Lembranças que movem distrito
Jéssica Felipe 24/06/2017 22:19 - Atualizado em 28/06/2017 15:49
Usina Barcelos
Usina Barcelos / Antônio Leudo
Um dos principais símbolos de um município é o brasão. Na imagem de São João da Barra, junto da pesca, pecuária, presença indígena e coroa imperial, duas torres marcam os tempos de açúcar na região. Foi a usina de Barcelos, a responsável por enraizar no município a produção açucareira, sendo ela o motor do desenvolvimento econômico no Norte Fluminense. Só nas ilhas do rio Paraíba do Sul, havia seis engenhos, os Engenhos Centrais de Barcelos, que mudaram o método produtivo de cana-de-açúcar no país. Já não se utilizaria mais mão de obra escrava, um avanço para a época. São quase 140 anos de história. Desativada desde 2009, a usina tem sido alvo de atenção para aqueles que desejam fazer do espaço uma área de recreação, lazer e de memória, pela importância que teve.
A usina de Barcelos foi inaugurada em 23 de novembro de 1878, com a presença do imperador D. Pedro II, e está localizada à margem do Paraíba, distante 19 km de São João da Barra e 18 km de Campos. Entre seus fundadores, o Barão de Barcelos. Sua produção anual era 120 mil arrobas de açúcar e 900 pipas de aguardente em seus primeiros anos. Sua capacidade era de moer, em 24 horas, 250 toneladas métricas de cana, com 12 km de linha férrea para o centro da lavoura, atendendo ainda a usina Tahy de propriedade de Olímpio Joaquim da Silva Pinto.
— O Engenho Central de Barcelos, assim denominado por obrigação contratual do financiamento imperial, foi uma das primeiras indústrias da região a não utilizar mão de obra escrava. Gerou muita produção e empregos e fez surgir a própria localidade de Barcelos, hoje 6º distrito de São João da Barra”, conta o sanjoanense e pesquisador em museologia André Pinto.
  • Usina Barcelos

    Usina Barcelos

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No final do século XIX, a Usina construiu sua própria ferrovia particular para o escoamento de cana-de-açúcar das propriedades existentes na planície goitacá. Segundo André Pinto, eram em torno de oito locomotivas à vapor e cerca de 100 vagões-carreta que trefegavam em circuito rural em trilhos próprios. Outro marco positivo foi a pista de pouso para aviões, aproveitada pelos militares em tempos de Guerra. Em 1974, o grupo Othon, do empresário Bezerra de Melo, adquiriu o empreendimento. Apesar de ter entrado no programa Pró-álcool na década de 1980, por motivos de melhor produção do mercado sucro-alcooleiro na região de São Paulo, foi nessa gestão que a usina começou a amargar prejuízos e sofreu, inclusive, processos trabalhistas e de danos ao meio ambiente por poluição atmosférica, sendo desativada em 2009.
O tabelião aposentado João Brito Peixoto, de 87 anos, chegou a trabalhar na usina. Ele falou com orgulho do seu lugar, entretanto, considerou negativa a adesão do Grupo Othon. “Tudo mudou pra pior depois que eles compraram a propriedade”, mencionou. Ele deseja que toda a história de Barcelos seja honrada.
A Folha entrou em contato com a assessoria do grupo Othon, mas não teve resposta até o fechamento dessa edição.
Pedido de tombamento foi feito no dia 19
Desde 2009, com o cenário de inatividade, a usina tem sido assunto no que diz respeito aos aspectos culturais do município. Em 2013, a Prefeitura manifestou interesse em adquirir e espaço, por desapropriação de utilidade pública. O arquiteto Jayme Lerner chegou a elaborar um projeto paisagístico aproveitando-se as instalações e maquinários da referida usina. No entanto, nenhuma ação foi concretizada. Dois anos depois, o museologista André Pinto e o diretor do Arquivo Público de Campos, Carlos Freitas, fizeram uma indicação para que o estado pudesse tornar o espaço um museu da Cana-de-Açúcar. Já era desejado o tombamento do local como patrimônio histórico.
No último dia 19, o conselheiro estadual de Política Cultural, representante do Norte Fluminense, Bruno Costa, protocolou o pedido de tombamento junto ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). A solicitação foi entregue com um dossiê contendo o histórico da usina, fotos e documentos. Segundo Costa, é preciso empoderamento da sociedade para seu patrimônio. “A Usina Barcelos é a história viva do município. Não podemos permitir que mais um patrimônio seja destruído”.
Para Albert Campos, produtor cultural do distrito, o desejo da comunidade é claro: um espaço físico que mantenha a memória cultural, mas, que traga também recreação, lazer e emprego. “Acho que deveriam refazer ou criarem algo, mas não acabando com a usina. Que mantesse ela. Poderiam fazer um museu”, disse.
Câmara homenageou localidade em 2015
Domingos Alves Barcellos Cordeiro, esse era o nome completo do “Barão de Barcelos”, bacharel em direito e nascido em 1834 em terras sanjoanense. Grande fazendeiro no Rio de Janeiro e um dos fundadores da Usina de Barcelos, que era a segunda maior usina de açúcar do Estado. Recebeu o título de barão em 19 de Julho de 1879, pelo imperador D. Pedro II, dedicado ao sobrenome da família, que tinha origem portuguesa, de abastados proprietários rurais, donos de engenhos na região norte-fluminense. Líder político de SJB, Domingos esteve como presidente da Câmara Municipal em diversas gestões. Após sua morte, em 1904, a antiga rua da “Banca”, no Centro da cidade, passou a denominar-se rua Barão de Barcelos.
Em 2015, o distrito de Barcelos foi homenageado na “Câmara Cultural”, destacando aspectos marcantes desse lugar. No evento, fotografias antigas (cedidas pelos moradores e pela Folha da Manhã) foram exibidas em exposição.

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