Com a constante divulgação da imprensa regional, o jornal O Globo deste domingo (2) destaca a necessidade de tirar do papel o projeto do Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) para conter o avanço do mar em Atafona. Como destacado pela jornalista Suzy Monteiro em seu blog, Na curva do rio, vale a pena conferir a reportagem especial de Caio Barretto Briso e do repórter fotográfico Roberto Moreyra. Disponível no site de O Globo, a matéria, que ocupa as páginas 22 e 23 do impresso, mostra relato de pescadores sobre as dificuldades criadas pelo deslocamento dos bancos de areia na foz, fazendo, inclusive, com que alguns deles nem venham mais para a praia do Norte Fluminense, tendo de levar seus barcos para o litoral capixaba. Apesar de ser um assunto em destaque, a necessidade de conter o avanço do mar em Atafona não é recente, já era manchete em jornais regionais em meados do século passado.
Em O Globo, o projeto do INPH é relatado como “a pouca esperança dos moradores”. A prefeita Carla Machado (PP) falou sobre a reunião nesta semana com o Instituto Nacional do Ambiente (Inea), conforme revelado por este blog (aqui), para agilizar o licenciamento, além de citar a necessidade de recursos de outras esferas governamentais e a apresentação do projeto ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Carla também fala da preocupação com novas intervenções no Paraíba do Sul e as consequências do rio cada vez mais fraco. A matéria, ainda, traz relatos de Soninha Ferreira, que mostra sua história com o balneário, e do artista plástico Jair Vieira, com sua coleção de fotos locais, que documentam o avanço do mar.
Mas não é de hoje que a intervenção, agora com valor estimado em mais de R$ 150 milhões, é cobrada. No grupo de Facebook “Relembrando Campos”, o publicitário Genilson Paes Soares publicou foto da edição de 17 de fevereiro de 1959 do extinto jornal campista “Folha do Povo” que em sua página principal destacava: “'Espigão' para garantir sobrevivencia do Pontal, em Atafona”. Já nos anos 50 do século passado havia a preocupação de um projeto de intervenção para salvar Atafona. Quase 60 anos depois, pouco mudou. À época, o deputado estadual Simão Mansur (1915-1978), demonstrou interesse e disse que lutaria pelo projeto. Agora, são outros políticos nesta saga. Enquanto isso, o mar que já encobriu todo Pontal, avança cada vez mais sobre Atafona. Abaixo, para facilitar a leitura, reproduzo o texto publicado em 1959, mantendo sua integridade absoluta, mantendo a redação original.
'Espigão' para garantir sobrevivencia do Pontal, em Atafona
Um “espigão”, com pedras, paralelo à costa, da foz do Paraíba até as imediações do pequeno (e pitoresco) farol, pelo menos, é uma providência que se faz reclamada, de imediato, da parte do Departamento Nacional de Portos Rios e Canais, quer para assegurar a continuação da sua obra do pôrto de São João da Barra, quer para a preservação do belíssimo recanto do Pontal, em Atafona, e ainda para defender a economia de quasi uma centena de pequenos proprietários que ali têm as suas residências; veranistas e pescadores, principalmente dêstes que estão ameaçados de perderem suas casas ante o avanço sistemático do mar naquele trecho da praia.
A DEZ METROS
Avançando continuada e sistematicamente, o mar já se encontra, num longo trecho, a apenas dez metros, se tanto, de várias casas de veranistas e pescadores, todos alarmados ante a perspectiva de um prejuízo, que será inevitável se aquele departamento e as demais autoridades responsáveis não intervirem.
“ESPIGÃO” RESOLVERIA
Um “espigão”, a exemplo do que foi feito em ambas as margens do Paraíba, em Campos e São João da Barra, resolveria o problema, vez que, com ele, estaria formado uma espécia de “quebra mar”, evitando em consequência, o seu trabalho da erosão.
Essa medida foi, aliás, adotada no Recife e ainda recentemente em várias praias do Rio de Janeiro, com pleno exito.
DEPUTADO INTERESSOU-SE
Sempre vigilante na defesa das cousas de São João da Barra, da qual é filho dinâmico e diligente representante, o deputado Simão Mansur ainda domingo último — quando encerrou pequeno período de veraneio em Atafona — pôde sentir, em contato com pescadores e veranistas do Pontal, as suas justas e compreensiveis apreensões, tendo inclusive visitado o local, quando assegurou a todos que não mediria esforços no sentido de interessar o Departamento de Portos, Rios e Canais pelo problema que, realmente, reclama uma providência imediata.