Da vila de São Salvador à cidade de Campos dos Goytacazes já se passaram exatamente hoje 182 anos. As ruas estreitas e os prédios históricos contrastam com avenidas largas e “arranha-céus” modernos. Um município que vai do campo, que luta para se recuperar, à pujança em alto mar com a produção de petróleo e ainda com perspectiva de crescimento ancorada nos complexos portuários de Farol-Barra do Furado, Açu e Presidente Kennedy, no estado vizinho do Espírito Santo, que também atenderá às demandas da Bacia de Campos. Uma cidade que cresce apostando na renovação sem esquecer suas raízes. Parabéns, Campos!
De vila à cidade, muitas histórias para se contar
Campos dos Goytacazes completa 182 anos de elevação de vila à categoria de cidade hoje. O município, que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), possui população de quase 500 mil habitantes, é a mais populosa cidade do interior fluminense e tem a maior extensão territorial do estado do Rio de Janeiro. Para comemorar a data, parte de sua história é contada em exposição que está aberta ao público no Museu Histórico da cidade.
E a história de Campos é longa. As terras dos índios goytacazes começaram a ser colonizadas pelos portugueses no ano de 1627, com a chegada dos “sete capitães”. O território pertenceu à capitania de São Tomé e se tornou, 50 anos depois, em 29 de maio, a vila de São Salvador dos Campos. Em 1833, foi criada a Comarca de Campos e, dois anos depois, mais precisamente no dia 28 de março, a vila foi elevada à categoria de cidade com o nome de Campos dos Goytacazes, dando início ao progresso na região. A implantação de energia elétrica ocorreu na era de Dom Pedro II, no ano 1883. Por ter sido uma cidade de grande importância, e também por conter uma usina termoelétrica a vapor, Campos foi a primeira cidade a receber energia elétrica do Brasil e da América Latina.
A historiadora e professora Sylvia Paes ressaltou a importância da data. “É formidável comemorar a elevação, o reconhecimento do crescimento desta vila. Inclusive, há uma confusão grande entre a data de fundação, que é 29 de maio, e o dia de comemoração da elevação à categoria de cidade, 28 de março. Esta data é importante porque é a lembrança de que esta vila cresceu e se transformou num espaço econômico, social e politicamente bastante atrativo para a então província do Rio de Janeiro, hoje Estado do Rio, sendo hoje o maior município do estado e o mais rico economicamente”, ressaltou Sylvia.
As riquezas da cidade são diversas. O mar de Campos detém as maiores reservas de gás natural e petróleo do país. A cidade também concentra a maior parte das indústrias cerâmica e sucroalcooleira fluminenses.
Também são diversos os atrativos e monumentos históricos que representam sua tradição cultural, como o Museu Histórico da cidade, o Arquivo Público, o Teatro Trianon e a Casa de Cultura Villa Maria, além de seus movimentos culturais de grande história, dentre eles a Mana Chica, o Jongo e a cavalhada de Santo Amaro. Na culinária, junto com sua cachaça e com a goiabada cascão, o suspiro e o chuvisco são famosos em toda a região.
Exposição — Em comemoração aos 182 anos, a cidade reabre a exposição “Achados Arqueológicos sobre o Sítio do Caju”, no Museu Histórico. A mostra conta a história dos índios goytacazes, que foram os primeiros habitantes do município. No dia de seu aniversário, o museu ficará aberto das 10h às 20h. Ainda hoje, haverá palestra, também no Museu, sobre melhoramentos urbanos. Ambos os eventos são abertos ao público.
Plano de Mobilidade Urbana é meta para cidade melhorar
Quem vive em Campos ou busca a cidade diariamente para trabalhar e como polo de serviços sabe que ela está se expandindo, assim como conhece também as dificuldades enfrentadas no trânsito. A estruturação do município nos últimos anos não acompanhou a velocidade do crescimento, principalmente no que diz respeito ao tráfego de veículos. Neste contexto, o Plano de Mobilidade Urbana está entre os principais objetivos do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT).
O assunto já começou a ser discutido dentro do Plano de Metas do prefeito Rafael Diniz para a gestão 2017-2020, que está entrando em sua fase final. O superintendente municipal de Planejamento, Marcel Cardoso, e o presidente do IMTT, Renato Siqueira, já têm se reunido e discutido algumas ações, que já vêm sendo implementadas dentro do eixo Acessibilidade e Mobilidade. O Plano de Metas será apresentado na Câmara Municipal e, em abril, serão realizadas as audiências públicas no município, conforme prevê a Legislação.
