Fim de festa: vem aí a delação do fim do mundo
Guilherme Belido 04/03/2017 15:27 - Atualizado em 07/03/2017 13:01
Com o término da temporada de verão é que 2017 começa pra valer; Na política, contudo, o caldeirão está fervendo desde o início de fevereiro
Da 4ª-feira de cinzas ao sábado de ontem, o fim de semana pós-carnaval marcado por praias lotadas confirmou a velha tradição de que a maioria das regiões do Brasil só acorda mesmo com a chegada de março – o que fica ainda mais evidenciado quando os dias de momo caem no final de fevereiro.
Da volta às aulas ao dia-a-dia de trabalho, o mês do carnaval não deixa de ser uma disfarçada extensão das férias de janeiro. Ou, dizendo diferente, um retorno preguiçoso, que só quando acaba a alta temporada é que pula da cama pra valer.
Por outro lado, em tempos de sobressaltos na política e crise na economia, a turbulência não deu folga e o pau comeu solto já nos primeiros dias de fevereiro. E a exemplo do que se viu desde o final de 2016, muito mais no lombo do PMDB do que no PT – que até ganhou um refresco nos últimos meses.
Se do lado do governo a situação vinha se complicando, mais complicada ficou com o depoimento de 4ª-feira de Marcelo Odebrecht, dado ao Tribunal Superior Eleitoral, confirmando o uso de caixa 2 em doações para a campanha de reeleição da chapa Dilma-Temer.
Não obstante a tramitação da ação seja lenta e dificilmente haja decisão antes do fim do mandato de Temer, o depoimento do empreiteiro traz novo desgaste à imagem do presidente, já arranhada pelas citações na Lava Jato de amigos próximos e figuras-chaves do governo.
De mais a mais, a simples confirmação do empresário de que em 2014 participou de jantar no Palácio Jaburu com o então vice-presidente para falar de doações ao PMDB, aumenta sobremaneira o desconforto de Temer, – mesmo com a ressalva de que não se tratou de valores, o que teria sido acertado entre um ex-diretor da Odebrecht e Eliseu Padilha, hoje Chefe da Casa Civil de seu governo.
Delação fim do mundo
Frisando que o depoimento de Marcelo foi sigiloso, é certo que afora o divulgado via vazamentos, muito ainda está por vir. Condenado a 19 anos e 4 meses de prisão, além do que revelou na delação (cujo teor não se sabe) outros 70 executivos da Odebrecht fizeram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal, prevendo-se, portando, um volume gigantesco de denúncias.
Apelidada de “Delação fim do mundo”, sabe-se que foram apresentados nomes de cerca de 200 políticos de mais de 20 partidos envolvidos no esquema de propina. A delação da Odebrecht é o maior acordo de colaboração premiada do mundo.
Dúvidas
Com tanta gente envolvida, muitos dos quais integrantes do primeiro escalão do governo e o nome do presidente Michel Temer sendo citado, paira a interrogação sobre como ficará o País se forem aceitas denúncias contra boa parte dos que estão sendo mencionados.
Câmara, Senado e governo terão mecanismos para substituir os que eventualmente virarem réus e venham a ser condenados? Na condição de réus, quais poderiam se manter nos cargos até a sentença definitiva? Seriam antecipadas as eleições? Em que bases o Brasil resistiria a um novo trauma, tão próximo ao difícil período do impeachment de Dilma?
São muitas dúvidas e o receio de que o remédio, na dose que se impõe para vencer a doença, acabe virando veneno.
Saídas
O horizonte não mostra alternativas, senão penosas. Fazer um acordão sob o pretexto (ainda que plausível) de não rachar o País, espécie de pacto pró-governabilidade, não dá mais. Já se foi muito longe para isso.
Seria o mesmo que dizer que as transgressões imputadas ao PT e que custaram o mandato presidencial, quando caem para o lado do PMDB não têm o mesmo peso... não contam.
Além disso, a sociedade se sentiria ainda menos representada do que já vem sinalizando – o que só aumentaria a insatisfação popular e a descrença, hoje crescente, no regime democrático.
Lava Jato, 03 anos
Por fim, é grande a expectativa de que no decorrer de 2017 a Lava Jato, que completa três anos no próximo dia 17, dê um desfecho à Operação ou, quando pouco, conclua boa parte as investigações que vem realizando.
A crise econômica não será vencida sem estabilidade política. Logo, o novo cenário pós-delações e julgamentos precisa vir logo e mostrar quem fica e quem sai do palco político brasileiro.
Em maio, o ex-presidente Lula vai ser interrogado pelo juiz Moro sobre o tríplex... O futuro do petista começa a ser definido.
De uma vez por todas é necessário esclarecer se Aécio Neves, candidato em potencial a presidente pelo PSDB, recebeu ou não dinheiro de caixa 2 como diz delator.
E o Planalto, depois do depoimento de Marcelo Odebrecht, passou a considerar forte o risco de cassação de Temer caso a chapa Dilma/Temer não seja separada, ao menos no tocante à responsabilidade sobre as contas de campanha.
Logo, 2017 promete.
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