Já foi tempo que o folião buscava as máscaras de políticos para pular o Carnaval. Em 2017, as vedetes, em outros carnavais, estão em baixa entre os foliões. Na vida real, longe da fantasia, os políticos estão em baixa, com série de prisões e envolvimentos em escândalos como o da Operação Lava Jato. Em Campos, o comércio de fantasia resolveu por não investir nem R$ 1 em máscara de políticos, diferente de outros anos, quando eram encontradas máscaras do casal Garotinho e dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
Quem andou um pouco mais e foi até as famosas ruas da Saara (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), no Centro do Rio, ainda encontrou fantasia do juiz Sérgio Moro, responsável pelas prisões de políticos pelo país. Alguns comerciantes ainda tentam vender os encalhes de outros carnavais com preços menores, mas elas continuam nas prateleiras. Por outro lado, como é típico dos brasileiros, no quesito irreverência, a nota é 10. E as vendas explodiram mesmo foi com as fantasias de presos, com nome de gente famosa no campo político, como o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e sua mulher Adriana e o empresário Eike Batista.
Com uma cesta cheia de fantasias, a professora Camila Mota, 30 anos, quando questionada se sentiu falta das famosas máscaras de políticos de outros carnavais, ela logo respondeu: “Nem observei que esse ano não tem as máscaras de políticos. Estou tão envolvida no clima que até esqueci os problemas envolvendo a política nacional. Se bem, que Campos tem confusão política sempre, independe de ano de eleição ou não”.
Uma atendente da loja, quando questionada sobre a falta da mercadoria, disse que o dono do comércio não quer saber de política.
Se as carinhas dos políticos estão em baixa, suas atitudes nada louváveis estão em alta. E servem de inspiração para as marchinhas de carnaval. Os políticos e a Operação Lava Jato — que já se tornou a maior investigação em curso no Brasil contra a corrupção — são temas preferenciais nas letras das músicas lançadas pelos blocos.
O presidente Michel Temer, por exemplo, é o personagem tema da marchinha Presidento Transilvânia, que se mudou para “uma capital onde o terreno é fértil para o mal”. O ritmo inicial é o da marcha fúnebre, e a letra diz que o presidente buscou no cemitério os integrantes de seu ministério. Na música, Dilma Rousseff é tratada como uma “vítima inocente”. “Difícil não temer, o terror está no ar”, “vai buscar alho”, recomenda a música. Essa é só um exemplo.
Garotinho faz graça com “colegas” presos
Tem até político que ficou famoso na mídia, em espetáculo para não ser preso, fazendo gracinha em rede social com os “coleguinhas da política presos” e a vestimenta de carnaval. Em seu blog, o ex-governador Anthony Garotinho, proibido de pisar em Campos por ser investigado no escandaloso esquema de compra de votos com o Cheque Cidadão, também resolveu fazer graça. “No carnaval deste ano não faltarão foliões usando camisas de presidiário de Cabral, Adriana Ancelmo e Eike, outros vão de máscara de Sérgio Moro. O juiz Marcelo Bretas ainda não é muito conhecido, mas certamente no carnaval de 2018 também será homenageado com uma máscara. E estão aparecendo várias versões de marchinhas que falam da roubalheira de Cabral e Pezão”, escreveu. No comércio, as máscaras de Garotinho e de sua mulher a ex-prefeita de Campos, Rosinha, saíram de moda.
Como Garotinho comentou, no comércio Carioca, entre as camisas de super-heróis, os foliões ganharam como opção uniformes usados por Sérgio Cabral, Eike Batista e Adriana Ancelmo no Complexo de Gericinó, em Bangu, onde estão presos.
A mercadoria, inspirado na blusa verde usada pelos detentos dos presídios de Gericinó, é vendida a R$ 30. Os uniformes são estilizados com os nomes dos presos.
Moro é destaque e supera os políticos
Até pesquisa para atestar quem está em alta e quem está em baixa, no mês do Carnaval foi realizada. Uma sondagem recente feita pela Ipsos — a terceira maior empresa de pesquisa e inteligência do Brasil — sobre a imagem de personalidades na alta arena pública dá uma dimensão da preponderância do Judiciário sobre a política tradicional.
O instituto pediu aos entrevistados avaliações sobre 20 figuras de destaque. As três com maior taxa de aprovação são da magistratura. Pela ordem: o juiz federal Sergio Moro, titular da Operação Lava Jato na primeira instância, líder isolado com 65% de resultado positivo; o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão na corte, com 48%; e a atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Cármen Lúcia.
A pesquisa, financiada pela própria Ipsos, segundo a empresa, foi feita entre os dias 1º e 11 de fevereiro com 1.200 entrevistas, o que dá uma margem de erro de 3 pontos. No ranking de aprovação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-ministra Marina Silva apareceram tecnicamente empatados com Cármen Lúcia, mas numericamente atrás da ministra. O petista com 31% e a fundadora da Rede com 28%.
Quando a questão é desaprovação, o presidente Michel Temer (PMDB) é a terceira figura com a pior imagem, com 78%. Ele só perde para o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com 89% de desaprovação e para o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), com 82%. A ex-presidente Dilma e o senador Aécio Neves também não ficaram bem no levantamento. Aparecem com 74% de desaprovação.
Desse grupo, o único que deve dar as caras na folia será o juiz Sérgio Moro, segundo o comércio popular de fantasia.