— Estamos mapeando trajetos de ônibus e vans, fazendo o levantamento da malha cicloviária e, ainda, dando uma solução para todos os semáforos que apresentavam problemas, através da instalação de nobreaks e reprogramação destes sinais luminosos em pontos estratégicos — afirma Renato Siqueira.
Ele destacou, ainda, a implementação do Plano de Mobilidade Urbana do Município e mudanças para a BR 101 que visam desafogar o trânsito, principalmente com a retirada do tráfego de veículos pesados de dentro da cidade. O assunto foi tema de um encontro na semana passada entre o prefeito Rafael e representantes da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em Brasília.
— Há também a análise de um projeto da Autopista Fluminense para a área urbana da BR 101, onde estamos sugerindo que sejam feitas intervenções nos acessos do Shopping Estrada, Shopping Boulevard, Margem da Linha e Tapera. Também estamos adotando medidas em relação ao tráfego de caminhões pesados, vindos do Porto do Açu, na área urbana do município e, ainda, garantindo benefícios para o município, através de contrapartidas de construtoras que estão com empreendimentos em Campos — destacou Siqueira.
Alternativas ancoradas em portos
É ainda da produção de petróleo e do comércio que vive a maior parte da economia de Campos, mas a perspectiva de novas alternativas de investimento já movimenta o governo municipal que articula para a retomada das obras do Complexo Portuário Farol-Barra do Furado. O projeto, em parceria com a Prefeitura de Quissamã e o Governo do Estado, prevê ainda um Terminal Pesqueiro, cuja ideia é transformá-lo em um Distrito Industrial de Pesca, quando o empreendimento for retomado.
Apesar de não estar territorialmente em Campos, o Porto do Açu também é hoje um impulsionador da economia da cidade. Além da geração de emprego, o local serve de apoio para as empresas que atendem à Bacia de Campos, tendo ainda potencial de motivar uma nova modalidade na agricultura do município, que é a produção de soja para exportação através do porto. Produtores de grãos já têm se reunido em Campos e estão de olho em áreas para o plantio.
Com o objetivo de se livrar da chamada “royalties dependência”, uma das propostas do plano de governo do prefeito Rafael Diniz, a secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campos já se articula para retomar as obras do Complexo Industrial Offshore de Farol- Barra do Furado e aumentar a renda própria do município. As obras foram iniciadas em 2011 e interrompidas em 2014. “Conseguimos convencer a empresa que realizava as obras a não processar a Prefeitura devido a uma dívida de R$ 36 milhões do governo anterior. Pedimos um crédito para a administração Rafael Diniz e foi aceito. Um executivo da empresa até se comprometeu a nos ajudar na busca por parceiros”, explicou o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Victor de Aquino.
As prefeituras de Campos e Quissamã tentam renovar, em Brasília, um convênio superior a R$ 300 milhões, buscando parceiros para retomar o projeto. Apenas uma empresa, a Brasil Offshore, segue na área do empreendimento. O prefeito Rafael Diniz e a prefeita quissamaense, Fátima Pacheco, já se reuniram algumas vezes para tratar sobre o assunto. Em um desses encontros, Diniz reafirmou o compromisso de concentrar o máximo de esforço pelo reinício imediato das obras. “Estaremos buscando possíveis alternativas para um dos mais graves problemas de Campos, que é a falta de emprego. É uma satisfação muito grande discutir a retomada de um projeto tão importante. Por isso, sempre me coloquei ao lado da prefeita Fátima, pensando no desenvolvimento das nossas cidades e, principalmente, da região”, afirmou.
Pesca — Já o projeto do Distrito de Pesca deverá ser viabilizado a partir de parcerias que possam ser firmadas com empresas do setor pesqueiro que se mostrem interessadas em se instalar na área. De acordo com o secretário Victor de Aquino, a proposta é agregar valores à atividade pesqueira. “Não temos uma noção do volume da produção de pescados da nossa região. Com certeza, há um desvio de grande parte para a venda clandestina em outros centros consumidores. Com isso, a nossa cidade acaba deixando de arrecadar impostos e perde recursos. Acreditamos que um Distrito Industrial de Pesca, com o processamento de nossos pescados e de toda região, poderia mudar isso”, avalia Aquino.
Vizinho — Além do Açu e Farol- Barra do Furado, Campos deve se beneficiar com a construção do Porto Central, no município de Presidente Kennedy, no Espírito Santo, mas bem perto da divisa com o município. O ministério dos Transportes assinou termo de adesão para início das obras na semana passada, em Brasília. A previsão é que na primeira fase da construção sejam gerados cerca de 4,7 mil empregos.