho ainda não sabe como vai ficar sua situação após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, encaminhar as delações da Odebrecht à 7.ª Vara Federal Criminal do Rio.
Executivos em Campos
As delações foram feitas ao Ministério Público Federal, pelos ex-diretores a Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Leandro Andrade Azevedo. Mas, muito antes de vir à tona todo o esquema de propina e caixa 2 da empreiteira a políticos, em Campos o Ministério Público Estadual (MPE), desde 2011, já investiga a relação do governo Rosinha com a empreiteira, gerando um inquérito em 2015, que no último dia 26 trouxe a Campos Benedicto e Leandro Azevedo, como mostra reportagem exclusiva da jornalista Suzy Monteiro, nas páginas seguintes desta edição. Leandro já tinha estado na terra dos Garotinho para assinar o “Morar Feliz”, cujo o valor das casas foi o que motivou a investigação inicial do MPE.
Confirmam tudo
Em seus depoimentos à 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Campos, eles detalham como conseguiram os contratos do “Morar Feliz”, orçados em quase R$ 1 bilhão dos cofres públicos do município, maior contrato dos seus 182 anos de história. Eles também confirmam os R$ 20 milhões de Caixa 2 destinados a campanhas do casal. Outra informação confirmada pelos executivos é a de favorecimentos para que a empreiteira vencesse a licitação. A manobra já havia sido noticiada pelo “Ponto Final” em 29 de maio de 2009, quando foi antecipado que a Odebrecht ganharia a concorrência, o que se confirmou quatro meses depois.
Na delação de Cunha
E se tudo mostrado até agora nesta coluna já parece muito e grave, não se sabe também ainda as consequências para Garotinho da delação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), preso pela Lava Jato. A jornalista Mônica Bergamo, na coluna Painel do jornal Folha de S. Paulo, destaca que “Cunha dedicou especial atenção a adversários de seu Estado, o Rio. Segundo aliados, Anthony Garotinho (PR) é citado em diversos trechos”. Já se antecipando, como costuma fazer ao que é previsível sobre ele, em nota pela assessoria, o ex-governador diz que, se houver citação ao seu nome será por “vingança” e que “delação sem prova não vale nada”.
Ligação
Na nota, Garotinho diz que “Cunha é bandido” e que ele provou isso. “Ser citado por Eduardo Cunha não é novidade. Vai apenas responder mais um processo”. A relação de Cunha e Garotinho é antiga. Antes aliados, foi o ex-governador que colocou Eduardo de volta a um cargo público, após envolvimento num escândalo da Telerj em 1989. Ele voltou ao cenário político em 1999, durante o mandato de Anthony, como governador do Rio. Ignorando o esquema da Telerj, Garotinho convidou Cunha para assumir a presidência da Companhia Estadual de Habitação (Cehab), de onde saiu sob uma chuva de denúncia. É atribuída também a Garotinho a articulação para que Cunha entrasse no PMDB, partido que já foi dele.
“Siga o bandido”
Coincidência ou não, a nota da coluna da Folha de S. Paulo que trata de Garotinho é seguida por outra, na qual cita que Cunha tem dito que, após sua colaboração, a expressão “siga o dinheiro” (“Follow the money”) — conhecida durante a investigação feita pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein que levou à renúncia do então presidente dos EUA, Richard Nixon — cairá em desuso. “Será siga o bandido”. De quem o ex-deputado federal está falando ainda não se sabe ao certo. Mas não deve demorar muito a revelação. Délio Lins e Silva, advogado de Cunha, deve tratar no início dessa semana com a Procuradoria-Geral da República a proposta de delação do peemedebista. O conteúdo deve atingir em cheio o presidente Michel Temer (PMDB), alguns de seus ministros e a cúpula do Congresso.